147 - Vivendo

Ainda estava vendo a repercurssão que a foto que eu havia postado estava dando. Ignorei as chamadas de Arleyde e Amarildo, concentrei-me apenas na tela do meu celular e nos comentários que em sua maioria perguntavam o que realmente ouvem e pediam para que eu e Luan ficássemos bem, lamentando o fim do nosso namoro. Mal elas sabiam que quem mais lamentava era eu. Começando a me emocionar com alguns comentários gigantescos cheios de palavras lindas, levei o maior susto ao ver uma das notificações:

Suspirei e por um instante desejei saber tudo o que ele se passou ao ler todo aquele desabafo um pouco desaforado. Mas limitei-me a me concentrar na demonstração de afeto genuína que eu recebia calorosamente de seus fãs em minha rede social. Claro que algumas comemoravam e me ofendias, criando hipóteses desrespeitosas para o nosso término. Mas essas eram minoria, que eu fazia questão de fingir não ver.

Aproveitei o celular em mãos e mandei uma mensagem á Bruna, pedindo para que ela trouxesse Arthur para mim. Sua resposta foi imediata: Luan disse que não. O filho dormiria com ele e amanha quando ele julgasse trazer, ela o traria. Bufei, e mesmo tentada a exigir meus direitos de mãe, preferi não causar mais discórdia, e usei o tempo livre para tentar esfriar minha cabeça. Quem sabe uma ida a academia ou uma caminhada pelo condomínio ajudasse.

Colocando o celular de volta no modo avião, ignorando completamente todas as ligações e mensagens das pessoas mais próximas a mim, coloquei meus fones no último volume e saí correndo em uma caminhada pelo condomínio. Quem sabe a exaustão física me livrava da minha exaustão mental.

*Luan Narrando

Paralisei com a audácia de Duda ao terminar de ler todo aquele texto que ela havia publicado. Nunca foi dela se expor tanto assim, e sua rapidez para isso só tornou mais nítido sua fome por fama. Quanta decepção. Suspirei encarando aquele olhar da foto. Quantas vezes me hipnotizei por eles, e com tanto encantamento acabei sendo chifrudo. Malditos olhos verdes que me deixaram louco. Meu pai e Arleyde piravam com a imprensa no pé, minha mãe parecia não ter engolido toda aquela história, quietinha no canto dela, absolta em seus pensamentos, nem parecia a Marizete que estava sempre pronta á um conselho doce.

Bruna e meu filho estavam por algum canto da casa se divertindo, absoltos por completo da confusão presente naquela sala.

Todo o sentimento que tomou conta ao terminar de ler aquela legenda e alguns comentários, fez-me lembrar de uma música que eu havia começado a compor quando vi que as coisas estavam erradas entre nós. Em um surto de inspiração, deixei todos na sala enquanto meu pai me chamava nervosamente e subi pro meu quarto. Mesmo me chifrando aquela filha da mãe ainda me inspirava a compor. Pegando meu violão procurei em meu celular o pedaço de música que eu já havia composto:

"Hoje eu notei suas falas
Tão vazias
Notei que no seu pensamento o meu amor não ia

Hoje eu notei seu silêncio
Me contou que eu iria
A qualquer momento eu ia distanciar da minha vida"

Suspirei ao ler aquele pedaço de música já pronto. Meu coração já sentia tudo antes mesmo de realmente acontecer. Como eu não impedi meu Deus? Como eu não me preservei?!

Com um suspiro que me doeu na alma cantei aquele pedaço de música com o acompanhamento do meu fiel violão. Fechei os olhos sentindo as lágrimas arderem minhas pupilas, e como em um passe de mágica, enquanto deixei meu celular gravando, as palavras surgiram. Apesar de doer relembrar de tudo, sabia que sairia uma canção linda. Única coisa positiva do chifre. Sempre me disseram e eu nunca acreditei, mas agora sinto na pele. Pouco menos de quarenta minutos depois, eu tinha o restante da canção, que quase me fez chorar ao relê-la:

"Prefiro que você vá embora
Não precisa de drama, vai, não chora
A gente é adulto o bastante pra entender que acabou

Meu fogo já não consegue quebrar teu gelo
Meu corpo já não sente mais os seus desejos
As minhas mãos assustam o toque dos seus dedos
Olhando em teus olhos eu não mais me vejo"

Ao fim da música, gravei um áudio á cantando e mandei para Dudu. Ele que se virasse com o resto. Já havia sido chifrado pra compor, a parte mais fácil era com ele.

Suspirei me jogando na minha cama e olhei o caos do meu quarto. Mas nada daquilo se comparava ao do meu coração. Bateram a minha porta, não respondi imaginando ser Arleyde ou meu pai surtando. Ao ver que eu não atenderia, ouvi a voz da minha irmã

Bruna: - Estou indo levar o Arthur pra Duda, ela pediu que...

Luan: - Ele não vai - interrompi-a levantando e abrindo a porta - Ele vai dormir aqui, e amanha quando eu quiser ele vai! - falei firme, Bruna suspirou e digitou a resposta em seu celular. Queria saber desde quando elas tinham essa intimidade

Bruna: - Você sabe que a gente tem que conversar né?

Luan: - Hoje não Bruna! Cadê o Arthur?

Bruna: - Ta no meu quarto! Ele tá todo quietinho hoje o dia todo. Ta até estranho

Luan: - Ele já sabe?

Bruna: - Não. Mas ele é esperto - suspirou

Passei a mão no cabelo e sem dizer uma palavra segui até o quarto de Bruna, abri a porta e senti o vento frio do ar condicionado. Logo vi meu pequeno deitado na cama, e apesar de passar um filme na TV, sua atenção estava todo em seus dedinhos pequenos que ele entrelaçava e soltava repetidas vezes.

Luan: - Filho? - o chamei baixo, ele ergueu os olhos e pela primeira vez na vida não abriu um sorriso ao me ver. Aquilo doeu em mim. Me aproximei e sentei ao lado dela na cama - Tá tudo bem garotão? - perguntei passando a mão em seu cabelo e ele apenas assentiu - Então por que tá quietinho ai? Esse não é você! Ta sentindo alguma coisa?

Arthur: - Eu quero a minha mãe. - murmurou sem me encarar

Luan: - Não quer passar o dia comigo? - perguntei tentando olhar em seus olhos. Arthur negou ainda sem me encarar - Ei, fala pro papai o que ta havendo... me parte o coração ver você triste assim cara

Enfim Arthur ergueu a cabeça e me encarou, era como se eu me visse á anos atrás ali frente á mim. Ele era idêntico á quando eu era criança.

Arthur: - Eu não quero que você namore a minha mãe mais! - falou sério, encarando-me nos olhos feito um homem. Franzi a sobrancelha. Achei que tudo que ele me pediria seria o contrário

Luan: - Eu..eu não namoro! - falei sendo pego realmente de surpresa

Arthur: - Que bom. - assentiu voltando a brincar com seus dedos. Outra vez ele pareceu não querer me olhar

Luan: - Mas... por que cara? - perguntei realmente curioso

Arthur ergueu o olhar, e mesmo sendo tão pequeno dava pra perceber seu desapontamento.

Arthur: - Você xingou a minha mãe ontem. E de uns dias pra cá ela só chora. Eu quero ver a minha mãe feliz. E saber que você xingou ela não vai deixar ela feliz. Eu prometi pro vô Pedro que vou cuidar dela, mas você não tá facilitando pai. - falou visivelmente insatisfeito

Não posso negar que fiquei surpreso com aquilo. Uma criança de oito anos me dizer tudo aquilo com tanta frieza fez-me ficar impressionado. Tentei engolir suas palavras. Realmente havia sido um erro meu "show" de ontem, ainda mais na frente do meu filho.

Luan: - Olha, sua mãe anda chorando, triste, por erros dela. O papai não tem nada a ver com isso. Mas agora a gente não tá mais juntos, e ela vai ser muito feliz com quem ela quer.

Arthur: - Vocês adultos são malucos! Eu não vou nem falar nada! - revirou os olhinhos - Só não... namora a minha mãe mais tá? Não quero ver ela triste...

Abaixei a cabeça e assenti. Suas palavras doeram. Então quer dizer que eu não á fazia feliz?

Arthur: - Também quero te ver feliz pai. Mas ainda estou muito bravo pelo o que você fez ontem. E você nem pediu desculpas. Minha avó deveria te deixar de castigo!

Ri negando, e mesmo um pouco chateado comigo, Arthur me deixou lhe fazer companhia, me fazendo ver filmes com ele até o jantar, quando ele literalmente apagou, dessa vez na cama dos meus pais.

Marizete: - Você quer conversar? - perguntou quando eu no meio da noite fui assaltar a geladeira, com a insônia mais forte que nunca. Levei um susto por ainda ter gente acordada, e sorri pra minha mãe

Luan: - Vai dormir mãe, ta tarde

Marizete: - Você ta precisando de um carinho, vem!

Sem protestar segui minha mãe até a sala, onde ela sentou e fez sinal para eu deitar com a cabeça em seu colo.

Luan: - Meu pai ta uma fera né? - ri fraco

Marizete: - A central toda. - murmurou - Mas a única coisa mais importante no momento é como Você tá meu bem!

Luan: - Ah... tentando engolir né? - suspirei e ela começou a me fazer um cafuné - Eu não merecia isso mãe, de jeito nenhum. - respirei fundo outra vez tendo como resposta o seu silêncio. Ergui meus olhos e á encarei - Você acredita em mim né mãe?

Marizete: - Essa história toda não é da índole dela meu bem. Mas se você diz, se realmente aconteceu tudo como você disse, realmente é de se duvidar da fidelidade dela. Não quero me intrometer no relacionamento de vocês, vocês são adultos, e você não negaria uma paternidade se não houvesse motivos. Eu acredito em você

Suspirei aliviado ao ouvir isso. Tudo o que eu menos precisava no momento era alguém para dar asas a Duda.

Luan: - E nela? Você acredita?

Marizete: - Com base na menina que conheço desde que nasceu, sim!

Luan: - Mas ela cresceu mãe, mudou, e foi pra pior!

Senti minha mãe suspirar e acariciar meus cabelos mais vagarosamente.

Marizete: - Se você diz meu amor. Ninguém mais que você aqui nessa casa conviveu com ela...

Assenti ficando em silêncio.

Luan: - E meu pai? O que ele achou disso?

Marizete: - Ele quer o exame de DNA.

Luan: - Como se isso fosse mudar algo - ri irônico

Marizete: - É a coisa mais sensata Lu. E se realmente...

Luan: - Não é mãe! - interrompi convicto - Acho que a Bubu vai acreditar nela... - lamentei - Por isso eu me preocupo tanto com ela mãe. Olha só como ela é inocente, já vai se deixar levar por isso. A Bruna não enxerga maldade nas pessoas Xumba.

Marizete: - Ela já ta crescida meu amor. Tem suas opiniões, pensamentos. Ela é fogo Lu, não é coisa fácil de se manipular.

Luan: - Se ela manipulou até mim, quem dirá a Bubu - lamentei por minha irmã sentindo os carinhos de minha mãe

Apesar de ela ficar em cima do muro, sem dar seu partido na briga, não existia nada melhor do que momentos como aquele com ela, e até perdi a conta de quantas horas fiquei ali, abrindo meu coração pra única mulher que me amava de verdade.

Um pouco antes de apagar, dei uma olhava por cima na internet. A notícia do momento, meu término e meu escândalo se fazia presente em quase todas as postagens dos meus seguidores, mas dentre tantos textos e frases direcionados aquilo, um chamou minha atenção. Meu coração palpitou com a ver acidade daquelas palavras. As copiei e procurei uma imagem para postá-la. Aquela seria a minha única satisfação que meus fãs tanto pediam da minha parte.

Peguei uma foto que eu havia tirado da janela de um dos hotéis pelo qual passei, e publiquei a foto com a legenda do texto de que uma de minhas fãs havia postado e eu me identifiquei.

"Sempre tem um momento que o caminho toma uma direção pensando que no final os caminhos vão se encontrar. Mas conforme você segue a outra pessoa vai ficando cada vez mais pra trás. 

-Não é nada, fomos feito um pro outro, no final lá estará ele.

Mas no final só acontece uma coisa: chega o maldito inverno e de repente se dá conta de que tudo terminou de verdade, não dá para voltar atrás, você sente, e então você tenta recordar em que momento tudo começou e descobre que tudo começou antes do que imaginava, muito antes, e ai é bem nesse momento quando se dá conta de que as coisas só acontecem uma vez. E por mais que se esforce nunca voltará a sentir o mesmo e nunca mais sentirá a sensação de estar três metros acima do céu. - @luanamoreternos2"

Publiquei a foto e não quis se quer ver os comentários, travei a tela do meu celular e encarei o teto branco do meu quarto. Senti os primeiros raios de sol quando finalmente adormeci.

2 de Janeiro - São Paulo

*Duda Narrando

O dia para mim começou cedo, busquei Arthur na casa dos avós, sem nem consultar á Luan. Meu pequeno ainda dormia quando liguei para Bruna dizendo estar na porta. Ambos sonolentos vieram até mim, e me prometendo uma visita mais tarde Bruna se despediu do sobrinho. Arthur foi dormindo até a nossa casa, e ao chegar foi direto para a sua cama me fazendo rir pela primeira vez nos últimos dois dias. Por fim comecei minha sessão de retornar ligações, e a primeira pessoa que retornei, com um peso na consciência foi Renan.

Conversamos brevemente, com pedidos de desculpas de ambas as partes, e ele prometeu estar aqui em meia hora para resolvermos nossas questões profissionais. O segundo á retornar foi meu pai, que estava uma fúria de nervos quando me atendeu. Ele queria á todo custo vir á São Paulo tirar satisfações com Luan sobre o tal vexame em me xingar em público, mas eu consegui o conter, prometendo que estava tudo bem e que tudo aquilo não passava de exagero de imprensa para obter audiência. O prometi assim que resolver minha agenda profissional ir o visitar, dizendo que tinha muito o que lhe dizer, mas não mencionei a gravidez, aquilo não era assunto para falar por telefone.

Minha mãe chorou feito criança no celular ao constatar o nosso término, e foi inevitável não chorar com ela. Já Laís pirou mais que meu pai, e para ela eu não podia mentir, contando detalhes de tudo o que me aconteceu desde a virada do ano. Me surpreendi á ela dizer que Rober estava ao seu lado e que a conversa estava no viva voz. Eu não fazia idéia de que eles estivessem passando o fim de ano juntos, e ouvir o amigo de Luan indignado me defendendo me tranquilizou um pouco. Ele ouviu todo o meu desabafo com Laís sem eu saber que ele estava lá, e minhas palavras não deixavam dúvidas de quão chateada eu estava com toda aquela situação. 

Renan cumpriu o prometido, um pouco receoso por estar na minha casa depois de todas as suposições de Luan, pedi que ele relaxasse e depois de se preocupar o suficiente comigo até me fazer desabafar com ele como eu eu havia feito com Laís, enfim tratamos de assuntos profissionais. Renan insistiu para que eu continuasse a carreira de modelo, podia dar certo grávida também, mas eu neguei, meus planos de agora eram maiores que isso, e nem se eu quisesse daria para conciliar dois filhos, uma nova vida e essa rotina louca. Porém eu ainda teria que cumprir o restante da minha agenda antes de finalmente realizar meu desejo, e no fundo, eu sabia que isso renderia uma confusão maior ainda com Luan.

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Oi meninas! Tudo bom com vcs?

Desculpem o capítulo um pouco sem emoção, mas realmente não tive tempo hoje de escrever. 

O fim de semanas foi cheio de visitas e acabei devendo pra vocês.

Mas em compensação essa semana vai ter uma VERDADEIRA MARATONA pra vocês!

Espero que gostem

Mas voltando ao capítulo, que desejo é essa que ela vai realizar? E Marizete, será que realmente ficou no meio termo? Amarildo que DNA, Bruna conversar com o Luan... No que resultará tudo isso? Sem contar que Arthurzinho parece chateado com o pai...

Enfim, meninas OBRIGADO DE CORAÇÃO aos comentários do capítulo anterior. Tanto os elogios quanto as críticas eu amei, e levarei em conta tudo isso para seguir com os capítulos. Obrigado pela sinceridade de cada uma de vocês, e em especial á um comentário que me arrepiou de verdade: Conexão Santana. Obrigado de coração pelas palavras minha linda. Você não imagina o quanto me deixou feliz e me motivou. Não tenho palavras pra descrever, só obrigado e obrigado <3

Enfim, cada comentário foi lido com muito respeito, e obrigado mesmo aos toques que muitas me deram. Prometo levar em consideração.

Beijoooos