198 - Inconveniências do Passado

Meu voo atrasou quase uma hora, o que me deixou extremamente irritada. Amarildo e Arthur é quem foram me buscar no aero, e a notícia de que a equipe de TV dormiria toda na chácara me deixou ainda mais irritada. Mas não deixei transparecer tão na cara.

Duda: - Eles já chegaram?

Amarildo: - Já. Por isso Luan não veio, ele tava doido pra vir, mas a Mari aconselhou ele pra fazer sala pro pessoal.

Arthur: - A vó ta estressada com o pai hoje. – riu – Já deu uns quatro tapas nele!

Duda: - O que ta havendo?

Amarildo: - Os dois andam dando choque. – disse sem jeito

Duda: - Por que eu e ele voltamos?

Amarildo deu de ombros, mas eu já sabia sua resposta. Respirei fundo pedindo á Deus para me cobrir de paciência nesse fim de semana e fui o restante do caminho ouvindo Arthur contar sobre cada coisa arte que andava fazendo.

Assim que chegamos á chácara, a primeira a me receber foi Camila com um abraço e um sorriso. 

Mesmo com um pé atrás eu a cumprimentei com a mesma simpatia, apesar de ter todos os nervos do meu corpo irritados. Adentrei á grande sala de mãos dadas com meu filho e vi toda a equipe uniformizada sentados nos grandes sofás enquanto conversavam e comiam algumas quitandas. Luan, Marizete e Denise diviam o sofá menor, e sorri forçado ao ver que sua ex ficante tinha a mão em sua coxa enquanto contava algo animada.

Luan assim que me viu forçou-se a se levantar, ouvi Mari o repreender baixo mas ele não deu ouvidos e veio ao meu encontro sob o olhar atentos de todos.

Nos abraçamos forte e recebi seu beijo no topo da cabeça. Soltei da mão de Arthur e acariciei suas costas por cima da blusa preta que ele vestia.

Duda: - Você tá bem? – perguntei para que só ele ouvisse

Luan: - Tô. E você? Como foi de viagem?

Duda: - Foi tranquilo. – soltei-me dele um pouco e me pegando desprevenida ele selou nossos lábios rapidamente me fazendo corar.

Cumprimentei um por um que estava ali e até mesmo Marizete que sorriu falso pra mim quando peguei sua mão.

Sentei-me numa cadeira que era da varanda que Amarildo trouxe para mim e coloquei Arthur no meu colo enquanto todos retomavam seus assuntos. Luan me encarava sem nem prestar atenção no que falavam e eu fazia o mesmo enquanto só tinha olhos para o meu filho.

Marizete: - Vou fazer a janta. Vocês fiquem a vontade, se quiserem tomar um banho, descansar. – sorriu gentil

Sempre que Mari ia para cozinha eu me despunha á ajuda-la, mas estava tão sem paciência naquele dia que permaneci no meu canto fazendo carinho em Arthur.

Arthur: - A senhora ta bem?

Duda: - Tô. – beijei sua testa

Denise: - Não sabia que vocês haviam voltado – comentou me observando

Ergui a cabeça e sorri amarelo sem á responder. Luan fez isso por mim.

Luan: - A gente voltou sim né amor? Senta aqui comigo uai!

Duda: - Aqui tá bom. – sorri de canto pra ele e peguei á mãozinha de Arthur á beijando. Estava morrendo de saudades do meu filho

Luan me olhou estranho e logo ouvi o barulho de mais um carro chegando, franzi o cenho e olhei Luan buscando respostas. Ele comia ao redor da unha e olhava rumo a porta impaciente. Amarildo se levantou e foi recepcionar quem quer que fosse que estava chegando.

Ouvi vozes junto á de Amarildo lá fora, e além da dele uma outra conhecida, porém não conseguia me recordar de quem. Minutos depois três homens adentravam a sala junto com Amarildo, e um eu me lembrava bem. Ouvi o suspiro forte de Luan e encarei Luciano que se aproximava para me cumprimentar. Se antes minha irritação era de 100 por cento, agora era de 200!

Luciano: - Quanto tempo loirinha! Como tá linda! – sorriu largo pra mim

Luciano achou que eu me levantaria para cumprimenta-lo, mas ficou todo sem graça quando eu apenas lhe apertei a mão.

Cumprimentei os outros dois homens bem mais velhos e pedi que Arthur descesse do meu colo para eu ir a cozinha tomar um copo d’água.

Marizete: - Se continuar assim vai sair em todos os sites que a namorada do meu filho é sem educação! – comentou enquanto colocava água em uma panela

Respirei fundo e coloquei o copo sobre a pia.

Duda: - Ainda bem que eu não ligo para o que dizem ou pensam de mim sogra! – sorri falso pra ela que me olhou quase espumando de raiva e voltei para sala.

Denise estava de pé cumprimentando Luciano, e antes que ela ocupasse o lugar ao lado do meu namorado novamente, eu me sentei no seu lugar recebendo o olhar torto de algumas pessoas da sua equipe. Luan deu um risinho e passou o braço por meu ombro.

Luan: - Que bicho te mordeu? – perguntou baixinho em meu ouvido

Não o respondi, apenas continuei ali ao seu lado fazendo sala para todas aquelas pessoas que pareciam ter Luan como um Deus. Quanta hipocrisia.

A hora da janta chegou, e eu não tinha fome alguma. A mesa gigantesca agregou todos nós. Servi Luan e Arthur e jantei em silêncio, apenas absorvendo a conversa animada de todos enquanto Luan me encarava preocupado, provavelmente por eu ter comido pouco.

O pessoal ainda terminava sua refeição quando meu celular começou tocar. Pedi licença quando vi que era meu pai e fui até onde havia um pergolado próximo a piscina. Me sentei ali sozinha e atendi sua ligação.

Pedro: - Tudo bem meu amor? – perguntou assim que atendi. Respirei fundo e olhei as estrelas antes de o responder

Duda: - Tudo pai, e o senhor?

Pedro: - Chateado!

Duda: - Por quê?

Pedro: - Você não me conta mais as coisas! – reclamou sério. Senti meu coração disparar

Duda: - Do que o senhor tá falando?

Pedro: - Dessa entrevista que você vai dar junto com o Luan.  Pra que isso? Pra que se expor desse jeito com ele depois de tudo o que ele te fez?

Duda: - Pai, se o assunto for você ser contra nós dois juntos, o senhor me fala que eu encerro a ligação! – falei impaciente

Pedro: - Que isso Eduarda? Que má criação é essa? Eu só quero o seu bem menina!

Duda: - Eu sei o que é melhor pra mim pai. – falei cansada

Pedro: - Não, não sabe! Se soubesse estaria quieta na sua casa cuidando desse bebê, e não indo atrás de um cara que até bem dizer ontem não queria essa criança.

Duda: - Pai, você vai acabar me fazendo encerrar essa ligação.

Pedro: - Desliga mesmo Duda, só não vem chorar o leite derramado comigo depois. Eu tô tentando te avisar, mas você não me escuta! Não vou mais ficar na sua cabeça. Quer continuar com esse moleque? Pois bem, que fique! Mas não conta mais comigo quando você precisar. Vamos ver se esse carinha ai vai honrar as calças que tem. Boa noite Maria Eduarda!

Duda: - Pai...

Seu Pedro não me deu tempo de argumentar, e de forma grosseira encerrou a ligação. Fechei os olhos sentindo ambos queimarem e deixei que as lágrimas de irritação caíssem enquanto eu sentia a brisa leve da noite.

Senti alguém se sentar ao meu lado e colocar a mão em minha coxa. Achei que era Luan e por isso não me movi. Mas eu estava errada. Não era ele!

Luciano: - O que houve com a princesa?

Assim que ouvi sua voz tirei sua mão da minha perna com brutalidade o encarando com raiva.

Duda: - Você bebeu?!

Luciano: - É ele né? Percebi desde o primeiro dia que te fiz que aquele cara não te satisfaz. Agora acidentado então... Eu sei ser discreto loirinha.

Seu sorriso sacana e sua falta de vergonha me fez explodir. Quando dei por mim minha mão já batia forte em sua cara enquanto eu me levantava.

Duda: - Eu não sou o tipo de mulher que você tá pensando seu estúpido!

Vi ele levar a mão ao rosto onde eu havia batido e olhar-me mais safado ainda. Antes de eu perder todas as minhas estribeiras eu o dei as costas para voltar para dentro. Foi quando ouvi sua voz baixa e provocativa.

Luciano: - Não foi isso que o seu próprio namoradinho disse de você na virada do ano!

Seu riso foi perversamente nojento. Engoli todo o meu orgulho e fingi não o escutar enquanto voltei quase correndo para casa com as lágrimas descendo ainda mais intensamente. Hoje definitivamente não era o meu dia!

Entrei pela porta da sala já que todos estavam na cozinha, e corri para o banheiro antes que alguém me visse naquele estado.

Lavei meu rosto tentando me acalmar e cessar minhas lágrimas de puro ódio e cansaço e me olhei no espelho.

Hoje mais do que nunca eu queria que Bruna estivesse ali, para me dar seu colo e me aconselhar. Mas justo nesse dia ela resolver visitar alguns amigos de Londrina. Eu não contaria para Luan o que houve, sabia que querendo ou não a parceria com Luciano era importante em sua carreira, e também não queria estragar sua calmaria.

Engoli meu choro e minha raiva e molhei meu rosto outra vez, desfarçando minha cara de choro eu sai do banheiro dando de cara com Arthur.

Arthur: - Mamãe! O papai ta te procurando! – disse me abraçando pela cintura.

Duda: - A mamãe não tá se sentindo bem meu amor. Diz á ele que fui deitar e que não precisa dele se preocupar comigo.

Amarildo: - Tá tudo bem Duda? – assustei-me com a sua voz e olhei para trás o vendo de mãos dadas com Marizete

Duda: - Tá sim. – menti sorrindo fechado – O senhor deixou minha mala onde?

Amarildo: - No quarto do Luan. Você disse que não tá se sentindo bem, precisa de algum remédio?

Duda: - Não, só coisa de gravidez mesmo. – sorri outra vez e senti o olhar de Marizete cravado em mim me analisando – Eu vou me deitar, boa noite pra vocês. Boa noite meu amor – abaixei-me até 

Arthur – Não vá dormir tarde, mamãe ama você!

Beijei sua testa e fui rumo ao quarto de Luan, sentindo os olhares de meus sogros em minhas costas.

*Luan Narrando

Já fazia alguns minutos desde que Arthur me disse que sua mãe havia ido deitar, Luciano que havia sumido á pouco adentrava a sala de jantar novamente. O rosto um pouco avermelhado e um sorriso suspeito. Minha nuca esquentou e senti uma pulga atrás da orelha.

Todos ainda conversavam sem para, ora falando da beleza da chácara, ora elogiando a comida da minha mãe, e eu só tentava achar uma brecha para fugir dali.

Denise: - Tá inquieto, estamos te incomodando? – perguntou com  a voz suave em meu ouvido, sorri sem graça pra ela a apenas neguei com a cabeça. – Tá tenso então?

Luan: - Talvez. – respondi sem jeito olhando o quadro a minha frente. Senti Denise se aproximar mais e engoli em seco. Sua mão pousou em minha perna por baixo da mesa

Duda: - Vi que sua namorada também subiu. Ela estava tão tensa quanto você. Acho que tá faltando algo no relacionamento de vocês. Se quiser, eu posso ajudar você.

Sua mão apertou minha perna sutilmente e eu engoli em seco tirando sua mão dali.

Luan: - Estamos ótimos Denise. Não falta nada no nosso relacionamento além de o respeito de quem nos cerca. – falei firme antes de me levantar – Pessoal, vou deitar. Tá na hora da minha sessão remédios já, fiquei a vontade.

Minha mãe me olhou desconfiada já que sabia que ainda não era hora de nenhum medicamente, e após eu me despedir de todos ela veio atrás de mim.

Marizete: - De quem tá fugindo?

Luan: - De ninguém, só tô cansado. Cadê o Arthur? Vou colocar ele pra dormir também!

Marizete: - Já subiu com a Camila, iriam ver filme. Ela disse para não se preocuparem.

Suspirei e assenti, pelo menos em relação á Arthur eu confiava em Camila, ela sempre o encheu de mimos.

Luan: - Não precisa ir no quarto pra me lembrar o horário dos remédios, eu coloquei o celular pra despertar. Vou trancar a porta. Dorme com Deus dona Marizete. – falei beijando a testa dela

Marizete: - Sou sua mãe. Você ta muito estranho. O que esta havendo?

Luan: - Já disse, só tô cansando... Cansado de pessoas que não respeitam minha relação com a Duda.

Vi minha mãe mudar todo o seu olhar, e só depois de falar que me toquei que aquilo também poderia servir pra ela. Juro que não fiz por mal.

Marizete: - Seu mal é sono Luan! Vai deitar! – falou brava

Beijei a testa dela novamente e segui rumo ao meu quarto. Tentei abrir a porta mas estava trancada. 

Estranhei completamente já que Duda nunca foi de trancar a porta antes de mim adentrar o quarto com ela. Bati na porta e ela perguntou quem era antes de o abrir, o que foi mais estranho ainda.

Luan: - Fugindo da polícia? – brinquei quando ela abriu a porta pra mim

Seu semblante era sério, e ela logo fechou a porta atrás de mim. Antes mesmo de eu poder elogiar o quanto ela estava magnifica naquela camisola curta, Duda me disse uma frase que fez meu pelos todos se ouriçarem.

Duda: - A gente precisa conversar!

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Vixiii. As coisas esquentaram. Será que Duda quer desistir? Ou contará para Luan e as coisas irão pegar fogo? Como será o dia seguinte com todas essas pessoas no pé deles?