156 - Acordando?

Não sabia se chorava ou se xingava Luan de todos os nomes existentes e inexistentes após ver a foto que ele postou. Optei pela segunda opção. Sua atitude me deu ânsia, afinal, na realidade do dia-a-dia, ele não era nada doce ou educado comigo como tentou transpassar. Sua atitude em busca de ibope me irritou tão profundamente que decidi responder. Talvez indireta fosse mesmo algo infantil, mas caía como uma luva em momentos como agora: quando quero lhe dizer algo sem ter que necessariamente falar com ele, já que a minha raiva e nojo da sua dualidade eram maiores.

"#ReflexãoDoDia"

Postei a imagem sem nada mais, e como eu imaginava, logo meio mundo viram que era uma bela indireta para o Luan e começaram a deduzir coisas. Passei longos minutos rindo e me surpreendendo com alguns comentários, até me cansar e ir arrumar minhas malas. Amanhã faria o teste de DNA, e logo após partiria para Campo Grande, de onde eu nunca deveria ter saído por sinal.

Eu e Bruna estávamos cada vez mais próximas, e ela me dava apoio de tal maneira que nunca imaginei que partiria dela. Estávamos bem amigas, o que até enciumou Laís um pouco, que por sinal, já estava fazendo mil e um planos para o meu período de "estadia" em Campo Grande. 

[...] Dia Seguinte

O tão esperado por mim dia do teste de DNA chegou. o dia amanheceu lindo, e entendi aquilo como prova de que toda a nuvem que cobria minha vida, a partir desse teste, sumiria expondo o lindo sol pra mim. Apesar da certeza do resultado, amanheci tensa, e os enjoos que diriam sumir no terceiro mês, se estendiam até agora me deixando de péssimo humor. Não havia pego meu celular até estar pronta, e quando o fiz, vi a chuva de marcações que minha indireta no dia seguinte repercutiu, e por um instante tive até dó de Luan. As coisas para o lado dele deveriam estar piores ainda. 

Bruna e Amarildo quem me acompanharam até a clínica, e na sala de espera, enquanto eu e Bruna conversávamos, Amarildo se manteve calado e quieto, visivelmente tenso. Quando Bruna foi ao banheiro que por fim ele puxou assunto comigo.

Amarildo: - Você tá bem tranquila. - comentou me observando, vi seu olhar pousar sobre meu corpo, a blusa que eu usava era larga o que não o permitia ter tanta visão assim da minha barriga, o que provavelmente ele queria reparar

Duda: - Tô. Sei exatamente o que vai dar nesse resultado, e se não fosse por você e pela Marizete, e pra deixar bem claro também que não sou o que muitos pensam, eu nem faria isso! Eu sei a verdade dos fatos Amarildo e não há possibilidade nenhuma de ser outra.

Amarildo: - Desculpa estar te fazendo passar por isso.

Duda: - Não é você, é o Luan. - sorri de canto, apesar de saber que Luan se quer quis ter a alternativa do DNA. Ele estava tão desinteressado na minha gravidez que se quer deveria saber que o exame era hoje

Amarildo: - Você não engordou né? Geralmente pro tempo que você está já era pra ter uma barriguinha!

Duda: - Era! - passei minha mão por minha barriga ainda quase lisa. - Mas o neném ta dando bastante trabalho desde já. Mal como e ponho pra fora - ri - Ta melhorando agora. 

Nossa conversa foi interrompida quando chamaram por meu nome, de um sorriso pra ele e me levantei, Bruna voltava para onde estávamos, e ao me ver ir me deu um sorriso consolador. Ela sabia o que eu achava daquilo: uma humilhação. Eu tinha plena consciência que todos que ali estavam, e  que sabiam o que eu iria fazer, devem pensar mal de mim o suficiente para chegarem a uma conclusão errada que eu provavelmente não sabia se quer quem era o pai do meu filho. Quando na verdade, todo esse procedimento humilhante é fruto da falta de confiança do único homem provável no mundo de ser pai do meu bebê.

*Luan Narrando

Tive vontade de matar Duda quando vi sua indireta tão direta. Como ela se atrevia? Estava ficando louca? Essa era a única respostas. Arleyde e minha central pirou ao ver o reboliço que isso deu nas minhas redes sociais, e como se isso não bastasse, vários sites e instagran's de fofoca, postaram nosso "trocadilho", me fazendo arrepender-me imensamente de ter tentado ser ao menos um pouco gentil com aquela maluca traidora. Já estava cansado de ser marcado em mil postagens relacionadas aquilo, e senti meu mundo cair sobre minha cabeça ao saber que tal fato ganhou até espaço em alguns programas medíocres da TV.

Depois disso tudo e de ouvir um monte de Juliana, parti outra vez para o parque da Disney com uma dor de cabeça sem fim, mal conseguindo ter até paciência com Arthur. Enquanto ele ia em um daqueles brinquedos infantis, sentei-me entediado e comecei a mexer no celular. Apesar de saber que eu e Duda seria ainda boa parte do meu feed, entrei no meu instagram na tentativa de ver outras coisas. Funcionou. Eu seguia alguns poucos fã clubes da Bruna, e um deles postou algo que me chamou a atenção?

"Bruna e Duda há poucas horas na saída de uma clínica. A irmã de uma das nossas integrantes pediu foto para eles e as duas atenderam numa boa. Parece que seu Amarildo também tava lá. Será que tá tudo bem gente??"

Então foi como se uma luz se acendesse. O exame. Puta merda, o exame de DNA. Ela parecia na foto tão tranquila para quem estava numa clínica para um motivo tão sério. Inconscientemente fiz as contas. Nossa última transa e...cacete! Não pode ser...! É só uma coincidência Luan, não pira... Apenas uma mera coincidência. Caralho! Por um segundo desde tudo me permiti pensar: e se realmente fosse tudo verdade? E se...? Não, não pira Luan, não pira!

[...]

Arthur: - Pai! Pai! Ô PAI! - gritou no meio de todos me despertando a atenção - Nossa, você tá tão desligado hoje!

Luan: - Desculpa filho! - passei a mão no rosto - O pai tá com uma dor de cabeça gigante - que só piorou depois de ver aquela foto - Será que não dá pra gente fazer um lanche e voltar pro hotel? Só hoje? 

Arthur: - Ah, tudo bem.- sorriu tranquilo e começamos a andar - Será que minha mãe ta bem? Eu tô preocupado com ela. Podemos ligar quando chegarmos no quarto?

Assenti em um suspiro. Depois do bolo de neve que se formou em minha mente hoje, tudo o que eu menos queria era ouvir o nome de Duda. E pelo jeito eu não conseguiria. 

Depois de nos fartarmos de comida, voltamos para o hotel. Eu e Arthur começamos uma partida de futebol no XBox e aquilo me distraiu por horas.

Arthur: - Tô com sono. Posso ligar pra minha mãe antes de dormir? - bocejou

Luan: - Mas já? Ainda são sete da noite!

Arthur: - Mas eu já tô com sono! - deu um risinho se jogando na cama

Luan: - Vou ligar pra você.

Arthur assentiu e liguei pra Duda. Confesso que estava com saudades da voz dela, então coloquei no viva voz antes de entregar para Arthur. Duda demorou á atender e quando fez isso, parecia estar em um local cheio de pessoas pelo barulho.

Arthur: - Mamãe?

Duda: - Oi meu amor! Pera ai que a mamãe não tá te ouvindo direito, vou sair daqui, só um minutinho.

Por segundos permiti que sua voz levasse somente paz ao meu coração ao invés de caos. Sentado na beira da cama, de costas para Arthur, fechei os olhos ao ver seu jeito tão carinhoso de tratar nosso filho.

Duda: - Pode falar agora meu bem!

Arthur: - Como você tá? Com quem? Onde?

Duda: - Minha nossa! - riu e sorri negando junto - Eu tô bem e você? Tá cumprindo o que te pedi? 

Arthur: - O que me pediu?

Duda: - Sobre seu pai Arthur! - suspirou - Não quero que diga nem que desconte nada nele. Isso não é problema pra você e eu estou bem, não é para tomar minhas dores.

Engoli em seco. Eu estava errado. Achei que Duda tentava me jogar contra nosso filho mas me enganei. Ela fazia completamente ao contrário. Arthur sabia que estava no viva voz e não á avisou, estranhei aquilo e logo percebi que meu filho queria que eu ouvisse realmente sua conversa.

Arthur: - Ta. Mas a senhora parou de passar mal?

Duda: - Seu irmão ta dando trabalho! - riu - Pelo menos recuperei o peso que perdi! - O que? Como assim? Como ela perdeu peso se na gravidez só se ganha? Me preocupei.

Arthur: - Sabe mãe, eu pensei que agora que vou ter um irmãozinho, a senhora e meu pai terminaram... Podíamos voltar a morar em Campo Grande né?

Virei-me de imediato encarando Arthur furiosamente. Para meu espanto ele sustentou meu olhar. Olho no olho, como se quisesse me desafiar. Mas por que diabos alguém ensinou uma criança a fazer isso?

Duda: - Você acha? - riu - Não seria uma má idéia. Aliás, adivinha onde tô?

Arthur: - Ai meu Deus! Você foi mesmo! Você já ta em Campo Grande mãe? - perguntou eufórico. Meu coração bateu descompassado. A única coisa que me veio em mente foi: "João Pedro"

Duda: - Cheguei á umas horinhas meu amor! Ta todo mundo aqui morto de saudade! Pede seu pai pra me enviar suas fotos ai depois.

Arthur: - Ta bom. Mãe, você ta brava? - mudou de assunto drasticamente, de repente e eu até franzi o cenho pra ele sem entender. Arthur continuava a me encarar

Duda: - Brava? Com que?

Arthur: - Com meu pai! Você tá grávida, vive passando mal e agora que ele me trouxe pra cá ta passando por isso sozinha. Tá brava?

Engoli em seco, não tinha pensado por esse lado, talvez por que, desde que terminamos, jamais vi o lado dela. Percebi Duda suspirar.

Duda: - Para com isso! Eu sei que seu pai deve ter ouvido você falar isso. Não tenta magoar ele Arthur, esse jogo não vai funcionar. Desliga esse celular e esquece isso! Me virei sozinha na sua gravidez, daquela vez por escolha mim. Sei me virar sozinha de novo, a diferença é que dessa vez é por escolha dele, e isso não tem nada a ver com você. Seu pai te ama e não te deixa sozinho nunca, é apenas nisso que você tem que se apegar. Vai jantar e dormir, chega de papo furado!

Fixei minha visão na parede branca. Ela era uma boa mãe. Independente de tudo ela era uma boa mãe. E foi também uma ótima namorada e amiga.

Arthur; - Tudo bem, desculpa. Eu amo vocês. Você e meu irmão. É um menino não é?

Duda: - Ainda não sei meu amor - riu - Mas nós também te amamos, muito!

Arthur: - Cuida direitinho tá mãe? Quero chegar ai e ver você com uma barriga grandona!

Duda: - Pode deixar príncipe. Dessa vez nada vai acontecer com a mamãe okay? Amo você!

Arthur: - Eu amo mais. Vai descansar, você agora é dois!

Acabei rindo do seu comentário, porém seu jeito protetor com a mãe e sua gravidez ecoaram na minha mente. Esperei ele encerrar a ligação e me deitei ao seu lado.

Luan: - Você tá chateado comigo?

Arthur; - Pela minha  mãe?

Luan: - É.

Arthur: - Tô. Por que eu sei que ela não vai falar pra mim não ficar mais bravo com você, mas sei que ela ta sofrendo!

Luan:  - Arthur....

Arthur: - Ouvi ela conversar no telefone com a tia Laís um dia, que o sonho dela era ter pelo menos uma gravidez normal, com você do lado... Ela sempre realiza meus sonhos pai, e agora, quem vai realizar os dela? - arrepiei-me com sua pergunta

Luan: - O seu irmão não é...

Arthur: - Tudo bem pai. Você é mais teimoso do que eu. Mas eu não acredito em você! Acredito na minha mãe que diz que é sim! Ela pediu pra eu não tocar no assunto com você, e quer saber? Ela tem razão. Você nunca aprende, parece até que a criança é você e não eu.

Luan: - Para de repetir tudo o que os adultos te falam quando não faz sentido! - bufei

Arthur: - O que não faz sentido é minha mãe ficar sozinha quando tem você pra ajudar ela na gravidez. Não quero que vocês voltem a namorar, vocês não servem juntos. Queria só que você estivesse lá quando ela passasse mal ou tivesse algum desejo. Nos exames também. Mas você é teimoso demais pra admitir quando tá errado. Sabe por que não gosto muito de adultos? Quando eu erro, minha mãe me põem de castigo, agora, você ta errando, e qual vai ser o seu castigo? Pelo jeito nenhum, você é velho demais pra minha avó te colocar no cantinho do pensamento, e famoso demais pra alguém alem de mim ter coragem de te falar o certo. Meu vô Pedro tem razão. Isso de ser famoso só estraga as pessoas, eu sou o único a te falar a verdade, e só por que sou criança e não gosto de tomar banho você nunca vai me levar a sério. Não sei por que ainda perco meu tempo!

Depois de outra vez Arthur me deixar sem palavras, o esperei dormir e como na noite anterior fui encher a cara na sacada. Sabia que isso não resolveriam meus problemas, mas eu tinha a intenção de por ora, fazê-los sumir, mas o que aconteceu foi exatamente ao contrário. Eu só me lembrava mais e mais. Dela, do seu jeito quando descobri, da nossa última noite, da data que batia com a do exame de DNA de hoje. Caramba, será que ela esta mesmo mentindo? Ou meu ciúme realmente me cegou? Espero amanhã, sóbrio, encontrar todas as respostas pra esse bolo de neve que se formou em minha mente e minha vida!