04 - Sonho

Estava distraído olhando as fotos de Eduarda expostas na estante, e uma dela segurando um diploma me fez sorrir bobo, seu sonho sempre foi fazer faculdade e se formar, eu só estava surpreso por ela ter escolhido arquitetura. Ainda nenhum de nós tínhamos nos pronunciado sobre nossa duvida se era verdade ou não que Eduarda tinha um filho, porém uma foto em sua estante dela com o rosto grudado á uma criança ambos com sorrisos idênticos me fazia ter quase certeza de que outra vez Duda me surpreenderia em já ter um filho, o sorriso daquela criança na foto me encantou e no mesmo instante eu arrepiei-me por completo. Ouvimos o barulho de um carro e seu Pedro disse que era Eduarda, ela demorou um pouco a entrar e quando a porta se abriu vi um pequeno foguetezinho rindo e logo Duda o agarrou o parando.

Aquela criança... era o mesmo garotinho da foto, e assim que o vi senti uma coisa estranha, olhei Duda e ela estava surpresa por todos estarmos ali e antes que um de nós questionasse sobre quem era aquela criança de sorriso largo ele gritou um “vovô” correndo para seu Pedro. Sim, Duda, a quem eu achava que conhecia perfeitamente quando sai daqui me deixou sem palavras ao saber que tão nova já tem um filho.

Algo em mim me fez puxar assunto com aquela criança, não sei, ele era o tipo de criança que nos cativa, e fui completamente pego de surpresa quando ele disse que Duda ficava triste ao ouvir minhas músicas, ainda tentava achar um motivo pra isso quando Bruna citou uma manchinha que o pequeno tinha igual á nós dois. Quanta coincidência!

Pedro: - Ê Arthur que conversa viu! Vai tomar banho porquinho, sua mãe ta esperando! Aliás Duda, a Laís ligou, espera você e o Arthur oito horas na pizzaria de sempre – avisou pra Duda que estava extremamente sem graça, toda vermelhinha

Arthur: - Pizza com a tia Laís? Oba! Vamos tomar banho logo mamãe – falou animado indo até Eduarda e a puxando

Duda completamente sem graça subiu as escadas com o pequeno que corria.

Amarildo: - Ela é mãe solteira? – questionou a Pedro que coçou a nuca visivelmente desconfortável com a situação

Pedro: - É. Mas é uma longa história, deixa pra outra hora. – fugiu educadamente e respeitamos, mesmo que outra vez eu estivesse ficado surpreso

*Eduarda Narrando

Subi as escadas quase correndo, estava com vontade de me suicidar de tanta vergonha, e de repente a fala de Bruna sobre a manchinha de Arthur me veio em mente, e enquanto eu o dava banho pedia a Deus que aquele comentário passasse despercebido por eles. O que diabos eles tinham que ressurgir e ainda aparecerem na minha casa?! Respirei fundo tentando me acalmar e me lembrei de Luan ao lado de Arthur, imediatamente meus olhos inundaram, era uma emoção e uma culpa contida, ver pai e filho conversando sem fazer a mínima idéia do tamanho da ligação deles fez minha consciência outra vez pesar.

Arthur: - Mamãe?

Eduarda: - Oi príncipe?

Arthur: - Você vai chorar de novo? – perguntou com os olhinhos serenos, e então forcei um dos meus melhores sorrisos pra ele

Eduarda: - Não meu amor! A mamãe não tem nenhum motivo pra chorar. Olha o garotão lindo que ela tem – fiz cócegas nele que ria me enchendo de água e sabão

Terminei de dar banho em Arthur e o vesti com uma calça jeans e uma blusinha de manga acompanhada do tênis novo que ganhou do avô que fazia todas as suas vontades. O deixei sentado na cama, jogando em meu tablet enquanto tomava meu banho, o que não demorou muito e logo já estava pronta com um vestidinho de renda branco.

Arthur: - Mamãe? – perguntou me olhando enquanto eu checava minha carteira

Eduarda: - Oi príncipe.

Arthur: - A irmã do Luan é bonitona né? Gostei dela! – disse inocente e eu ri revirando os olhos

Eduarda: - Pelo amo de Deus Arthur, volta pro seu joguinho! – ri

Minutos depois peguei na mãozinha de Arthur e descemos as escadas para irmos de encontro a Laís.

Enquanto ainda descia percebi o olhar continuo de Luan sobre mim, minha boca secou e pedi em pensamento á Deus que eu fosse forte, achei que não sentia mais nada por ele além de carinho, mas agora, vendo o olhar dele sobre mim e sobre meu filho, aliás, nosso filho, mil coisas tomaram minha mente.

Pedi desculpas gentilmente á eles por ter que sair, e com sorrisos eles disseram não ter problema algum. Me despedi com um aceno de mão, não tinha cara, nem coragem muito menos coração para abraçá-los. Quando estávamos abrindo a porta para irmos Luan chamou Arthur fazendo meu peito gelar. Arthur confuso foi até ele que o abraçou e disse algo em seu ouvido, não faço a mínima idéia do que seja, só sei que fiquei intrigada.

Sorri outra vez me despedindo e coloquei Arthur no carro.

Eduarda: - O que ele te disse?

Arthur: - Eu não posso falar!

Eduarda: - Arthur! – o repreendi e ele me olhou inocente

Arthur: - Eu vou te contar mamãe. Mas só depois de falar com o vovô!

Bufei e fiquei com aquilo na cabeça enquanto seguia rumo a pizzaria.

*Luan Narrando

Eu não conseguia nem por um segundo tirar o sorriso de Arthur, filho de Eduarda da minha mente. Já era duas da madrugada e a insônia e um sentimento desconhecido rondava meu peito. De repente a imagem de Duda e seu filho chegando naquela casa me veio em mente, e como em um filme, algumas cenas começaram a passar por minha cabeça.

~ Flashback On ~

“Luan: - Você tem certeza Duda? – sussurrei em cima dela, percebia seu olhar assustado, estávamos apenas á um passo de perdermos nossa virgindade e percebia mesmo no escuro o medo em seu olhar

Eduarda: - Tenho – sussurrou – Só... Vai com calma. Eu nunca fiz isso! – falou assustada e eu ri, como se eu não soubesse

Luan: - Eu sei amor. Eu também nunca fiz isso. Eu vou com calma. – beijei seu ombro

Eduarda: - Luan!

Luan: - Que?

Eduarda: - A camisinha!

Luan: - É a nossa primeira vez, relaxa, não vai acontecer nada. Fica tranqüila ta? Amo você!

E aos poucos o corpo dela foi relaxando abaixo do meu, e confesso, apesar de ter sido minha primeira noite com uma mulher, foi a mais especial de todas. Eu não fiz sexo com Eduarda, eu fiz amor com ela”

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“Luan: - Você realmente me amou Duda? – perguntei com um fio de voz, sentada ao seu lado no meio fio, sentindo um buraco sendo cravado em meu peito

Eduarda: - É claro que sim Luan! Aliás, eu amo! – afirmou com os olhos molhados –

Luan: - Então por que você não aceita Duda? – perguntei desesperado – Eu te prometo, o primeiro cachê bom que eu ganhar com esses shows eu vou vim te buscar Duda, eu juro! Eu sei que nosso namoro pode vencer a distancia

Eduarda: - Não é tão simples – abaixou a cabeça enxugando suas lágrimas – É o melhor Luan, vai viver sua vida, seguir seus sonhos, eu vou ficar bem e você também! Na minha situação eu só te atrapalharia – me olhou enquanto dizia com a dor em sua voz

Luan: - Que situação Duda? – questionei já impaciente – Você ta diferente comigo e isso você não pode negar.

Eduarda: - Me perdoa por tudo Luan, só isso que te peço! – disse caindo em um choro desesperado enquanto se deitava com a cabeça em meu ombro

Luan: - Duda! Você ta me deixando preocupado amor! – a abracei tentando encontrar motivos pro seu pedido de perdão

Eduarda: - Não fica, é bobeira minha!”

~ Flashback Off ~

Por que diabos eu fui lembrar disso só agora? Depois de tantos anos?! Eu nem se quer me lembrava de Duda até revê-la hoje, e agora, ela e seu filho ficarem atormentando meus pensamentos era o fim do mundo! Com certeza eu deveria apenas estar assustado. Duda não era metade da pessoa que eu imaginava que fosse, pelo tamanho do pequeno Arthur, ela mal esperou eu ir embora para engravidar de um playboy qualquer!

Fechei meus olhos e me lembrei da musica que compus para á pedir em namoro, não só Amor Além da Vida como tantas outras que compus pra ela. De todas as mulheres, de todas minhas namoradas, não posso negar, Duda foi minha maior musa inspiradora para canções. Talvez pelo fato de ter vivido nosso amor na adolescência, onde tudo é mais intenso, ou talvez pelo fato de que eu jamais amei outra mulher como á amei.

E assim, com milhões de coisas rondando minha mente acabei adormecendo, porém algumas horas depois acordei completamente suado, coração na boca e o peito apertado.

“Eduarda: - Você tem que me perdoar Luan! – gritava aos prantos – Eu fiz tudo pensando em você! Acredita em mim!

Luan: - Pensando em mim? Você não passa de uma egoísta Eduarda, e que agora quer ganhar as minhas custas! – gritei nervoso

Eduarda: - Eu não quero nada, absolutamente nada a suas custas! Se eu quisesse não teria te escondido ele por sete anos Luan. S-e-t-e anos! – repetiu apavorada

Luan: - Você é uma egoísta Eduarda, eu nunca vou te perdoar!

E de repente, quando olho pra porta vejo apenas um par de olhos pequenos, porém esbugalhados nos olhando assustados”

Aquele sonho, ou melhor, aquele pesadelo não me deixou pregar os olhos novamente, e por todo o resto da noite eu me peguei pensando: O que diabos aquele sonho significava?

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Huuum, lembranças, sonhos, culpa.... Será que alguma dessas coisas vai fazer um deles se tocarem? Luan irá desconfiar de algo? Duda irá fazer algo á respeito?

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