171 - Cuidados

Meu peito jamais ficou tão destruído como estava naquele momento. Parecia que todo o chão abaixo dos meus pés havia se esvaído. Ao mesmo tempo que a dor da perca caia com força sobre mim, eu se quer acreditava que aquilo estivesse realmente acontecendo. Foi quando toda a parte burocrática finalmente se resolveu e o velório se deu inicio de que minha ficha realmente caiu de tudo o que estava havendo. Eu não queria acreditar, e em minha mente, apenas lembranças da minha vózinha restavam. A tristeza no peito era gigante, e nada que me diziam conseguia cessar minhas lágrimas.

Faziam-se poucas horas do inicio do velório, eu estava abraçada á João Pedro enquanto chorava incessantemente, encarar todas aquelas pessoas que eu amo, e que á dias atrás estavam comigo comemorando o aniversário de minha avó, e que agora estamos em uma realidade completamente diferente, é extremamente doloroso!

Senti o beijo que João Pedro deu sobre minha cabeça antes de se afastar dizendo que buscaria um copo d’água pra mim.

Solucei assentindo e passei a mão sobre meus próprios braços começando a sentir frio.  Funguei enxugando algumas lágrimas quando senti uma mão tocar de leve á minha cintura. Olhei para trás e por um nano segundo senti um alivio desconhecido. Era Luan ali, me encarando como quem queria e iria me proteger de tudo e de todos. Me esqueci da raiva que estava dele naquele momento, me esqueci dos nossos problemas e até da nossa distância. Eu só precisava dele ali. Dele e nada mais.

Virei-me com tudo e o abracei forte, sendo correspondida com a mesma intensidade enquanto chorava em seu peito e o ouvia sussurrar contra meu cabelo um “Calma, eu estou aqui”. Não me importei em molhar toda a sua camiseta, não me importei com os meus soluços e se quer com o quão desesperada eu parecia estar. Naquele instante eu tive a certeza: Luan era meu porto seguro!

Perdi á conta de quantos minutos fiquei ali abraçada á ele, de olhos fechados sentindo seu cheiro enquanto ele me abraçava forte e acariciava meus cabelos. Por instantes senti a dor da perca diminuir-se.

Ouvi um pigarreio e abri meus olhos tirando a cabeça do peito de Luan, era meu pai que encarava Luan de forma firme.

Pedro:  - O que você ta fazendo aqui rapaz? – perguntou de forma rude

Duda: - Pai... – pedi em um apelo o encarando como quem pedia para que ele parasse, sabia bem como meu pai se sentia em relação á Luan após toda a confusão da minha gravidez

Luan:  - Eu vim cuidar dela! – respondeu firme, os dois se encaravam olhos nos olhos. A tensão se dissipando em seus olhares

João Pedro:  - Isso não é hora cara! – apareceu colocando a mão sobre o ombro do meu pai e erguendo o copo d’água pra mim que eu peguei sem exitar

Ao perceber a pequena confusão que quase começará, Rober se aproximou com Laís que assim como eu estava chorando. Vi Rober encarar o amigo como quem trocavam palavras silenciosas.

Pedro: - A gente tem muito o que conversar! – falou firme pra Luan

Luan: - Eu tenho certeza! Mas não agora. Temos coisas mais importantes pra nos preocupar! – falou se referindo a mim, Luan não se sentiu inibido com o olhar do meu pai

Vi João Pedro olhar amigavelmente pra Luan antes de com a mão sobre o ombro dele o levar pra um pouco distante de nós. Engoli em seco e me abracei á Luan novamente.

Laís: - Vai ficar tudo bem amiga. – falou baixinho, mal vi quando ela se soltou de Rober se pôs á minha frente. Ela ajeitou meus cabelos que á essas alturas deveria estar todo fora do lugar. Sorri de canto e enxuguei uma lágrima que ela também deixava cair. Laís era como parte da família, e não era surpresa pra ninguém ela está sofrendo como uma

Duda: - Obrigado por ter cuidado de tudo Rober. – sussurrei finalmente agradecendo por tudo o que ele fez. Rober apenas sorriu compreensivo pra mim antes de abraçar Laís novamente á consolando

Á medida que ia anoitecendo o frio começava a aumentar, me agarrei mais ainda á Luan me negando e ir trocar meu short por uma roupa mais quente. Luan não desgrudou de mim por se quer um segundo, e seus carinhos em meu cabelo e costas por vezes me acalmava.

Á essas alturas eu já não tinha mais lágrimas para chorar, e aquilo pareceu acalmar um pouco Luan que se mostrava extremamente preocupado com meu estado.

Luan:  - Eu preciso ir ao banheiro. Você vai ficar bem? – perguntou baixinho contra meu cabelo

Duda: - Vou, não preocupa. – respondi um pouco rouca depois de chorar todo o dia

Luan deixou um beijo na minha testa antes de sair á procura de um banheiro,  não me atrevi á me aproximar do caixão outra vez, desde que Luan chegou ele não deixou, dizia que não era uma boa imagem para se guardar da minha avó, e eu concordava com ele. Fiquei quieta no meu canto relembrando tantos momentos que passei com ela, quando fui despertada por uma voz familiar.

- Duda?

Olhei para o lado e vi um homem alto, corpo atlético e barba feita. Não o reconheci apesar de sua voz ser familiar.

- Caramba, ta fazendo frio sua maluca! Veste isso! – disse tirando sua jaqueta de couro e colocando sobre meus ombros, nõ tive reação, apenas continuei o encarando enquanto me perguntava internamente que ele seria – Não ta se lembrando de mim? – riu abraçando-me mesmo sem eu corresponder

Duda: - Não. – falei baixo

-  Jonas Du. Não ta lembrada? – riu baixinho me apertando ainda mais em seu abraço

Assim que ouvi seu nome o abracei de volta. Como não o reconheci? Jonas foi um amigo de infância, mas que quando comecei á namorar com Luan, acabei perdendo o contato por conta do seu ciúmes , mas que assim que Luan foi embora e me encontrei grávida e sozinha, Jonas fez questão de reatar nossa amizade e me dar um apoio incondicional antes de ter que partir pra São Paulo tentar sua carreira de modelo antes mesmo de Arthur nascer.

Jonas:  - Eu sinto muito! Eu sei o quanto você era apegada com sua avó.  Ela está em um lugar melhor agora. – falou beijando o topo da minha cabeça

Assenti sentindo meus olhos faiscarem novamente com lágrimas brotando

Ouvi um pigarreio atrás de mim e me soltei de Jonas vendo Luan encara-lo de forma séria.

Duda: - Ah, vocês já se conhecem mas... Luan esse é o Jonas, e Jonas, esse é o Luan. – apresentei-os enquanto os via apertarem as mãos, Luan franziu o cenho, o nome era familiar pra ele, mas estava na cara de que ele não se lembrava realmente de quem se tratava

Jonas: - É um prazer. – disse antes de soltar a mão de Luan e voltar á me abraçar – É impressão minha ou você ta com uma barriguinha saliente? – perguntou risonho, ergui meu rosto encarando seu olhar e sorri, mas antes que eu pudesse responder, Luan fez isso por mim

Luan:  - É. Estamos esperando um bebê! – falou sério, olhei Luan e o conhecia o suficiente para saber quando ele queria “marcar território”, e mesmo a ocasião não sendo propicia para isso, ele pareceu não se controlar – Agora que estou me lembrando de você. O cara de virgem! – falou pensativo relembrando o apelido maldoso que Luan havia o posto, engoli em seco e olhei repreendendo Luan, mas para o meu alivio Jonas levou na brincadeira e ouvi sua risada baixa me abraçando ainda mais junto dele

Jonas: - O cara de virgem que você morreu de medo de se aproximar da sua namorada. Não confiava no taco Luan?

Duda: - Gente! Pelo amor de Deus! – soltei-me de Jonas, eu estava entre os dois e os encarei repreendendo-os – Isso não é hora nem lugar. Respeitem por favor! – falei irritada e cruzei meus braços antes de sair de perto dos dois

Não dei muitos passos antes de sentir alguém segurar meu braço. Sabia que era Luan, então nem me virei, continuei imóvel aguardando o que ele ia dizer, mas ele não o fez antes de me abraçar por trás e beijar minha bochecha sussurrando um pedido de desculpas.

Suspirei e deixei meu corpo relaxar sobre o dele enquanto sua mão pousou protetoramente sobre minha barriga. Era uma das raras vezes que eu e Luan tivemos aquele contato, e aquilo abalou-me mais ainda. Coloquei minha mão sobre a dele e segurei o choro.

Duda: - Queria tanto que ela conhecesse nosso bebê! – falei não mais contendo o choro, me virei e agarrei a camisa de Luan caindo no choro novamente enquanto ele me consolava.

[...]

Passamos a noite em claro, e pela manhã tudo teve fim. Um fim doloroso por sinal. Eu estava fraca, chorona e enjoada. Gravidez e grandes emoções com certeza não funcionam. Luan não saiu do meu lado nem por um segundo, e apesar de ver seu esforço para se controlar, percebia sua inquietação sempre que João Pedro ou Jonas vinha até mim tentar me consolar.

Ana:  - Você tem que almoçar minha filha, você ta grávida, não pode ficar assim. – insistia minha mãe enquanto saiamos do cemitério

Luan: - Ela vai comer dona Ana, nem que seja um pouco ela vai comer! – disse sério quando chegamos ao carro que provavelmente era de algum amigo ou parente seu de Campo Grande

Ana: - Eu não vou pra casa agora, não consigo entrar lá e lembrar da minha mãe – soluçou deixando meu coração partido – Mas já entreguei a chave ao Luan, quero que vocês fiquem a vontade.

Laís: - Tia, é melhor ela ficar lá em casa, tem o quarto de hóspedes, eles se ajeitam lá, aquele ambiente não vai fazer bem á Duda agora. – interferiu enquanto eu mantinha calada

Vi eles conversarem sobre algo por alguns minutos enquanto eu mal raciocinava, em minha mente só tinha a minha última imagem dela enquanto eu tocava sua mão fria. Só percebi que eles pararam de falar quando Luan gentilmente me fez entrar no carro. Ele foi atrás comigo enquanto Rober dirigia. Um silencio ensurdecedor no carro.

Duda: - Você não precisa ficar comigo, eu vou ficar bem na Laís, sei que você tem seus compromissos e...

Luan:  - Nada disso importa agora. Eu vim pra cuidar de você e é isso que vou fazer. – interrompeu-me firme. Não protestei, no fundo era exatamente aquilo que eu queria

Chegamos rápido ao apartamento de Laís, Rober saiu para comprar algo para comermos, enquanto eu, Luan e Laís nos sentamos á mesa em silencio.

Laís: - Mais tarde vou fazer aquele brigadeiro que você ama! – falou sorrindo, sabia que ela tentava me animar

Luan: - E se você ainda quiser me ensinar eu posso aprender aquele escondidinho de carne que você tanto ama.

Laís: - Já temos o cardápio da janta! O Netflix atualizou nossas séries. A gente pode comprar um monte de besteiras e nos juntar na sala.

Sorri assentindo, os dois faziam de tudo pra animar, mas nada naquele momento tiraria a tristeza que eu estava sentindo.

Deitei minha cabeça no ombro de Luan e sua mão começou a acariciar meu braço. Estavamos em silêncio quando Laís soltou uma de suas pérolas.

Laís: - O quarto de hóspedes vai ficar pra vocês, mas Duda, não ouse realizar seus sonhos eróticos na minha casa. Eu tenho boa audição e me impressiono fácil.

Olhei boquiaberta pra minha amiga e ouvi a risada de Luan ao meu lado, peguei uma das flores do seu arranjo de mesa e joguei nela antes de cair na risada completamente envergonhada. Como ela tinha coragem de contar isso e ainda mais na frente de alguém que eu nem estava mais juntos, mas que era justamente o alvo dos meus sonhos malucos?

Duda: - Você é maluca garota! Da onde tirou isso? – disfarcei sentindo meu rosto queimar

Laís: - Eu... li numa revista – disfarçou rindo amarelo enquanto Luan ainda ria ao meu lado

[...]

Consegui comer um pouco. Bem pouco na verdade, estava extremamente enjoada, mas preferi não dizer á ninguém. Rober, Laís e Luan formaram um complô contra mim e me obrigaram á tentar dormir alegando que uma noite em claro não era nada saudável para uma grávida. Relutante segui com Luan até o quarto de hospedes, Rober e Laís pelo jeito também tentariam dormir já que eu não ouvi mais se quer um barulho pela casa.

Entramos no quarto pequeno, porém bem organizado e Luan já foi logo tratando de fechar a cortina da janela para que o quarto ficasse escuro, foi quando me lembrei que as poucas roupas que trouxe ficaram no carro de meu pai.

Duda: - Luan, você pode ir até o quarto da Laís e pedir uma roupa pra eu dormir emprestada? – pedi me sentando na cama, meus pés estavam doloridos e começavam a inchar

Luan apenas assentiu antes de sair do quarto.

Tirei a sapatilha que eu usava vendo a bolinha que meu pé se formou, e antes que eu pudesse os massagear á procura de alivio, um enjôo forte me fez correr para o banheiro. Mal tive tempo de levantar a tampa da privada antes de começar  a jogar fora o pouco que eu havia comido. Acabei sujando um pouco minha roupa, não tive tempo o suficiente para abrir a provada e me posicionar antes de meu corpo começar a jogar tudo pra fora.

Eu já não tinha mais nada para jogar fora e apenas vinha a ânsia forte quando senti Luan atrás de mim segurando meus cabelos e passando a mão por minhas costas.

Duda: - Sai daqui Luan, isso é nojento! – falei depois de um tempo, estava fraca e como de costume de deixei sentar no chão

Luan: - Você ta toda fraca, não vou te deixar sozinha. – falou cuidadoso enquanto ajeitava meu cabelo e o amarrava agora de forma mais firme – Quando o Arthur dizia que você ficava mal, eu não imaginava que era tanto. – se ajoelhou frente a mim e passou o polegar por meu rosto de forma carinhosa

Duda: - Eu já to acostumada, sério, pode ir tentar dormir, foi uma noite longa! – suspirei jogando a cabeça para trás e a firmando na parede

Luan: - Tô acostumado á noites sem dormir.

Não o respondi, apenas fechei os olhos e assenti. Segundos depois senti sua mão levantando minha blusa na intenção de tirá-la.

Duda: - O que você ta fazendo? – falei abrindo os olhos e olhando arregalada para ele

Luan: - Você precisa de um banho, e eu vou te dar!

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Capítulo triste ein?! Mas parece que tem três pessoinhas bem dispostas á animar Duda, inclusive um certo cantor ♥ Tem também um pai meio bravo na área. Será que vai rolar conversa entre Luan e seu Pedro? E se rolar... como o clima vai ficar? Vai dar coisa boa ou não?

Agora, voltando ao apê da Laís, parece que tem um ex casal que vai ter que dividir o quarto... Luan esta cuidando muito bem da sua amada, e até banho nela quer dar. Duda vai deixar? Vai ser só um banho mesmo ou vai ter alguma recaída? Será que Luan vai se aproveitar disso ou Duda não deixará espaços? Lembrando que Laís soltou uma pérola que não passou despercebida por ninguém hahaha

Espero que tenham gostado, beijos ♥