101 - Um pedacinho de nós

Duda: - O que foi? - olhei pra baixo por instinto e vi sangue escorrer junto com a água

Luan: -  Menstruação não desce na água né?! Meu Deus do céu, cê ta sangrando, vem cá! - olhei assustada pro Luan, a cor do sangue não era a cor típica do sangue da menstruação, e sim um vermelho mais vivo. Antes de raciocinar Luan já me levava pro quarto com cuidado, comigo apoiada nele.

Duda: - Pega um absorvente pra mim - pedi envergonhada e ele meio desnorteado foi até minhas gavetas

Luan: - Não Lua, no banheiro!

Luan foi e voltou em um segundo, me vesti com a ajuda dele, eu não sabia nem o que pensar sobre o sangramento. Só sei que não era normal, minha cólica estava muito forte e eu temia tudo isso ser algum problema no meu útero ou ovário

Duda: - Ta doendo demais! - falei pra Luan segurando o choro

Luan: - Vamos no hospital amor, tô agoniado com isso já, tô com um pressentimento ruim - passou a mão no cabelo e eu fiquei com mais vontade de chorar ainda - Não, não leva a sério o que falo, eu... é coisa de doido, vem aqui, vou te ajudar e descer as escadas, você dá conta?

Duda: - Preciso dos meus documentos. Pega minha certeira que tá tudo lá

Luan pegou e ao descer as escadas ele não teve paciência ao meu jeito de vagar de andar por conta da dor, me pegou no colo e saiu comigo, quando ele destravava o carro vi um carro branco estacionar na porta de casa, Luan me colocou dentro do carro e foi trancar a porta, vi Bruna correr até o irmão, Luan assim que viu ela parece á ter explicado por alto que estava acontecendo e em segundo ela entrou no carro.

Bruna: - Você ta bem Duda? Nossa você ta pálida, olha, respira - dizia tão agitada como o irmão

Duda: - Ta doendo muito!

Bruna: - O que você fez com ela Luan?

Luan: - Eu? Eu não fiz nada!

Bruna: - Ela ta sangrando por aquele lugar Luan, e não é menstruação, e o único que entra naquele lugar imagino que é você!

Luan: - Eu não fiz nada porra, a gente nem fez nada hoje. Acha que eu iria machucar ela assim?

Duda: - Da pra vocês dois pararem com esse assunto constrangedor?! - pedi de olhos fechados pedindo a Deus para aquela dor não ser nada demais

*Luan Narrando

Chegamos e Duda foi rapidamente atendida, não sei de onde Bruna surgiu, mas eu estava aliviado em não estar ali sozinho.

Bruna: - Ela tá com essas cólicas fortes desde o Pantanal né?

Luan: - É. - passei a mão no cabelo inquieto

Bruna: - Será que é mesmo cólica Luan?

Luan: - Não sei Bruna, eu não tenho um útero.

Bruna: - Sem educação! Eu só tô preocupada.

Luan: - Tô sentindo uma coisa tão ruim Pi! Cê sabe como eu sou tranquilo, é só um sangramento, não era pra eu estar assim, mas tô com um pressentimento ruim.

Bruna: - É coisa da sua cabeça Pi. - passou a mão em minhas costas - É por que você gosta muito dela, por isso tá assim, não vai ser nada demais. Pode ser um cisto também....

Luan: - É...

Fiquei ali por quase uma hora sem notícia alguma, já estava ficando agoniado, Bruna tentava me entreter com algumas imagens engraçadas do whtsapp, mas nada que me fizesse esquecer minha lôra. Quando eu já quase arrancava meus cabelos um homem médico com aparência de uns quarenta anos se aproximou, fui até ele de imediado perguntar por Duda.

Médico: - O senhor é o que dela?

Luan: - Namorado.

Médico: - Bom, a gente pode conversar na minha sala?

Luan: - Po..pode!

Olhei pra Bruna que parecia tão curiosa quanto eu, segui o médico e fiz a leitura labial da minha irmã dizendo pra eu lhe dar notícias.

Entramos na sala dele e nos sentamos.

Médico: - Bom, antes de tudo meu nome é Marcelo, sou clinico geral á doze anos e fiquei responsável pelo caso da sua namorada...  Maria Eduarda Campos certo? - olhou em uma ficha e eu assenti

Luan: - É. Ela estava sentindo muitas cólicas, a menstruação dela parece que veio desregulada e agora teve esse sangramento... Como ela ta?

Marcelo: - Certo... Ela me disse tudo isso também e eu não tenho uma notícia muito agradável pra te dar. Pelo que conversei com ela, nem ela mesma pensou nessa hipótese, e imagino que você também não, o que torna tudo mais delicado.

Luan: - É alguma coisa grave? - engoli em seco

Marcelo: - Sua namorada teve um aborto espontâneo Luan.

Senti-me ir no céu e voltar em um só segundo. Um... aborto? Mas.... Como? Ela... A gente...! Estava tudo bagunçado na minha mente e meu coração em um segundo ficou mais apertado que qualquer outra coisa no mundo.

Marcelo: - Quando eu dei á notícia á ela, ela ficou tão confusa quanto você...

Luan: - Ela.... Ela toma remédio! ....E ela não fez nenhuma extravagância pra perder o neném... ela... a gente nem sabia...

Marcelo: - Acredito eu que ela te acompanha nas viagens de vez enquanto, certo? - assenti - É correria, uma rotina que não é rotina... Numa dessas ela pode ter se esquecido de tomar o anticoncepcional... Ou até ter tomado na hora errada, tudo isso conta... E ele também não é 100% confiável Luan.

Luan: - Ela perdeu por que? - perguntei sentindo um nó na garganta

Marcelo: - A maior parte dos abortos espontâneos de inicío de gravidez é difícil encontrarmos o motivo, mas creio eu que a problema da Maria Eduarda foi uma gestação anembrionada, que é quando o embrião não chega a se desenvolver, e o corpo por si só decide não manter a gravidez e o expulsa do corpo.

Luan: - Como ela tá? - perguntei sentindo meu coração extremamente pesado, apesar de eu não saber da gravidez, era algo que Deus estava nos enviando, era outro fruto meu e de Duda, e que agora, sem termos se quer a chance de amá-lo, tinha ido embora

Marcelo: - Ela está passando pela curetagem, pra retirar os restos placentários do aborto. Ela ficou bastante abalada com a notícia, vocês planejavam uma criança?

Luan: - Não. Nós já temos um filho - sorri de canto e vi o médico arregalar os olhos

Marcelo: - Mas... nunca vi falaram na TV sobre isso... Não assisto muita TV também... Creio que agora ela vai precisar bastante da atenção e carinho seu e do filho de vocês. Por ela já ser mãe, a perca vai ser mais forte, imaginar que outra criança como a de vocês poderia vir... - suspirei assentindo - Quantos anos o filho de vocês tem?

Luan: - Sete.

Marcelo: - Ela foi mãe bem jovem! 15 anos... Estranho esse aborto agora.

Luan: - Ela tomou muito remédio pra cólica. Pode ter influenciado?

Marcelo: - Talvez... Mas não é só isso, foi espontâneo do corpo dela como te expliquei...

Sai daquela sala arrasado, de qualquer forma era um filho, e só de imaginar como Duda estava meu coração se apertava mais. Contei á Bruna que ficou tão surpresa quanto eu.

Bruna: - Deus sabe o que faz Luan. Não era pra ser, na hora certa virá - disse com os olhos marejados, me surpreendi por minha irmã ter se abalado tanto com a notícia, mas não era de se esperar menos, Bruna sempre foi muito delicada, muito sensível, e quando se trata de crianças isso se multiplica

Luan: - Ele mal começou  a se formar Bruna - sorri tristonho - É estranho sabe? Saber que nesses dias todo ela estava carregando um... outro filho nosso na barriga e nem sabiamos, e agora que não esta mais, ficamos sabendo... Por isso aquele sentimento tão ruim que eu estava - suspirei

Bruna: - Não fica assim - abraçou-me - Vocês não se previnem? - perguntou depois de um tempo

Luan: - Ela toma anticoncepcional. O médico acha que ela possa ter esquecido ou tomado na hora errada

Bruna: - É só esquecer de novo agora - sorriu e acabei rindo dela

*Duda Narrando

Meu coração estava pequenininho ao saber que fui incapaz de aguentar uma gestação. Isso se quer se passava em minha mente, nem planos para outro filho eu tinha, mas isso não quer dizer que eu queria perder um. É um filho, e fiquei imaginando caso isso acontecesse com Arthur. Minha vida seria completamente se cor, sem sentindo, e tenho certeza que se essa criança tivesse vindo, só me traria coisas boas, assim como Arthur. Porém tentava na dor da minha culpa, me convencer de que Deus sabia o que fazer. 

Já havia feito a curetagem e por não ter comido direito no dia estava no soro. Pensativa comas últimas horas mexia no lençol azul na cama tentando segurar as lágrimas quando Luan entrou no quarto. Olhei pra ela e foi ainda mais difícil segurar as lágrimas, seu olhar cabisbaixo denunciava que ele já sabia, e sem trocarmos uma palavra ele veio até mim, e me abraçou forte deixando um beijo demorado em minha testa

Luan: - A culpa não é sua amor! - sussurrou e me permiti cair no choro. Parecia que ele adivinhou o que se passava em meu coração  - Não era a hora meu bem, Deus sabe o que faz...

Duda: - Eu sei, mas dói Luan, poxa... Era uma vida, uma vida nossa que nem sabíamos, e que de repente não é nossa mais.

Luan: -Eu sei meu bem - me olhou nos olhos - Confia nas coisas que Deus faz. Essa perca tão rápida tem algum motivo. Vai tudo se acertar, eu te prometo! E ainda vamos ter mais quantos filhos você quiser

Abracei Luan novamente e ele enxugou minhas lágrimas, selou meus lábios de leve e me fez carinho, perguntou-me como eu estava me sentindo, seu olhar também era tristonho, mas ele parecia mais conformado. Algum tempo depois Bruna entrou e me deixou até sem jeito com tanto apoio, nem parecia a Bruna que não era chegada em mim. Muitas vezes não entendia os propósitos de Deus em minha vida. Essa perca é uma delas, mas em breve Deus vai me mostrar o por que disso tudo, e que talvez, sem esse momento tão delicado vivido agora, eu não teria todo o suporte e todas as pessoas necessárias para me ajudar a vencer situações futuras. Há males quem vem para o bem, e mesmo que doa, que eu não aceite, que eu queria tudo diferente, um dia, aceitarei que esse momento foi uma dessas metáforas. Mas enquanto nada muda, a minha recente ferida e de Luan continuam aberta, precisando mais do que nunca do outro agora, para cicatrizá-la. 

_________________________________________________________________
Muitas gente ai adivinhoooooou. Dudinha estava grávidaaaaaa!!! Mas infelizmente perdeu o neném :( Mas gravem bem issso "há males que vem par o bem" que em breve vocês entenderão o propósito de tudo isso. Enquanto isso não há como não sentir esse perca né? :( Quem entender e decifrar esse último parágrafo e comentar o que vem por ai e acertar vocês irão ganhar maratona ein? hahaha Beijoooo