174 - Vontades X Ações

Pensei em sua proposta de acompanhá-los, e por mais que no fundo eu quisesse, algo em mim falava mais alto para que não.

Duda: - Melhor não Luan. - sorri de canto agradecida pela convite

Laís: - E por que não? Você acabou de ter uma perca, precisa de uma distração.

Duda: - Eu sei mas...

Luan: - O Arthur iria amar uma semana de shows.

Duda: - Ele tem aula Luan.

Rober: - Ele é inteligente, isso não vai prejudicar ele Dudinha. Vamos vai? O Luan anda um saco sem você!

Tanto eu quanto Luan ficamos extremamente sem graça com o comentário de Rober, mas por fim resolvi ceder. Arthur vinha me cobrando isso á semanas.

Duda: - Tudo bem, vou pedir pro seu pai conversar na escola do Arthur e ver o que podemos fazer. - falei encarando Luan que apenas assentiu sorrindo de canto

Jantamos em um clima bom, Rober Luan e Laís tentavam me fazer rir a todo momento, e por hora funcionava. Ao terminarmos de comer fomos para a sala. Rober e Laís dividiriam o sofá maior, e Luan buscaria o colchão do quarto em que estávamos para colocarmos no chão e assistirmos á algo no Netflix.

Rober: - Vocês querem filme de que? - perguntou quando eu ajudava Luan a forrar o colchão

Laís: - Qualquer coisa menos terror.

Luan: - Mas terror que é bom! - riu

Duda: - Odeio drama.

Luan: - Não sou fã de comédia.

Rober: - Não gosto de romance.

Nos encaramos e caímos na risada. Não sobrava quase nenhuma alternativa que agradasse á todos nós. Eu e Luan nos sentamos no colchão com as costas no sofá e aguardávamos a escolha de Rober.Sempre que algum filme agradava á um, o outro repudiava.

Laís: - Ta, que tal então vermos uma série que nenhum de nós assiste. Série policial é legal.

Luan: - Eu gosto.

Rober: - Eu também.

Os três me olharam e eu dei de ombros assentindo, e logo começava uma nova série na TV. Apenas o que iluminava o apartamento era a TV. Rober e Laís estavam grudados no sofá, e eu suspeitava que qualquer movimento eles cairiam sobre mim e Luan que estávamos deitados afastados um do outro no colchão, dividindo a mesma coberta.

A série mal começou e Luan iniciou seu lado insaciável.

Luan: - Você não fez brigadeiro?

Duda: - Fiz.

Luan: - E por que não estamos comendo?

Duda: - Porque acabamos de comer!

Luan: - E não pode comer de novo só porque comeu uma vez? Se fosse assim não existiria sobremesa!

Duda: - Não deu tempo de gelar Luan. - falei entediada sem tirar os olhos da TV, apesar de ter a certeza de que ele me encarava

Luan: - E se colocar no congelador?

Laís: - Fica duro e ruim! Agora dá pra calar a boca e ouvir lá?!

Luan: - Eu tô com fome!

Rober: - A gente acabou de comer boi. Presta atenção aí, se não daqui a pouco você começa a sua perguntação!

Luan: - Isso ta chato!

Duda: - Não Luan! Você quem tá chato! - falei o encarando e bufei em seguida, Luan encarou a tela e naquele exato momento passava uma loira bonita

Luan: - É, até que isso é bem interessante.

Apenas olhei Luan de relance e revirei os olhos. Está ai uma desvantagem de se manter amizade com seu ex. Em outras épocas eu demonstraria que aquilo de certa forma me incomodava, agora, não tinha esse direito. E era extremamente estranho me acostumar com isso.

*Luan Narrando

Comecei a prestar atenção na série policial que começavamos a ver. Devo confessar, não é tão chata quanto achei que fosse. A história é envolvente, e uma das personagens principais mais ainda.

Comentei sobre ela apenas de brincadeira, e desde então percebi Duda me olhar de canto sempre quando ela aparecia na TV. Fingi não perceber, mas por dentro a parte egoísta de mim vibrava por alegria de Duda ainda sentir ciúmes de mim.

Nem percebemos quando encerramos a primeira temporada. Estavamos tão concentrados em cada detalhes que esquecemos até das horas. Fiquei feliz por Duda por algum tempo ter se desligado da morte da avó. Enquanto Rober colocava na segunda temporada, Duda foi por fim pegar o brigadeiro pelo qual insisti o último episódio inteiro.

Minha loira o dividiu em dois recipientes. Um para Rober e Laís, e outro para nós dois. Fiquei feliz por enfim ter uma desculpa para diminuir a distância de quase dois travesseiros que tinha entre a gente. Cada um de nós pegou uma colher e sentados começamos a assistir a segunda temporada.

Quem mais comeu foi eu, Duda apenas beliscou, em menos de vinte minutos depois senti ela aos poucos ir deitando com a cabeça em meu ombro. Passei meu braço por ela e á abracei a fazendo se aconchegar mais em mim. Não nos importamos com Rober e Laís que com certeza nos olhavam risonhos, apenas curtimos a presença do outro.

Laís: - Acho que tá na hora de dormirmos amor. - disse bocejando

Rober: - Mas já? Acordamos agorinha! - riu

Laís: - Mas já vamos de novo! - disse autoritária - Anda, vem. Boa noite pra vocês.

Eu e Duda os respondemos com um unissono e assim que não ouvimos mais os passos de ambos, Duda deu uma risadinha me deixando perdido.

Luan: - O que foi? - ri também, mesmo sem saber

Duda: - Não percebeu? - me encarou com um sorriso lindo. Deus como eu amava o sorriso dessa mulher!

Luan: - Não. O que?

Duda: - Jura Luan? - riu - Nossa, você é muito lendo! - gargalhou

Luan: - Só pra pensar né? Em outras coisas não sou nada lento! - falei malicioso e ela riu tampando o rosto

Duda: - Para com isso! - riu negando

Luan: - Mas me fala, o que não percebi? - perguntei enrolando seus fios em meu dedo

Duda: - A Laís arrastando o Rober pro quarto só pra deixar a gente sozinho.

Luan: - Sério? - ri - Por isso que amo aquela menina! - falei em tom de brincadeiro, mas mesmo assim Duda corou sorrindo timída - Falei com meu pai no whatsapp. Eles vão no show de depois de amanhã pra levar o Arthur pra gente.- comentei tentando voltar a deixá-la a vontade

Duda: - Obrigado. - sorriu de canto encarando a TV antes de voltar a deitar a cabeça em meu ombro

Nos mantivemos em silêncio por um longo tempo assistindo a série, quase uma hora depois que senti algo molhando meu ombro e um soluço repentino.

Luan: - Ei, você ta chorando? - perguntei sem obter respostas - Olha pra mim aqui vai. - pedi e meio relutante ela me encarou.

Segurei seu rosto com ambas as mãos e limpei suas lágrimas. Já esperava por aquilo. Duda esteve forte por muito tempo, e logo essa sua máscara de durona iria cair.

Duda: - Quem vai me dar os melhores conselhos agora Luan? Quem? - perguntou em meio ao choro enquanto eu á envolvia em meus braços

Luan: - Calma! Ela vai continuar te guiando meu bem, se acalma! - pedi baixinho enquanto á apertava

Deixei que Duda chorasse tudo o que tinha para chorar, e fiz o meu papel de seu ombro amigo ali, enquanto acariciava seus cabelos e deixava ela desabafar. Quando seu choro começou a cessar me lembrei de uma música religiosa que ouvi no velório de minha avó. Mesmo sem me lembrar de todas as partes, cantei aquela música para ela. Eu já havia sentido sua dor, e sabia que não era nada fácil.

Luan: - Vem, vamos deitar. Dona Cecília não ia gostar nada de ver a neta preferida dela chorando!

Duda: - Ela era doida pra te rever. Sempre quando eu estava com ela eu falava de você, eu prometi que levaria você pra ver ela novamente e não cumpri!

Duda voltou a chorar compulsivamente, por insitindo á coloquei de lado em meu colo e á aninhiei em meus braços. Queria que toda sua dor fosse minha, apenas para vê-la feliz.

Luan: - Agora ela me vê meu bem. Me vê lá de cima, sempre ao seu lado. - beijei sua testa

Duda ficou caladinha em meus braços, apenas sabia que estava acordada pelos soluços e pela forma que seus dedos brincavam pela gola da minha camisa.

Duda: - Eu precisava tá com a minha mãe agora. Ela deve tá sofrendo tanto quanto eu. - disse com pesar

Luan: - Não, você não precisa. Sua mãe tem o seu padrasto pra consolar ela nesse momento, e você tem a mim. Vocês duas juntas agora, seria sofrimento em dobro. Ela entende a sua dor, e aposto que tem o mesmo pensamento que o seu. Quando você se recuperar você visita ela. Se ela ver você assim, ela só vai perder o resto de forças que á resta.

Duda: - Eu não posso abandonar ela agora Luan. - senti ela se afastar e tirar seus braços de ao meu redor. Logo seus olhos vermelhos e inchados se encontraram com os meus - Essa viagem é errada. Minha família toda de luto e eu...

Luan: - E você também de luto vai apenas acompanhar o pai dos seus filhos em alguns compromissos profissionais. Vai por mim loira, vai te fazer bem. - coloquei seu cabelo atrás da orelha - Você precisa de um pouco de distração. Uma viagem não é pecado nessa situação.

Duda se calou,apenas firmou seus olhos nos meus. Pareceu uma eternidade. Mergulhei no verde mar do seu olhar e me perdi. Pintou um clima. Fiquei louco de vontade de beijá-la. Saudade, amor, paixão... tudo veio a tona. Senti a mão fria de Duda sobre meu pescoço, e ainda em meu colo vi quando ela começou a se aproximar. Já podia sentir sua respiração tentadora em meu rosto quando neguei seu beijo de forma delicada.A expressão que surgiu em seu rosto, em milésimos, foi igualada a facadas em meu peito. Mas eu não podia. Não outra vez. Decepcionaria a mim mesmo se caísse em tentação. Todo o meu tratamento iria por água abaixo. De repente, quando senti ela se afastar do meu colo aos poucos, percebi. Maior que a minha tristeza em negar seu beijo, foi o misto de decepção e mágoa que inundaram o dela.


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