188 - Passado

Olhei Camila com seu sorriso triunfante e suspirei. Na época de Campo Grande, Camila foi o pivô de várias discussões minha e de Luan. Sabe aquela prima que sempre é apaixonada pelo primo gatinho comprometido mas que ela não se importa se ele tem alguém ou não? Poi então, essa era a Camila. Ela nunca tentou se quer disfarçar seu interesse por Luan. Fomos amigas antes de eu e Luan começarmos a namorar, por sinal, fiquei pela primeira vez com ele graças á ela, porém assim que ela viu que ele estava comigo pra valer, ela se virou contra mim e começou a fazer de tudo para ter o primo só pra ela. Ela fazia questão de usar o vínculo de família para fazer Luan realizar todas as suas vontades. Luan era um cara família, e nunca aceitava que eu não gostasse de sua aproximação com a prima. Pelo o que bem me lembro de Matheus me dizer, a família tinha se afastado um pouco, e eu não entendo o motivo de justamente ela estar ali.

Amarildo foi o primeiro á cumprimentá-la tão surpreso quanto eu, e vê-la outra vez me trouxe uma das mais desagradáveis lembranças da época em que eu e Luan éramos adolescentes.

FlashkBack On:

Max: - Não acredito que vocês terminaram, ainda mais por esse motivo bobo!

Duda: - Você acha que eu tô errada?

Max: - Errada não, mas.. Ah, não era pra tanto! Ele tá com raiva. Mas não dou até amanhã pra voltarem. É a primeira briguinha séria de vocês, não estão acostumados, é só isso.

Duda: - Ele sempre se acha o certo e fica com raiva. - revirei os olhos - A prima dele tá quase tirando o violão dele e sentando no colo!

Max: - Ela é bem atirada né? Mas pera... vocês não eram amigas? Via vocês conversando de vez enquanto.

Duda: - Eramos, até eu começar a namorar com o Luan e perceber que ela é doida no primo. Mal fala comigo mais. E sempre quando comento com o Luan ele diz que é coisa da minha cabeça. - Max riu e aquilo me fez bufar

Max: -O Luan é lento, nem percebe isso.

Duda: - Ele é lento, não cego. Olha lá!

Já era madrugada, e no churrasco restava poucas pessoas. Era típico da gente churrascos como aquele, que reuníamos nosso turma de amigos e algumas pessoas da escola para ouvirmos Luan cantar e beber coca-cola. Rolava algumas pegações, mas eramos jovens demais para ser algo sério. Era tudo muito novo pra gente que estava a pouco tempo na adolescência. Pra mim e pra Luan principalmente. Nossa primeira briga boba e dizemos um ao outro não querermos mais ficar juntos. Foi na hora da raiva, mas cada um era mais orgulhoso que o outro. Mas estava disposta a tentar falar com Luan naquele churrasco, afinal, amanhã era um dia importante pra gente, dois meses de namoro, e eu não queria que fosse diferente, mas Luan parece que sim, já que topou participar da brincadeira que todos nós sabíamos que era pretexto para rolar alguns beijinhos.

Max: - Não vai pro jogo da garrafa? Eu tô indo.

Duda: - Não. Vai lá você.

Sorri sem graça, até a parte da manhã, todos acreditavam que eu e Luan estavamos namorando, e agora ele participava de um jogo que praticamente só rolava beijos. Fingi não o ver, continuei sentada observando tudo de longe, já havia ligado para que meu pai me buscasse e agora só me restava esperar observando tudo aquilo. Fui a única a não participar, mesmo muita gente convidando. Sempre foi tímida para essas coisas, e ao contrário do Luan, ainda não achava certo participar disso tendo em vista que "terminamos" naquela manhã. Tenho certeza que ele topou apenas para me provocar. Luan morria de ciúmes desde sempre, mas adorava causá-lo, e foi exatamente o que ele fez. Na primeira oportunidade que a garrafa caiu em Camila, a mesma foi logo pedindo consequência. Uma de suas amigas, com certeza com algo já combinado entre elas desafiou que ela ficasse com o Luan. Luan não pestanejou, se quer ficou sem graça por ser sua prima. Ele ficou com ela sem pensar duas vezes, e jamais esqueço o quanto chorei na volta pra casa após ter visto tal cena, que mesmo depois de voltarmos, Camila fazia questão de nos relembrar sempre com alguma brincadeira idiota. Luan nunca via maldade, e insistia em dizer que era "brincadeira de primos". Camila até por vezes quando estavamos sós, dizia que Luan era "nosso" namorado, e aquilo me irritava de forma sem igual, ainda mais pelo fato de Luan jamais ver maldade ou malicia nas coisas que ela dizia.

FlashkBack Off

Sai do meu transe com ela erguendo a mão para que eu apertasse. Sorrindo sem graça eu o fiz, e me pegando desprevenida Camila me puxou para um abraço que me fez odiá-la ainda mais. Algo me dizia que era tudo falsidade.

Marizete: - Vem, vou te levar até o Luan. Ele não pode ficar andando.

Sorri amarelo para ambas que seguiram para dentro e me sentei bufando novamente.

Amarildo: - Ainda não entendo o que há entre vocês duas. Você conheceu o Luan meio que através dela não foi?

Duda: - Foi.

Amarildo: - Mas parece que...

Duda: - Ela é apaixonada no Luan. Nunca percebeu?

Amarildo: - Ah, você também acha? - riu - Isso é coisa de primo Duda, todo mundo tem disso na vida.

Duda: - Nunca dei em cima de nenhum primo meu.

Amarildo gargalhou e sentou-se ali ao meu lado enquanto começava a me contar algumas histórias da sua juventude rodeada de primos e amigos.

*Luan Narrando

Nunca senti tanto sono em toda a minha vida. Minha medicação era forte e eu passava a maior parte do tempo dormindo. Estava em um dos momentos que luto contra a vontade de dormir novamente quando minha mãe adentra o quarto com um sorriso. Vi a figura de alguém atrás dela e fiquei curioso.

Luan: - Quem tá ai?

Minha mãe não teve tempo de responder. Vi apenas a sombra de alguém correndo e pulando ao meu lado na cama antes de me abraçar. Meio assustado ri da euforia de quem quer que fosse. Quando por fim a menina de cabelos escuros me soltou, fiquei completamente surpreso ao ver Camila, minha prima.

Luan: - Caramba, quanto tempo muié! Passou a raiva? - perguntei sorrindo. Como toda família tinhamos nossas discussões, e a última foi diretamente minha e de Camila, que as vezes gostava de usar um pouco do nosso sobrenome na rede e do seu parentesco comigo para algumas atitudes que julguei serem desagradáveis.

Camila: - Esquece aquilo. Eu já esqueci. Vim pra cuidar de você. Sua mãe disse que você não estava mais bravo e sabe, você é o meu primo preferido!

Luan: - Deixa disso muié. Já viu meu moleque? Acho que tá na piscina com a Piroca.

Minha mãe saiu de fininho encostando a porta e me deixando a sós com Camila. Sempre fui muito próximo da minha família, e esse tempo todo afastado, fez com que eu a Mila passassemos horas conversando e dando gargalhadas de algumas histórias antigas.

Duda não apareceu mais em meu quarto, o que me fez lembrar do ciúme imenso que ela tinha de Camila quando eramos mais novos, tudo isso fruto de uma brincadeira boba que se quer me lembro direito. Camila quem me lembrou e acabamos rindo das diversas vezes que Duda ficava até vermelha. Era um ciúme desnecessário, mas ela levava aquilo a sério, o que era bem engraçado já que Camila era apenas minha prima.

Começamos a ver filmes, logo Arthur adentrou o quarto dizendo querer passar mais tempo comigo, e quando perguntei de sua mãe ele me tranquilizou ao dizer que ela, Bruna e a minha fisioterapeuta estavam jogando conversa fora. Ainda não tinha muita força para me locomover, e nem me dava bem com a muleta que eu tinha que usar para me auxiliar a andar enquanto o movimento completo da minha perna não voltasse, então, preferia continuar quieto relembrando histórias e assistindo filmes com Camila e Arthur.

Só percebi o quão tarde era quando minha mãe veio me trazer o remédio que eu tinha que tomar pela madrugada, e levei o maior susto ao constatar o quanto o tempo passou rápido.

Marizete: - Dormiram. - afirmou baixinho ao me entregar um copo com água

Olhei Camila do meu lado direito e Arthur do esquerdo e realmente ambos haviam pegado no sono.

Luan: - O quarto que ela vai ficar já tá pronto? Vou acordar ela.

Marizete: - Deixa a coitada ai. A viagem deve ter sido cansativa. Sua cama é espaçosa. Eu levo o Arthur e vocês dormem folgados ai.

Luan: - Não era a senhora que não deixou a Duda dormir aqui por que eu precisaria de mais espaço? - perguntei desconfiado

Marizete: - Não discute comigo Rafael. E não vá acordar a coitada. Há muito tempo que nossa família não se une assim de novo. Agora dorme ou os remédios não farão efeito.

Com um tom autoritário minha mãe pegou Arthur com cuidado no colo, ele se quer abriu o olho, e ainda séria ela saiu do quarto como se me repreendesse silenciosamente. Olhei minha prima ao meu lado. Ela era bonita até. Mas minha loira era mais. Camila suspirou em seu sono e se mexeu toda na cama quase grudando em mim. Arregalei os olhos, e de repente, como se em um raio, tudo começou a fazer sentido.

Minha mãe sabe exatamente o quanto Duda era ciumenta em relação a Camila, por vezes anos atrás quando eu e Duda brigávamos por esse motivo, minha mãe sempre me chamava em particular e dizia que Duda tinha razão. E de repente ela está  puta com a minha namorada, e justamente alguém que ela sabe que ela morre de ciúmes e que poderia fragilizar nossa relação, ressurge por convite da minha mãe, mesmo que há tempos estejamos todos um pouco afastados. Caramba. Minha mãe é uma cobrinha. Agora entendo como Bruna foi tão malvada quando odiou Duda. Duda. Puta merda. Primeiro teve de lidar com a minha irmã querendo sua caveira. E agora a minha mãe.

Estava pronto para me levantar quando um braço pousou em minha barriga. Revirando os olhos me desvencilhei de Camila e com bastante esforço me levantei pegando minha muleta. Me sentia um idoso usando aquilo. Sorrateiramente abri a porta do quarto fazendo o mínimo de barulho possível. Estava tudo escuro, e com a luz do celular fui tentando ser o mais silencioso - o que era difícil já que eu tinha que ser quase um saci pererê - rumo ao quarto que Duda estava.

Não bati na porta, tinha que ser rápido. Me sentia uma garota adolescente com medo de os pais á pegarem com o namorado. Abri e porta e estava tudo escuro, exceto pela luz do seu celular ao qual ela mexia de costas a mim. Foi só eu dar o meu primeiro passo - ou pulo - para ela notar a minha presença ali.

Duda: - O que você ta fazendo aqui? - perguntou levando a luz do celular para a minha direção

Luan: - Testando pra ver se ser o saci era tão legal assim. - revirei os olhos e sem querer deixei a muleta cair ao sentar na cama, o que fez um barulho alto

Duda: - Desastrado! - falou se levantando rápido e trancando a porta

Luan: - Trancando a porta é loira? - falei malicioso, mesmo ela estando com o pijama mais broxante do mundo cheio de corações e vacas

Duda: - Se sua mãe te ver aqui vai falar que eu tô...

Quando ela voltou pra cama falando sem parar, á calei com meu dedo indicador, não adiantou muita coisa já que ela tirou minha mão da sua boca.

Duda: - Por que não preferiu ficar lá com sua priminha? - disse com toda irônia possível

Luan: - Ciúmes ainda? - perguntei descrente

Duda: - Você não percebeu? Sua mãe, ela, ela fez de propósito! - disse irritada - Eu até entendo ela estar chateada comigo, mas isso foi jogo sujo. E também....

Á calei novamente, dessa vez com toda a minha mão sobre sua boca. Estavamos ambos sentados com as costas na cabiceira da cama. Somente a luz dos nossos celulares é que clareavam aquele cômodo.

Luan: - Eu percebi, e tô aqui. E tô pouco me importando também! A Camila é só...

Duda: - Só uma prima que você gosta muito e eu tenho que parar de ciúmes. - repetiu mesmo com a minha mão em sua boca o mesmo discurso que eu sempre lhe fazia anos atrás.

Luan: - Também. Mas não era só isso que eu ia falar. Ela é só uma prima e que não me importa se minha mãe a trouxe aqui por que sabia que ela se jogaria em cima de mim...

Duda: - Então você assume que ela se joga em cima de você? - interrompeu ainda com a boca tampada

Luan: - Cala a boca e deixa eu falar. Eu não me importo se ela fizer ou não isso. Eu tô aqui não tô? Me sentindo o saci pererê cantor, tampando essa sua boquinha inteligente e tentando te fazer entender que deveríamos estar nos pegando ao invés de ligando pra minha mãe ou pra Camila! Dá pra entender agora que eu quero você?

Duda mordeu minha mão como resposta e eu por fim destampei sua boca.

Duda: - Devo ter jogado pedra na cruz! Quando sua irmã me aceitou a sua mãe decide declarar guerra. - suspirou

Luan: - Ela não tá declarando guerra. - a defendi sem jeito

Duda: - Não? Então o que é isso então?

Luan: - Esquece minha mãe caramba. Poxa, vem cá cuidar do mim. - fiz charme passando a mão em sua coxa

Duda: - Para! Voce tá doente.

Luan: - Doente, não morto! - mordi seu ombro enquanto ela segurava minha mão á impedindo de passá-la por suas pernas

Duda: - Voce é muito pervertido!

Luan: - E voce é muito gostosa! - levei minha mão até seu rosto á virando pra mim

Duda: - Para, eu to toda descabelada e com meu pior pijama. - disse manhosa se esquivando do meu beijo

Luan: - Não te quero pra tirar foto! Te quero pra te encher de beijo nessa boca gostosa!

Mordi o lábio inferior dela o puxando pra mim, e logo quem me beijava era ela. Eu ainda estava todo dolorido pra me mexer, mas não me importei quando ela sentou-se no meu colo.

Duda: - Suas fãs estão preocupadas - disse beijando o canto da minha boca

Luan: - Voce tá no meu colo e quer mesmo falar sobre isso agora? - perguntei passando a mão em sua bunda

Duda: - Pode parar abusado. - riu - Voce não pode nada disso.

Luan: - Como assim, não posso? - perguntei assustado

Duda: - Bastante repouso e nada de esforço. Três meses.

Luan: - Cê vai por cima! Nada de esforço! - sorri mordendo seu queixo

Duda: - Você não vai me convencer. - riu saindo do meu colo

Luan; - Isso, atiça e me deixa na vontade mesmo!

Duda: - Eu só te beijei!

Luan: - No meu colo!

Duda: - Da próxima vez não vou pro teu colo então. - falou sorrindo travessa saindo da cama, mas segurei sua mão

Luan: - Não, onde vai?

Duda: - No banheiro. Grávidas vivem de fazer xixi. - revirou os olhos

Beijei sua mão antes de soltá-la e fiquei encarando nossos celulares enquanto ela usava o banheiro. Lembrei-me então do que ela me disse sobre minhas fãs. Decidi fazer uma surpresa. Uma live no facebook, sem avisos prévios na madrugada. A maioria ficavam online essas horas, e quem não estivesse, amanhã de dia eu poderia fazer algo mais elaborado após conversar com o pessoal do escritório. Quis surpreende-las, e realmente fazia um tempo que eu não realizava algo assim. Eu só não imaginava quanto conteúdo isso daria. E não seria apenas coisas positivas.

Comentários

  1. Sempre tem o lado ruim de fazer surpresas :/
    Ainda bem que o Luan se tocou do que sua mãe esta fazendo, isso não pode afetar a relação deles

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