187 - Reencontro

Duda: - Não me dá mais um susto desse menino! Meu coração não aguenta! E a próxima vez que você descer aquelas escadas correndo, eu juro que eu é quem vou quebrar seu braço!

Arthur: - Desculpa, eu me empolguei. Podemos ver meu pai?

Ana: - Já acabou o horário de visitas meu bem. Amanhã você e sua mão vão vê-lo.

Arthur: - Mas eu queria hoje vó! Já sei! E se eu oferecer um CD autografado do meu pai pra quem controla as visitas? Meu pai disse que isso sempre funciona!

Acabei rindo. Não podia o culpar das coisas que Luan dizia. E eu estava feliz demais dele ter acordado para perder tempo dando broncas em nosso filho.

Duda: - Vou fingir que não ouvi isso Arthur. - ri - Também estou louca de vontade de ver ele mas...

Ana: - Mas vocês dois vão pra casa e vão ter uma boa noite de sono! Eu estou mandando!

Eu e meu filho nos entreolhamos e assentimos. Fui no banco de trás com ele. Depois de um tombo na escada, e um baita susto, voltamos com Arthur com três pontos na testa e o braço engessado.

Arthur: - Eu te disse que ele ficaria bem. Confia mais em mim mamãe.

Sorri suspirando. Segurei sua mãozinha livre e assim adormeci. Contando os milésimos para ver Luan novamente amanhã.

*Luan Narrando

Luan: - Essa comida é horrível! Isso não pode ser chamado de café da manhã! Quanto é a diária disso aqui pra me servirem isso? Eu tô com fome, preciso de comida, há duas semanas que não sei o que é isso!

Roberval: - Você acordou um saco de chato em boi! - riu - Come, você só pode isso, é a dieta do pós cirúrgico.

Luan: - Aumento seu salário se tu trazer um X-bacon e a Duda pra mim.

Ouvi a gargalhada do meu amigo, e depois uma batida na porta. Meu coração disparou, queria que fosse ela, mas era apenas a velha puxa saco da enfermeira. Ela colocou mais alguns remédios junto com o meu soro e me perguntou como eu estava. Pedi uma comida descente e como todo mundo ela me ignorou. Aquilo não era comida, e se fosse, não encheria nem um recém nascido. A velha deu as costas e quando ela fez isso eu comecei á imitá-la fazendo Rober ter que segurar a risada. Quando ela saiu do quarto Rober pode enfim rir, eu fazia o mesmo quando a porta se abriu outra vez. Nem olhei naquela direção com certeza a velha coroca tinha esquecido algo. Estava errado. Uma voz conhecida fez meu coração disparar. Nunca estive tão feliz e completo em ouvir a palavra papai. Ele não me deu tempo de virar ou de agir. Abraçou-me apenas com um braço e me faz quase chorar com a força de seu sentimento.

Arthur: - Eu senti tanta saudade. Sabia que você ia ficar bem! Eu amo você pai!

Arthur não era nada de dizer aquilo, e ouvir me pegou de surpresa. Fechei mais meus olhos e o abracei com a mão que pude.

Luan: - Eu também te amo demais campeão!

Ouvi um fungado e abri meus olhos ainda abraçado ao meu filho. Á vi da porta. Meu coração quase saiu da boca. Saudade, foi apenas isso que se passou por todos os meus poros. Saudade de cada centímetro dela. Por dentro e por fora. Á olhei detalhe por detalhe. Os pézinhos inchados, as pernas expostas pelo vestidinho rodado, a barriguinha maior. Caramba, que barriguinha linda! Subi meu olhar agora rápido. Vi seu sorriso. O sorriso dela era o mais lindo do mundo, posso jurar. Vi lágrimas próximo á ele e então encarei meu ponto de paz. Seu olhar. Foi como se nos tocássemos sem nem próximos estar. Verdes no castanho, castanho no verde. Houve uma troca de energia ali. De amor principalmente. Ela levou as mãos a boca e caiu num choro emocionado. Sibilei um "vem cá" tão emocionado quanto o dela. Senti o meu mundo em meus braços quando ela abraçou eu e Arthur de uma só vez.

Podiam me tirar tudo, mas desde que eu os tivesse, estaria em paz. Senti ela beijar todo o meu rosto e ri de Arthur querendo sair de toda aquela melosidade. Quando por fim ele conseguiu que eu pude o ver. Braço engessado e alguns pontos na testa.

Luan: - Acho que perdoo você não ter vindo me ver antes. - sorri pra minha loira - Parece que teve alguém aprontando por ai.

Arthur: - A culpa foi sua. Me empolguei que você deixou de ser dorminhoco e enfim acordou e cai da escada!

Luan: - Caiu da escada cara? E como você tá? E a dengue? Ta melhor? Melhorou do tombo?

Duda: - Como... como sabe? - olhou-me surpresa

Luan: - Ouvi todas as histórias loira. Você não me abandonou de cá, e eu não te abandonei de lá! - pisquei um olho pra ela sorrindo ao dizer-lhe uma das frases que me disse quando eu estava desacordado

Rober: - Ai cara, vou sair daqui se não eu vou chorar.

Rimos de Rober todo emocionado, olhei pra Duda e ela pra mim. Novamente aquela troca de olhares intensa.

Duda: - Meu amor, por que não vai com o tio Rober um minutinho?

Arthur: - Meu pai mal voltou e já vão ficar sozinhos. - revirou os olhos

Luan: - Jajá você volta cara. Quero saber de tudo que aconteceu!

Arthur sorriu pra mim e saiu com Rober. Assim que ele fechou a porta Duda se aproximou. Dessa vez nos abraçamos sem nada no meio. Enterrei meu rosto da curva de seu pescoço. Queria nunca sair dali. Ouvi seu choro angustiante, e sem me importar com todos os fios e o soro em meu braço eu a abracei toda, com força.

Luan: - Eu tô aqui meu amor. Não chora!

Duda: - Me perdoa! A culpa foi minha. - soluçou

Luan: - Não foi. Eu  nunca me perdoaria se você estivesse comigo naquele carro.

Duda: - Como aconteceu?

Luan: - Eu não sei. Juro. Não sei como bati. Acho que perdi o controle. Agora esquece, tô aqui com você, e não vou te deixar mais.

Nos soltamos um pouco, o suficiente para olharmos um nos olhos do outro.

Duda: - Me conta tudo. Sua irmã disse que sempre me ouvia.

Luan: - Eu conto, mas antes, mata essa vontade que ta me matando.

Segurei seu rosto com ambas as mãos, Duda não se importou com nada e eu também não. Colamos nossos lábios e senti a melhor sensação da minha vida. Jamais deixaria de beijar seus lábios, jamais permitiria que outro alguém conhecesse esse paraíso que é só meu. Duda parecia com medo de me machucar, a provei que não deveria, e esquecendo completamente que estávamos no hospital, lhe dei um beijo que jamais sairia de nossas mentes.

[...] Uma Semana e Meia Depois

*Duda Narrando

Luan havia por fim recebido alta, mas era extremamente delicado seu processo de recuperação. Ele não quis passar por tudo isso na inquietude de São Paulo, e preferiu a paz de sua chácara em Londrina. Ele estava bem, apesar de toda a medicação que deveria tomar, e o receio que tínhamos de ele ter uma crise epilética, consequência de sua cirurgia na cabeça.

Juntamente com sua família e uma fisioterapeuta para cuidar de sua perna, fomos rumo ao que Luan chamava de paraíso particular.

Estava ajudando Luan á se endireitar na cama, organizando alguns travesseiros em suas costas. A viagem foi cansativa pra ele.

Marizete: - Já arrumei seu quarto e do Arthur Duda.

Luan: - Como assim quarto dela e do Arthur?

Marizete: - Você precisa de espaço Luan!

Não disse nada, Marizete andava ríspida comigo e eu não queria causar mais problemas, apesar de ser a primeira vez que ela tenha feito atitude do tipo.

Luan: - Ela ta cuidando de mim. Não vamos ficar em quartos separados!

Marizete: - Também estou cuidando de você, e por isso que ela dormirá em outro quarto. Não estavam separados?

Duda: - Sua mãe tem razão Luan. - falei tentando manter a calma - É melhor eu ficar em outro quarto, afinal, não estou fazendo nada útil nos últimos dias mesmo!

Marizete: - Você quem está dizendo!

Luan: - Mãe!

Duda: - Vou cuidar do Arthur. Sua mãe cuida de você.

Beijei a bochecha de Luan e sai do quarto contando até mil, pronta para cuspir fogo.

Fui até a área de lazer onde encontrei Arthur na piscina com Bruna.

Laura: - Dias difíceis? - questionou a fisioterapeuta de Luan. Ela ficaria conosco por todo o tempo nos auxiliando com a perna de Luan, com a qual ele estava cheio de dificuldades em movê-la.

Duda: - Mais do que os outros. - suspirei

Laura: - Minha filha mais nova tem a idade do seu garotinho.

A olhei e sorri. Ela parecia tão fechada, mas aquele simples comentário me fez ver o quão errada eu estava

Duda: - Eles crescem tão rápido!

Laura: - Eu que o diga. O meu maior já está com quinze anos.

Duda: - Você não parece ter filho dessa idade. - a observei

Laura:- Hoje em dia se tem muitos tratamentos estéticos. - riu

Ficamos em silêncio por um bom tempo, Laura permaneceu ali comigo olhando Arthur e sua luta para não molhar o braço engessado. Marizete passou por nós, cumprimentou Laura e se quer me olhou, foi em direção a borda da piscina falar com Bruna e Arthur.

Laura: - Por que todas sogras são assim? Achei que ela seria diferente. - deu um risinho e eu á olhei sem entender - Ah, que isso, percebi que vocês não se dão muito bem. Mas ela parece tão doce que achei que não seria do tipo de sogra maquiavélica.

Duda: - Não é. - ri - Ela acha que sou culpada pelo acidente. Brigamos antes de o Luan bater o carro.

Laura: - Você não tem culpa se ele quis testar se o motor era realmente potente!

Ri negando e abaixei a cabeça, todo aquele clima com Marizete, o acidente com Luan e a recente perca da minha avó estavam acabando com o meu psicológico.

Comecei uma conversa longa com Laura. Ela era uma mulher muito sábia, não vi o tempo passar. Foi só quando percebi uma movimentação estranha que paramos de conversar por alguns segundos, olhei em direção á uma das entradas e vi Marizete vir abraçada com uma moça que arrastava uma mala. Começava a escurecer e tive que estreitar minha visão para a reconhecer. Praguejei em silêncio. Ela era tudo o que eu menos precisava naquele momento, ela era tudo o que meu relacionamento com o Luan precisava esquecer, e Mari sabia disso. Talvez seja esse o motivo dela estar ali: atormentar-me mais ainda. Como se não bastasse todo o mal que já causou um dia.

Amarildo: - Você? - disse tão surpreso quanto eu, nem percebi quando ele foi parar ao meu lado

- Sim. Vim pra ajudar com o Luan. Ele vai precisar de muitos cuidados!

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O clima entre a Mari e a Duda está cada vez pior... Como isso terminará? O que vai dar esses dias na chácara? Luan reagirá bem aos remédios, possíveis convulsões  e a Marizete e Duda em clima de guerra?

E o mais importante: quem será que chegou agora? Será que vem bomba por ai?

Espero que gostem, estou amando a interação de vcs ♥