170 - Percas

Já era seis da tarde e eu estava enfurecido. Duda fugia de mim com uma facilidade admirável. De qualquer forma que tentava me aproximar ela se esquivava antes de eu me dar conta. Queria lhe dizer que seja lá o que Samylle á falou, não tinha pé nem cabeça. Eu se quer andava tendo contato com Samylle.

Duda passou todo o churrasco agindo normalmente, como se não tivéssemos um assunto inacabado ou como se eu não estivesse babando em seu corpo lindo de grávida.

Via ela conversar sorrindo o tempo todo com Caio, e tive de me segurar para não tentar ouvir sua conversa. As metáforas ensinadas por Dr. Elias começava a surtir um minimo efeito sobre meu ciúme.

Arthur estava grudado o tempo todo comigo, e quando comecei a me cansar de toda aquela gente ali, depois do parabéns, dei uma escapada para meu quarto após saber que assim como eu Duda havia ido embora á francesa.

Arthur me acompanhou, e após tomarmos banho nos sentamos em minha cama enquanto eu ligava meu XBox para uma partida de futebol com ele.

Luan: - E como andam as coisas? - perguntei casualmente enquanto jogávamos, apesar de Arthur não ter saído do meu lado o tempo todo, não tivemos oportunidade para realmente conversarmos

Arthur: - Que coisas?

Luan: - Na sua casa, com sua mãe, essa nova rotina dela, novos amigos...

Arthur: - Ah, anda normal. Só o neném que dá muito trabalho - fez careta e eu o encarei em dúvida - Minha mãe passa muito mal. Não gosto de ver ela daquele jeito. Sem contar que anda meio maluquinha. Na mesma hora que briga comigo ela chora me pedindo desculpas. Meu vô Pedro disse pra mim acostumar, ainda tem muitos meses pra frente! - riu após fazer careta - GOOOL! - gritou animado e eu tirei meus olhos dele encarando a tela, caramba, havia esquecido do maldito jogo

Luan: - Você não vai ganhar de mim moleque! - ri determinado

Já era tarde quando todo o barulho da casa cessou, Arthur mexia em meu celular sonolento, e eu lia á um livro quando Bruna adentrou meu quarto.

Bruna: - Olha os homens da minha vida ai! - falou animada se deitando conosco, sorri e deixei o livro de lado

Luan: - Achei que iria dormir com seu namoradinho - fiz careta um pouco enciumado e ela riu

Bruna: - Tenho prova amanhã, e o Breno viaja cedo também. E você? Tem planos?

Pensei em dizer que tinha outra consulta marcada com Dr. Elias além da sessão de fotos e das vinhetas á gravar, mas preferi continuar omitindo o primeiro compromisso,

Bruna: - Você não me deu meu presente ainda! - disse mexendo em suas unhas de forma que queria parecer inocente. Gargalhei e á vi me encarar brava enquanto deitava sua cabeça sobre a barriga de Arthur que começou a lhe fazer cafuné

Arthur: - Eu já dei o meu tia!

Bruna: - E eu adorei! - sorriu pro meu pequeno e meu coração se encheu de amor com a cena

Luan: - Olha no meu closet. Perto dos sapatos sociais. - falei manso e ela levantou-se correndo fazendo eu e Arthur rir

Bruna voltou feito uma criança quando ganha doce com o embrulho um pouco grande em mãos.

Bruna: - O que é isso? - perguntou risonha

Luan: - Abre ué! - ri

Bruna: - Eu tô desconfiada. Você é malandro Pi, e ainda não quis me dar o presente em público. O que é isso? - perguntou balançando a caixa o que me fez rir

Luan: - Não é sacanagem Bubu. Abre! - pedi dócil

Arthur me cutucou de forma disfarçada me perguntando de maneira que Bruna não visse se realmente não era sacanagem. Até ele estava desconfiado. Neguei com a cabeça rindo e vi Bruna se desfazer do primeiro papel de presente.

Bruna: - Não me diz que vão ser várias caixas até uma minusculá ser realmente o presente! - disse rindo feito criança. Se tinha uma coisa que eu admirava na minha irmã era isso. Apesar de estar se tornando uma mulher incrível, jamais perdia seu jeito de boneca. A minha boneca

Quando Bruna se desfez do terceiro embrulho que eu pedi que colocassem de propósito só para á deixar ansiosa. é que ela começou a ver o seu presente. Vi ela levar a mão á boca e rir feito uma garotinha quando a boneca que batia em sua cintura com o rosto idêntico á ela surgiu em sua frente.

Bruna: Mentira Pi! - falou rindo desacreditada

Havia mandado fazer uma boneca grande, estilo aquelas "Stefanys" que toda garota teve, mas aquela era uma cópia da minha irmã. Foi feita a partir de suas fotos, e caramba, ficou assustadoramente idêntica á ela.

Luan: - Sabia que se te entregasse na frente de todo mundo você ia brigar, mas qual é, todo mundo sabe que você ainda é uma menininha apaixonada por essas coisas! - levantei rindo e indo á abraçar

Bruna: - Não sei se me ofendo por ganhar uma boneca aos 21 anos, prova do quanto você me acha madura, ou se te agradeço eternamente. É o presente mais incrível que ganhei. Você lembra daquela boneca que tive? Era desse tamanho e eu era louca nela, não sei como sumiu, e agora você me dando essa, e com o meu rosto. Aiii! - Bruna começou  a dar pulinhos empolgada e eu cai na risada - Sério, ainda não entendo como aquela boneca foi sumir. Eu amava tanto ela. Mas agora tenho você! - falou tirando sua cópia da caixa e a abraçando após "falar" com a boneca. Ri coçando a nuca

Arthur: - Já parou pra pensar que uma boneca não pode ter sumido misteriosamente sem a ajudar de alguém? - interferiu Arthur e eu o dei um cutucão nas costelas, Arthur falou um "Ai" alto que fez Bruna se virar pra nós e me olhar intrigada. Sorri amarelo coçando a nuca

Bruna: - Não... você não.... - me encarou incrédula tombando a cabeça

Luan: - Ah Bu, aquela boneca dava medo! Tava no auge de Chuck e caramba, não dava pra ir no seu quarto e não sentir medo olhando aquela demoníaca!

Bruna: - Luan! - gritou rindo sem acreditar - Foi você que sumiu com ela? - perguntou boquiaberta

Luan: - O Max me ajudou. - sorri sem graça

Bruna: - Nem pense em chegar perto dela! - abraçou o seu presente e eu ri negando

Luan: - Pelo preço que isso custou, pode ter certeza de que não vou sumir com ela tão cedo!

Ficamos em meu quarto conversando até alta madrugada, Arthur não conseguiu nos acompanhar e acabou dormindo em cima de Bruna, não resisti á fotografar tanto amor em uma foto só e postá-la em meu instagram

"Mas ele ama essa tia dele! E eu também ♥"

[...]

Acordei com o barulho alto de algo se quebrando, espreguicei na cama e nem Bruna e nem Arthur estavam ali mais. Bocejei e peguei meu celular olhando as horas. 15:17 da tarde. Esfreguei o rosto e ainda sonolento fui tomar um banho.

Quando desci as escadas notei que o que me acordou era Arthur e sua inseparável bola quebrando algo. Fui até a parte de fora da casa e meu pai e minha mãe estavam sentados observando o neto. Percebi algo diferente no olhar deles e me aproximei beijando o rosto de minha mãe.

Luan: - Bom dia! - falei rindo e vi um sorriso distante brotar no rosto dela

Amarildo: - Boa tarde né! - riu meu pai negando 

Marizete: - Vá almoçar meu bem, tenho algo pra te contar. - franzi o cenho e puxei uma cadeira me sentando ao seu lado

Luan: - A cara de vocês tá estranha. O que aconteceu? 

Marizete: - Vai comer primeiro. - falou suave e suspirei assentindo, sabia que minha mãe não me contaria até que eu comesse. Levantei-me e fui até Arthur, dei um beijo na sua testa soada e dei alguns chutes em sua bola antes de ir até a cozinha onde como sempre minha mãe havia guardado meu prato já separado

Comi na companhia de meus pais enquanto olhávamos Arthur brincar de bola.

Luan: - Cadê e Bruna?

Amarildo: - Faculdade. Capaz de passar o dia no Campus hoje.

Assenti e mal terminei de comer e Rita já veio pegar meu prato, enfim encarei minha mãe a procura de respostas.

Marizete: - Sabe a dona Cecília? 

Luan: - Vó da Duda? - franzi o cenho

Marizete: - Sim. - suspirou - Ela faleceu nessa madrugada.

Naquele instante foi como se um flash passasse em minha cabeça de todas as vezes que Duda falava com a admiração da avó pra mim. Céus, ela amava aquela mulher mas do que a própria mãe, eu não podia se quer imaginar o quanto aquela perca repentina estivesse á afetando. Lembrei-me então do seu aniversário de semanas atrás. Duda parecia tão feliz ao lado da avó. Ela amava tanto aquela mulher e agora... agora só lhe restariam lembranças....

Marizete: - Ligaram pra ela poucas horas depois dela sair daqui. A mãe dela estava desorientada, todos estavam na verdade, e não sabiam se quer como agirem com o velório e tudo mais. Parece que ela levou um tombo quando acordou á noite passando mal, foi até a cozinha procurar remédio e caiu. Foi questão de poucas horas após isso pra ela falecer. Não queriam assustar á Duda e só á avisaram quando deram a noticia do óbito. Eu não sei bem como Duda está, ou como foi parar lá, só sei que ela está completamente sem chão e já em Campo Grande. Roberval foi quem mandou a mensagem á seu pai pedindo que cuidássemos de Arthur enquanto Duda ainda estivesse por lá. Acho que ele também está lá com a namorada amiga da Duda. Estava tendo uma pequena burocracia para liberarem o corpo, e como estava todo mundo desolado, quem ajudou a família foi Rober.

Mal processava as palavras. Minha mente só vagava sobre como Duda estaria agora. Caramba, eu já havia perdido minha avó, e era tão apaixonado nela quanto Duda na sua, mas a diferença era que no fundo eu já esperava por aquilo, Duda não, foi uma morte súbita, o que com certeza é mais doloroso ainda. Encarei Arthur que brincava e ria inocentemente. Estava na cara que ele não sabia de nada. 

Amarildo: - Eu aconselhei á não contar. - respondeu minha pergunta silenciosa sobre meu filho - Não é um bom ambiente pra ele, e caso ele soubesse, protetor como é, ele iria querer ir á Campo Grande pra cuidar da mãe. As coisas por lá estão difíceis, Arthur não precisa passar por nada disso. É melhor ter lembranças felizes da bisavó do que todos chorando enquanto á velam em um caixão. - assenti sem nada dizer, um desconforto tremendo tomava conta de mim, e eu sabia o motivo. Ela precisava de mim. Muito, e eu estava aqui,  á tantos quilômetros dela

Luan: - Desmarca meus compromissos pra hoje, tenho uma sessão ás cinco e algumas vinhetas pra gravar mais tarde, agenda pra outra semana, eu estou indo pra Campo Grande! - falei encarando meu pai

Se era de apoio que Duda precisava, se era de um ombro pra chorar, um amigo pra desabafar ou só mesmo alguém com quem pudesse contar... eu estaria lá. Nesse momento e em mais todos de sua vida, eu seria quem Duda precisasse que eu fosse. Seu amigo, seu homem ou seu amor!

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Vixi Maria... parece que tem Dudinha em dobro sofrendo por aí, afinal, a gravides deixa a mulher ainda mais sensível...

Dona Cecília era uma das principais conselheiras de Duda á favor de seu amor com Luan.. e agora ela se foi... será que agora Duda lutará por seu amor em nome dos conselhos da avó?

Por enquanto a perca está muito recente pra Duda pensar nisso, mas tem alguém viajando pra Campo Grande pra consolar a amada, e principalmente: ser o que ela precisar que ele seja.

Terá recaídas? Ou Duda estará fragilizada demais pra isso? O que essa viajam guarda pro nosso casal? Só digo algo: vocês não perdem por esperar hahaha

Espero que tenham gostado do capítulo. Bjos

PS.: Quero ver se vai ter alguém esperta o bastante pra sacar o que vai dar essa viajem toda! ;)