191 - Influência ou Vontade Própria?!

Adentrei a cozinha e encontrei Marizete picando alguns legumes. Suspirei e me aproximei.

Duda: - Oi.

Marizete se assustou com a minha presença e apenas me encarou sorrindo fechado e logo voltou ao que estava fazendo sem me responder.

Duda: - Precisa de ajuda?

Ela apenas negou com a cabeça, e sem saber por onde começar, mesmo ela negando, peguei outra faca e comecei a lhe ajudar a picar os legumes á ouvindo suspirar em reaprovação.

Duda: - Eu queria conversar com a senhora. - falei sem jeito

Marizete: - Já não está fazendo?

Respirei fundo procurando manter a calma enquanto ela ficava de costas á mim para mexer em uma das panelas já no fogo.

Duda: - Sabe, eu entendo a senhora. Realmente entendo toda a mágoa e a culpa que tá depositando em mim, mas...

Marizete: - Se entende, por que insiste tanto? - encarou-me.

Duda: - Por que sou mãe também Mari. O mesmo amor que você sente pelo Luan eu sinto pelo meu filho. E não é porque meu amor por ele é gigantesco que vou sair culpando aos outros uma atitude errada dele!

Marizete: - Você tá querendo me dizer que o Luan é quem foi inconsequente? É isso? - questionou aparentemente nervosa

Duda: - O Luan é adulto Mari! Se ele bateu por que estava correndo, ele sabia que isso poderia acontecer. Se foi falta de atenção, o erro também foi dele. Se ele não estava de cinto, também depende dele! Eu não tenho culpa do que aconteceu. Eu também me culpei por dias Mari, mas no fundo eu sei que não tive culpa. Talvez ele tenha ficado nervoso por nossa briga, mas isso não faz de mim a culpada de um acidente que nem mesmo ele sabe a razão. Ninguém pode nos dizer o que ocorreu aquela noite. Se foi negligência dele ou não. Se ele quem sofreu tudo isso não me culpa, por que então você o faz? Nada acontece sem a permissão de Deus Mari. Talvez tenhamos brigado justamente para eu não ter ido embora com ele. Já pensou no que aconteceria? Não digo por mim, digo por esse filho que carrego na barriga que com toda certeza não viveria para conhecer vocês um dia. Se é um pedido de desculpas que você espera de mim, eu faço. Só não me culpe. Não tente atrapalhar o que eu e o Luan temos, a senhora melhor do que ninguém sabe o quanto damos certo juntos e não é justo que...

Marizete: - Vocês dão certo juntos? Realmente é isso o que você acha Duda? Vocês só brigam, brigam e brigam! Minha raiva não é só do acidente. É de todo o problema que você envolve o Luan. São brigas, dramas, coisas tão fúteis! Já me enganei com você Duda, confiei e me decepcionei.

Duda: - Se você tá se referindo á eu ter escondido o Arthur, acredite, eu não me arrependo em hora alguma. - falei orgulhosa, á essas alturas meus olhos marejavam. Maldita gravidez que intensifica tudo - Foi por conta disso que vocês tem todo o luxo de hoje!

Marizete: - Você acha que meu filho não seria capaz de ser quem é hoje por conta do que você fez? - riu nervosa - O Luan é mais capaz do que...

Duda: - Eu sei do quanto ele é capaz Marizete! Mas talvez as oportunidades não tenham sido tão mais proveitosas caso ele tivesse alguém para se responsabilizar. Fiz o que fiz por amor á vocês todos e sei que nenhum de vocês jamais irão me perdoar, e acredite, eu não quero esse perdão. Eu só queria uma convivência tranquila com a mãe do cara que eu amo, Mas vejo que você vai tornar isso impossível!

Marizete: - Eu gosto muito de você Eduarda. É uma garota muito cheia de si e dos seus ideais. Mas você não é mulher pro Luan. O Luan precisa de calmaria, e não de turbulência. Você é tudo do que ele não precisa, principalmente agora!

Engoli o choro com suas palavras e prendi minhas lágrimas. Soltei a faca e quando me virei para sair da cozinha, dei de cara com Luan parado encarando a mãe duramente.

Luan: - Talvez eu não goste da calmaria mãe. Pela a vida que eu levo acho que a senhora já deveria ter percebido que eu amo a turbulência. Monotonia não é a minha praia! - falou firme.

Duda: - Luan, para. - pedi baixo me aproximando

Marizete: - Você não vê? Até brigar comigo, coisa que jamais houve você tá causando. Não percebe que agora ele não precisa disso? - falou chorosa.

Duda; - Desculpa. - á encarei. Vi Luan me olhar confuso e apenas neguei com a cabeça para ele.

Não queria aquilo pra mim. Não queria aquilo para ele. Talvez Marizete tenha razão. Ele precisa da calma que eu nunca o trouxe.

Luan: - Duda, espera! - pediu enquanto eu seguia rápido rumo aos quartos

Marizete: - Para de se esforçar Rafael! Senta!

Não ouvi a resposta dele, apenas ouvi sua voz  exaltada antes de fechar a porta do quarto onde me instalei.

Não tranquei a porta. Apenas me permiti chorar em silêncio e pedir á Deus uma luz. Pensei em ir para casa. Mas seria injusto deixar Luan num momento daquele. Ouvi batidas na porta. Enxuguei minhas lágrimas e disfarçando o que pude de minha cara de choro, pedi para que entrassem. Bruna foi a primeira a se aproximar com um sorriso amarelo, e para o meu desgosto Camila entrou logo em seguida.

Bruna: - Ei, não chora! - disse cuidadosa se sentando e me fazendo deitar a cabeça em seu ombro

Camila: - Não fica assim. - disse toda sem graça, aparentemente sincera.

Duda: - Tudo o que eu menos queria era causar discórdia entre o Luan  e sua mãe Bruna. Eu só queria viver em paz com vocês. Eu não tive culpa do que houve, eu sei que não!

Bruna: - Calma. A gente sabe que não. E quer saber? Quem tem mesmo que se importar com isso ou não é o Luan! Não sou eu, não é meu pai, não é minha mãe... apenas o Luan!

Camila: - É! E pelo o que a gente vê, ele sabe exatamente que você não teve culpa. Não liga pra isso Duda. É mágoa de mãe misturada com veneno de sogra. -olhei surpresa pra Camila e ri de leve da sua fala

Duda: - A gente se dava tão bem...

Camila: - Ninguém nunca se dá 100% com sogra. Ainda mais com uma feito minha tia que acha que o Luan é um bebê ainda.

Duda; - O Luan é apaixonado na mãe. E ela nele. Não quero ficar entre os dois. E sua mãe tem razão, o Luan precisa de calmaria agora. E não de nós duas em pé de guerra. Talvez eu devesse voltar pra casa.

Bruna: - Não! O Luan precisa de você. Ele se recupera muito mais rápido contigo.

Camila: - Bru, ela não precisa ir de vez. Quem sabe passar um ou dois dias fora. Deixar a poeira abaixar. Quem sabe sem ela aqui o Luan consiga fazer com que a tia entenda que as coisas não são como ela está pensando.

Duda: - E desde quando você me apoia ou se preocupa com isso Camila? Ah, claro, eu indo, assim você fica o tempo todo no pé do Luan! - soltei sem me conter e vi Bruna ficar extremamente sem graça enquanto Camila corava

Camila: - Não se preocupe Duda. Minha intenção era sair fora também. O Luan deixou bem claro pra mim hoje que é você quem ele quer. Ele é só meu primo, eu nunca iria querer...

Duda: - Não diga o que nós duas sabemos que não é verdade!

Camila: - Eu só não quero que a nossa família se afaste de novo Duda. Quero o mesmo contato que tínhamos antes. E se é você a mãe dos filhos do Luan, isso te inclui também!

Suspirei assentindo e senti a mão de Bruna em minha barriga.

Bruna: - Ele já mexeu?

Duda: - Ele?

Bruna: - O Luan insiste que é uma menina. Gosto de contrariar ele. - deu um risinho

Duda: - Se tiver mexido eu confundi com gases. - assumi fazendo as duas rirem

Camila: - Posso colocar a mão?

Vi em seu olhar que ela parecia realmente querer uma trégua entre nós, e apenas assenti. De todas as coisas na gravidez, esse carinho todo era o melhor.

Camila: - Ele ou ela já deve ser cheio de presentinhos! - riu

Duda: - Um pouco. Luan foi pra Disney com o Arthur e trouxe centenas de coisas. A maioria besteira. - ri - O essencial mesmo, esquecido como é, ele nem se ligou. Eu iria começar a montar o quartinho  e comprar tudo já por agora, mas com o Luan desse jeito não dá pra ficar saindo.

Camila: - Outro motivo pra você sair uns dias!

Bruna: - Não dá idéia. O Luan pira! - riu de leve e eu assenti concordando ao me lembrar de todo seu ciúme - Já pensaram nos nomes?

Duda: - Luan quem quer escolher se for menina. Mas não me disse que nome é. Agora se for menino eu gosto de Enzo.

Bruna: - O Luan vai odiar! - riu

Camila: - Vai mesmo!

Acabei até esquecendo da mini discussão de minutos atrás. Fazendo planos sobre o bebê com as duas, me esqueci até da raiva que eu tinha de Camila. Cerca de uma hora depois bateram a porta, e colocando a cabeça para dentro Luan entrou sorrindo manso ao ver que eu também sorria.

Luan: - Vaza cêis duas que quero conversar com a minha muié! O almoço tá pronto, vão lá!

Bruna: - Educação mandou lembranças. - reclamou rindo

Enquanto as duas saiam do quarto após deixarem beijos sobre minha barriga, ajeitei Luan confortável na cama colocando sua perna sobre um travesseiro.

Luan: - Tá doendo!

Duda: - Você se esforçou mais hoje. Tem que ficar quieto.

Luan: - Que falsidade era aquela sua e da Camila? - perguntou franzindo o cenho

Duda: - Não sei o que você disse á ela, mas deu efeito.

Luan: - Eu disse pra ela não dizer nada. Que fofoqueira! - reclamou fazendo careta ao forçar a perna

Duda: - Fica quieto! E desculpe pela sua mãe. Não quero ficar entre vocês dois.

Luan: - Não tá. - respondeu sem me olhar

Duda: - Eu sei que sim. Estive pensando em ir pra casa, talvez sua mãe tenha razão. - Luan dessa vez me encarou, calado, por longos segundos - Você quer que eu vá? - perguntei ligeiramente decepcionada por ele não ter repugnado a idéia de primeira

Luan: - Não, não quero que vá. Mas não quero que fique aqui presa á mim. Você tá grávida, tá jovem, abrindo seu próprio negócio... não tem que parar a vida por mim!

Duda: - Não fala assim! Eu tô aqui por que te amo! - o fiz me encarar enquanto segurava seu rosto

Luan: - A gente nem junto tá Duda. Não tem por que de ficar aqui!

Soltei Luan e suspirei o olhando desapontada.

Duda: - Se queria que eu fosse era só falar!

Luan: - Eu não disse isso Duda. Eu só disse que...

Duda: - Tudo bem Luan, eu entendi. - desci da cama com um suspiro - Vou falar com a sua irmã e já volto. Já comeu? - perguntei tentando agir naturalmente, mesmo que por dentro eu esteja toda quebrada

Luan: - Já.

Saí daquele quarto sentindo o olhar dele sobre mim, Bruna, Camila, Arthur e os pais de Luan e sua terapeuta almoçavam em silêncio.

Arthur: - Vem comer mamãe!

Duda: - Agora não meu bem, obrigado. Bru, você me leva até a cidade?

Amarildo: - Vai fazer o que lá filha?

Arthur: - Eu posso ir?

Duda: - Vou dar uma volta. - menti - Vou ver com o teu pai Arthur, mas acho que ele vai querer que você fique.

Arthur: - Só se a gente jogar XBox o dia todo.

Ri negando e Bruna prontamente aceitou me levar até a cidade, dizendo que assim que terminasse sua refeição me levaria.

Voltei para o quarto e vi que Luan mexia em algo em meu celular. Normalmente peguei as minhas poucas coisas que estavam espalhadas.

Duda: - Quer que o Arthur fique?

Luan: - Você se importaria?

Apenas neguei com a cabeça de costas á ele, sentindo meus olhos marejarem ao perceber que ele não fazia questão da minha presença.

Ouvi batidas na porta e Luan pediu que entrasse. Era Bruna dizendo estar pronta.

Luan: - Vão onde? - perguntou sem tirar os olhos do meu celular

Duda: - Ela vai me levar.

Luan finalmente soltou o celular e me olhou arregalado.

Luan: - Mas já? Duda...

Duda: - Tá tudo bem Luan. - sorri pequeno - Pega aquela outra bolsa pra mim Bru?!

Engoli o choro reprimido e me aproximei dele erguendo a mão para que ele me entregasse o celular.

Luan: - Você não tem que ir. - disse parecendo sentir-se culpado

Duda: - Tenho sim. - sorri sentindo meus olhos arderem - Fica bem. - beijei sua testa

Luan tentou segurar meu pulso para me dizer algo,  porém me desvencilhei dele antes que ele conseguisse e saí do quarto. Seja lá qual foi a conversa dele com Marizete, ela havia conseguido acabar com o pouco que reconstruíamos. E algo me fazia pensar que toda a gentileza de momentos atrás de Camila estava ligada diretamente á isso.

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Eita casalzinho sem sorte! Será que tem um motivo específico pro Luan ter aceitado que Duda fosse ou foi tudo influência da mãe? Camila esta mesmo mudando ou tem dedo dela nessa volta de Duda para casa?... Aliás, ela vai mesmo voltar para casa? O que vai rolar agora ein? O que será do nosso casal?