159 - "Só da valor quando perde"

Um dia após passar a madrugada no hospital tive uma surpresa. Renan saiu de São Paulo e veio me ver após chegar aos seus ouvidos que eu fui parar no hospital. Sua presença me fez imensamente feliz, especialmente pelo dia de hoje: se finalmente meu bebê desgrudasse as perninhas eu saberia se eu estava a espera de um príncipe ou uma princesa.

Minhas família e meus amigos estavam todos ansiosos, eu principalmente, e mesmo contrariando meu pai, preferia a presença apenas de Renan comigo. Ele era um amigo e tanto, e mesmo que em partes nossa relação seja o motivo da bagunça na minha vida, eu não me afastaria daquele que tanto me faz bem por um outro alguém que se quer confia em mim.

Minha consulta foi em partes em vão. Como da outra vez meu pequeno anjinho ou anjinha não quis abrir as pernas. E nem mesmo a infinidade de chocolates que Renan me comprou, acreditando que isso agitaria o bebê o fez mudar de posição. Acabei me preocupando. Meu anjinho era pequeno demais, frágil demais, e eu temia que outra vez eu o perdesse. Quem me consolou foi Renan ao sairmos da clínica. Acabamos parando no enorme parque da cidade. Foi inevitável não associar aquele local com a gravação do primeiro DVD de Luan. Eu estava ali, e mesmo que ele não tenha me visto eu estava ali, com o coração e olhos chorando em emoção por saber que aquela vez, eu tinha feito a escolha certa.

Renan: - Já pensou em nomes? - me distraiu enquanto sentados em baixo de uma árvore conversávamos preguiçosamente

Duda: - Acho que o Arthur quer Mateus.

Renan: - E você?

Duda: - Pensei em Rafael, mas é o segundo nome do Luan, então não! - fiz careta e ele riu

Renan: - Não mesmo! E além desses dois? Nenhum outro?

Duda: - Uma homenagem pro meu pai talvez? - o encarei - Também pensei em... Bruno

Renan: - Todo Bruno que eu conheço é gay!

Duda: - Rodrigo?

Renan: - Muito forte!

Duda: - Lucas?

Renan: - Muito comum.

Duda: - Henrique?

Renan: - Muito forte pra uma criança.

Duda: - Mas um dia ele vai crescer...

Renan: - Você gosta de Henrique?

Duda: - Gosto!

Renan: - Mateus Henrique, que tal? O seu gosto e o do Arthur.

Duda: - Ficou feio!

Renan: - Coloca de Genisvaldo então! - fez graça e eu acabamos rindo

Duda: - Tá ai! Genisvaldo! - gargalhei passando a mão pro minha barriga. Deitei minha cabeça no ombro de Renan e foi impossível não pensar que era com Luan que eu deveria ter tido essa conversa. Mas eu estava feliz mesmo assim. Renan não me deixava a desejar.

Renan: - E se for menina?

Duda: - Nicole!

Renan: - Mas esse não é o nome que ele...

Duda: - Foda-se o que ele quer. Quem gosta desse nome também sou eu. Ele não é o único no mundo!

Renan: - Não precisa me bater não doida! - levantou as mãos me fazendo rir

Duda: - Desculpa. - ri

Renan: - Tenho um nome melhor se for menina!

Duda: - Qual?

Renan: - Filispina!

Duda: - Ah, vai ver se eu tô na esquina Renan! - bati nele caindo na risada.

Passamos a tarde ali. Depois do seu expediente de serviço Laís se juntos a nós, e ficou tão pirada quanto nós dois ao ver que outra vez meu teimoso bebê não nos permitiu saber seu sexo.

Laís: - Podiamos terminar o dia numa baladinha o que acham?

Renan: - Eu topo!

Duda: - Eu mais ainda!

Amava aqueles dois. Ao contrário do que com certeza Luan faria, eles me tratavam como uma simples grávida, e não uma doente que tinha que parar a sua vida até que o bebê nascesse.

Voltamos para casa ainda era dia, eu e Renan pareciamos até duas crianças de tantas bobagens e risos que compartilhavam. Ele se deu bem com João Pedro que também topou a balada. Eu estava animada, há tempos não saia com os meus três amigos mais importantes da minha vida.

Meu pai ao ver minha felicidade nos últimos dias tão rara, quase que colocou Renan no colo e o chamou para morar com a gente. Sua "puxação se saco" para com meu amigo fez eu e João Pedro gargalhar.


Quase no fim do dia, quando eu não queria ir a piscina, João Pedro e Renan quase me obrigaram. Meu pai havia saido com Vera sua namorada, e Laís iria adiantar um pouco do serviço antes de irmos para a balada: ou seja, não tinha ninguém para me defender.

João Pedro já estava na piscina e eu sentada negando diversas vezes á Renan quando ele começou a gravar um Snap.

Renan: - Conta pro povo como você é chata e não quer ir pra piscina com a gente! - falava rindo, me filmando de perto. Cruzei os braços e apontei o dedo do meio

Duda: - Ele me empanturrou de chocolate, me engordou o dia todo e agora quer que eu exponha minha banha na piscina!

Renan: - Como se a sua tendência de agora em diante não fosse só engordar! - revirou os olhos - Anda, levanta futura baleia, vamos nadar!

Duda: - Vai se ferra Renan! - gargalhei - Vou ligar pra sua namorada vir te buscar!

Renan parou de gravar e u lhe dei alguns tapas, soltei um grito alto quando ele me pegou no colo, e não sabia se ria ou se o batia quando vi que estava de ponta cabeça sobre seus ombros indo em direção a piscina enquanto ele gravava outro Snap:

Renan publicou o Snap e jogou o celular perto da churrasqueira antes de me ajeitar e pular comigo na piscina, João Pedro gargalhava e me ajudou a tentar afogar Renan quando eu me recuperei do susto.

Duda: - Eu tô grávida sabia? Você não pode ficar fazendo essas coisas! - bati nele que ainda ria

João Pedro: - Se ela vomitar aqui na piscina a culpa é sua Renan. Essa menina só vomita, não sabe fazer outra coisa mais! - me zoou me fazendo agora tentar bater

Aproveitamos o resto da luz do dai na piscina. Conversando e brincando entre si. Quem nos visse de longe jamais julgaria a idade que tinhamos. Falamos de tudo, até mesmo que esses Snap's daria mais motivos ainda para Luan acreditar que o filho não era dele. Mas eu não ligava, não hoje, não na satisfação que eu estava tendo naquele dia com pessoas que eu amo ao meu redor. Preferia pensar em tudo isso mais tarde, em um outro dia talvez. Não deixaria a tristeza que Luan vinha me trazendo afetar o que meus amigos estavam fazendo para me deixar feliz. 

Por incrível que pareça, não passei mal naquele dia. Surpreendi tanto á mim quanto á João Pedro por não ter jogado tudo o que jantei fora. Iriamos tarde para a balada, e na companhia de meu pai e minha madrasta, nós três vimos um filme de comédia antes de começarmos a nos arrumar.

Tomei um banho e quando ia começar a me vestir e me maquiar, ouvi meu celular tocar com a rotineira ligação de Arthur pela noite. Eu estava morrendo de saudades!

Arthur: - Você não vai acreditar! Compramos um milhão de coisas pro bebê!

Duda: - Arthur! Não precisava fazer seu pai gastar com isso meu bem! - ri imaginando a euforia do meu pequeno ao comprar coisas pro seu irmãozinho

Arthur: - Ele tava mais empolgado do que eu. Apesar de comprar um brinquedo assustador pro bebê!

Parei de sorris por alguns instantes. Então Luan de forma empolgada participou das compras? Falso! O que ele queria? Iludir ou plantas esperanças no coração do filho?!

Duda: - Ele é maluco amor! - ri, e me pegando se surpresa ouvi a voz dele de fundo gritando um "Eu ouvi isso" de forma divertida - Tira isso do viva voz Arthur! - falei séria

Arthur: - Foi meu pai quem colocou. Ele quer saber como você está.

Duda: - Ótima!

Arthur: - Ele disse que... pai, eu não entendo mimica, fala você com ela! - ouvi um barulho estranho, e ao que tudo pareceu ele jogou o celular pro pai

Ficou um silêncio, e de repente ouvi sussurros

Luan: - Fala você Arthur!

Arthur: - Eu não, você quem quer! Não sou pombo correio!

Luan: - Como você é ingrato!

Arthur: - E você tonto!

Luan; - Chato!

Arthur: - Mandão!

Luan: - Velho numa alma de criança!

Arthur: - Chat...

Antes que eu começasse a rir com a briga sussurrada dos dois, resolvi inteferir

Duda: - Dá pros dois pararem com isso!

Arthur: - Eu te falei que ela tava ouvindo!

Luan: - Eu não entendo mimica!

Arthur: - Eu também não! Fala logo o que você quer com ela cara!

Ri inaudivelmente da "briga" dos dois, e outra vez voltei a interferir

Duda: - Dá pra se resolverem logo? Eu tenho que me arrumar se as duas crianças não se importam em dizerem o que querem logo!

Antes mesmo que eu imaginasse qualquer reação deles, ouvi os dois dizerem em um uníssono um "Onde você vai?"  Ri baixinho antes de responder

Duda: - Há uma balada!

Luan: - Com o Renan? - percebi a gigante ironia em seu tom de voz e revirei os olhos

Duda: - Sim! Com ele, o João Pedro e mais alguns amigos!

O silêncio tomou conta, e percebi alguns cochichos. Segundos depois foi a vez de Arthur falar.

Arthur: - Mãe, você tá grávida, meu pai disse que não pode ir a esses ambientes. Ainda mais com essas pessoas.

Antes que eu pudesse o repreender ouvi outro cochicho. Não entendi, e logo em um sussurro meu filho o respondeu.

Arthur: - Lerdo é você. Você não me disse que não era pra falar que você quem falou. 

Revirei os olhos outra vez.

Duda: - Luan, para de usar o seu filho e fala você o que quer!

Luan: - O  Arthur já disse! Você tá grávida e...

Duda: - Grávida e não doente! Arthur meu bem, dorme com Deus, a mamãe vai desligar viu? Eu amo muito você, não fique caindo nesses joguinhos do teu pai!

Luan: - Duda espera, preciso falar com você!

Duda: - Boa noite Arthur!

Ignorei Luan completamente e desliguei a ligação. Acabei rindo. Percebi seus ciúmes e devo assumir. Por instantes eu tinha sentido falta dele. Por dias Luan atormentou minha mente, e eu estava mais do que feliz em saber que quem essa noite estaria atormentado dessa vez era Luan. Com a certeza de que eu estaria em uma balada na companhia dos dois homens que ele mais odeia na terra.

Antes de começar a por fim me arrumar corri pro quarto de hóspedes onde Renan estava, ele já estava se vestindo e mesmo assim ouviu toda a minha ladainha a respeito da ligação. Rimos do ciúmes do Luan e ele me pediu para que arrumasse seu cabelo. Concordei de imediato. Apesar de eu só ter feito isso em meu filho e Luan, eu gostava.

Fui para o banheiro onde coloquei o secador, mas fiz graça antes de começar a arrumá-lo. Em minha mente uma música coreografada da época da minha adolescência ecoava, e cantando enquanto ria parei em frente ao espelho a dançando. Renan caiu na gargalhada, mas logo entrou na palhaçada também, e só para me zoar gravou outro Snap da nossa brincadeira:

Ainda rindo após ver a gravação eu ajeitei o cabelo dele e em seguida fui para o meu quarto me arrumar. Eu só não imaginava o tamanho da repercussão que aquela simples brincadeira iria dar, ainda mais em relação á Luan, que pareceu pirar. Prova disso foi todas as coisas que fez e me enviou durante toda a noite me deixando quase sem chão ao perceber o que ele queria dizer.