98 - Conselhos

Não sabia o que meu pai queria, mas ele não é bobo e com certeza assim como todos ali, também sacou que há algo entre eu e Duda. Fui até ele que me chamou em um canto reservado, Duda já estava com ele e parecia tão surpresa quanto eu.

Amarildo: - Sentem-se

Eu e Duda nos entreolhamos impacientes e nos sentamos, meu pai permaneceu de pé, sua postura rígida, e sempre quando ele me lançava aquele olhar eu podia saber que vinha uma dura daquelas.

Amarildo: - Não quero me intrometer na relação de vocês, mas vejo que há muito tempo vocês estão precisando que alguém converse com os dois! - Eu e Duda nos mantivemos calados - Vocês já pararam pra observar o quanto brigam? Se passam uma semana juntos, metade delas é brigando!

Luan: - Pai...

Amarildo: - Não me interrompe Luan! Vocês tem que parar com isso! Tem que lembrar que vocês dois tem um filho pequeno juntos, e isso em hipótese alguma faz bem á ele, mesmo que sempre vocês façam as pazes. Você alguma vez quando tinha a idade do Arthur me viu brigando com a sua mãe Luan?

Luan: - Não! - abaixei a cabeça

Amarildo: - Já você via isso constantemente na sua casa não é mesmo Duda? - ela assentiu - E o que você pensava quando isso acontecia? Mesmo que naquela época eles sempre voltavam.

Duda: - Pensava que eles iam se separar - disse baixo

Amarildo: - E você gostava de vê-los daquele jeito?

Duda: - Não! - murmurou

Amarildo: - Você gostaria de presenciar uma briga minha e da sua mãe naquela idade Luan?

Luan: - Não. - falei baixo

Amarildo: - A vida do Arthur já mudou de cabeça para baixo do dia pra noite, de repente ele ganha um pai, outra família, se muda se afasta de todo mundo... O fato dele não se abrir não quer dizer que ele não sinta-se mal com isso. Ele é só uma criança, não têm que lidar também com a briga de vocês. Vocês estão entendendo o que estou querendo dizer? Eu só quero o bem pros três,  e acho que já estava passando da hora de alguém dizer algumas coisas pra vocês.

Duda: - Eu entendo Amarildo, o senhor tem razão. - disse com a voz baixa, continuei quieto no meu canto

Amarildo: - Eu sei que todo casal briga, tem suas desavenças, mas as de vocês são demais não acham? - ficamos calados - E pelo que percebi o motivo é sempre o mesmo: ciúmes!

Luan: - Pai, não vamos entrar nesse assunto, o senhor já nos aconselhou e...

Amarildo: - Eu vou entrar sim nesse assunto! Quero aconselhar agora antes que seja tarde demais! - disse firme e vi Duda mexer no cabelo incomodada - Olha, ciúmes é normal em relação, quem ama cuida, tem medo de perder... Mas chega á um ponto que o ciúmes estraga tudo. Sufoca, atrapalha, deixa ambos loucos! Há uma grande diferença entre o ciúmes e a falta de confiança, e entre esses dos á algo chamado respeito, e temo que vocês tenham ultrapassado essa linha um pelo outro! Você Luan - levantei a cabeça o olhando - Você não é assim! Nunca sentiu esse ciúmes por nada e nem ninguém! Não acha que ta na hora de tentar mudar isso? Se controlar mais?

Luan: - Eu tento pai, mas ela provoca - respirei fundo mexendo no meu cabelo e vi Duda me olhar

Duda: - Eu te provoco? Poxa Luan, eu tava apenas conversando com o seu amigo e você já veio insinuar coisas.

Luan: - Você sabe que eu morro de ciúmes e fica de papinho e risinho por ai - olhei pra ela

Duda: - E por que eu tava falando com ele Luan? Por que você me deixou de lado!

Luan: - Te deixei de lado? Eu só tava conversando com os meus amigos! - eu e ela conversávamos nos olhando, porém sem alterar a voz

Duda: - E conversando sobre o que Luan? Você acha que não me magoa você ficar contando vantagem por ai de todo mundo que já pegou?!

Luan: - É meu passado Duda, não tenho como mudar!

Duda suspirou e passou a mão no cabelo e olhou meu pai, que finalmente se sentou e pegou na mão dela.

Amarildo: - Olha, não faço idéia do que ele tenha falado, mas como ele disse é o passado dele. Ninguém vai mudar isso nem que queira. Ele não perdoou você o ter escondido o Arthur? Perdoa também essas bobeiras dele. Homem tem disso de ficar relembrando essas coisas. Não tô dizendo que ele ta certo, só tô dizendo que tudo o que fizeram no passado têm que ser perdoado e aceito, não há mais nada o que fazer.

Duda: - Eu sei seu Amarildo, eu não quero mudar nada também, só queria que Luan respeitasse ao menos quando estivermos juntos. Eu não saio contando pros quatro cantos os meus relacionamentos de quando não estavamos juntos.

Luan: - Relacionamentos? No plural? - disse um pouco assustado, mas que porra é essa que ela não me contou? Ouvi meu pai dar um risinho e negar

Amarildo: - O problema de vocês é dar muita atenção pra coisas do passado. Olha, vocês dois são adultos, o que eu tinha que falar eu já disse. Só aviso uma coisa: mudem esse ciúmes que um tem do outro. Se confiem mais, amor nenhum aguenta isso. Se não querem dar o braço a torcer, fazem isso pelo filho de vocês!

Meu pai deu um tapinha na minhas costas e sorriu de leve pra Duda. Ele saiu nos deixando a sós, Duda suspirou e firmou os cotovelos no joelho, escondendo o rosto entre as mãos. Também apoiei meus cotovelos na perna e á olhei.

Luan: - Teve mais alguém? - o olhei curioso, um pouco incomodado, Duda tirou a mão do rosto sem entender - Além do João Pedro... - expliquei-me e ela olhou-me incrédula - Ué, você que disse no plural e...

Duda: - Você não ouviu nada do que o seu pai disse né? - negou incrédula

Luan: - Claro que ouvi! E também concordo nisso de confiança. Você deveria confiar mais em mim, o que eu falo nem sempre condiz com minhas atitudes. Se eu falei ou não de quem peguei ou deixei de pegar isso não importa

Duda: - Então assume pra mim o que você disse - pediu olhando-me chateada

Luan: - Duda...

Duda: - Eu ouvi você dizer Luan!

Luan: - E no que isso vai mudar? Esquece isso, eu já esqueci o lance do Marquinhos.

Duda: - Lance da sua cabeça né?

Luan: - Da minha cabeça nada, era o que dava a entender aquela intimidade toda vocês - olhei pra frente irritado

Duda: - Já vi que a gente não vai se entender hoje - levantou-se e eu á olhei calado, e logo á vi se afastando

Respirei fundo e passei a mão no meu rosto. Outra vez fiz tudo errado. Fiquei o resto da noite no meu canto, não aguentava mais ver peixe, era só isso que eu tinha comido nos últimos dia e meu estômago chegou a embrulhar quando vi uma das pizzas de peixe que minha mãe havia feito. Apesar de eu amar, não aguentei nem sentir o cheiro.

Bruna: - Não vai comer Pi? Que milagre é esse? Ta uma delícia!

Luan: - Não aguento nem esse cheiro de peixe mais - fiz careta e todos riram

Matheus: - Ué, o que aconteceu com o pescador?

Luan: - Enjoou!

Douglas: - Ih, foi só ficar famoso que ficou enjoado? - brincou me tacando um palito de dente

Sentada no chão mesmo, um pouco afastada Duda tinha o Arthur em suas pernas e o ajudava, sorri da cena, ele não tinha idade mais pra isso, mas era lindo o cuidado de mãe dela. Duda então  deu um beijo na bochecha dele e levantou-se e saiu dali me deixando sem entender.

Não fui atrás dela e fiquei quieto no meu canto, quando todos já terminavam de comer vi Duda vir em minha direção com um prato. Eu estava varado de fome e meus olhos quase brilharam ao ver que não era peixe, fiquei um pouco sem jeito e surpreso quando ela me entregou o prato. Todo mundo começou a zoar e a fazer graça me chamando de mimado e elogiando Duda, dizendo que essa era a mulher dos sonhos. Apesar da sua atitude Duda se quer sorriu pra mim, apenas riu das besteiras que falaram.

Comi de bom grado o arroz branquinho com vinagrete e um espetinho, que ainda iriamos assá-los amanhã. Não posso negar, a comida de Duda é uma das melhores da vida.

Luan: - Obrigado - sorri de canto pra ela que apenas assentiu

Depois de comer bateu aquele sono de sempre, procurei Duda com o olhar e ela estava deitada em um colchão de ar junto com Arthur e Bruna. Arregalei os olhos, essas duas são bipolares.

*Duda Narrando

Bruna: - Não melhorou a cólica?

Duda: - Ah, é aquela dorzinha chata contínua sabe?

Bruna: - Credo! Quer outro remédio?

Duda: - Não, já tomei bastante esses dias, não adianta mesmo - dei de ombros

Bruna: - O Luan não para de olhar pra cá. O que conversaram? Ainda estão brigados né?

Duda: - Sei lá. Nem eu entendo a gente. E seu pai deu uns conselhos pra gente.

Bruna: - Ele é o melhor né?

Duda: - É. - sorri

Arthur: - Vocês duas estão bem? - olhou de mim pra tia e franzimos o cenho sem entender

Bruna: - Estamos príncipe, por que?

Arthur: - Bem que meu pai diz que são doidas. Eu não entendo vocês. Não dá pra saber se se odeiam ou se são amigas.

Eu e Bruna caímos na risada, nem nós sabiamos ao certo, mas estavamos nos entendendo.

Ficamos conversando e relembrando algumas coisas do passado o que nos arrancava risada, e quando fomos notar, Luan, Amarildo e Marizete nos encaravam juntos, sem entender nada mas rindo de nós.

Bruna: - Eu não vou conversar com você mais não, olha como eles nos olham

Duda: - Concordo viu! - ri

Bruna: - Ei, você ta me devendo aquele brigadeiro...

Duda: - Não tem as coisas pra fazer aqui.

Bruna: - Se eu for esperar até a gente chegar em São Paulo já vamos ter brigado e estaremos se odiando de novo...

Duda: - Verdade! - falei pensativa


Bruna Paiva logo se juntou a nós e três mulheres reunidas dava apenas palhaçadas. Uma ventania louca começou, Luan pegou Arthur que já cochilava no colo e o levou para nosso quarto, todos aproveitaram o clima pra dormir, e Bruna que estava um pouco elétrica pela bebida alcoólica me convenceu a ficar com ela e Paiva no quarto conversando mais um pouco.

Quando vi já se passaram algumas horas, acho que esse foi o máximo que eu e Bruna conseguimos ficar sem nos estranhar, e confesso que ela era mais legal do que eu lembrava. Riamos de um dos desastres amorosos de Bruna quando bateram a porta, nos calamos e como uma boa bêbada Bruna escondeu sua garrafa e copo de vodka entre as cobertas. Gritamos para entrar e Luan com um semblante de cão sem dono colocou o rosto dentro do quarto.

Luan: - Oi - sorriu pras meninas - É... você já ta vindo dormir Duda? - disse um pouco sem jeito

Bruna: - Ela vai dormir comigo hoje Pi, nossa, nunca ficamos tanto tempo sem brigar, isso é inédito - disse extremamente feliz e Luan enrrugou a sobrancelha desconfiado da irmã

Luan: - Para de graça - riu e me olhou - Vem dormir, deixa essa bêbada ai.

Duda: - Depois eu vou - falei mexendo no lençol da cama, sem encará-lo. Ouvi Luan suspirar e sair d quarto

Bruna Paiva: - Tadinho, ele queria fazer as pazes!

Duda: - Você acha?

Bruna: - Tenho certeza. Vai lá logo, e aproveita e realiza o desejo desse menino por que não aguento ele toda vez bêbado falando a mesma coisa! - disse colocando mais vodka em seu copo

Duda: - Que desejo?

Bruna: - De comer alguém aqui, com esse balançar que ta me deixando tonta. Vai logo Duda, olha, você é muito lenta, por isso não damos certo. Anda, ta me olhando por que? Eu tô mandando você ir agora lá! E não esquece de fazerem amor, quero o Pi calminho amanhã pra  não me encher o saco com a ressaca que já estou prevendo sentir!

Taquei um travesseiro nela rindo e sai do quarto, podiamos até fazer as pazes, se essa for realmente a intenção dele caso ele não tenha se estressado por eu não ter ido com ele naquele momento, porém realizar o desejo dele era impossível com Arthur ali.

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Hummm., sogrinho conselheiro.... E essas cólicas da Duda, o que será isso? Será que nosso casal fará as pazes? Luan realizará o desejo dele ou terá mais brigas?