219 - Primeiro Ano

Desde que Luan saiu por aquela porta, as horas pareceram voar. Não consegui mais ficar calada e contei tudo para a minha mãe. Inclusive do medo que eu estava dessa tal conversa. Dona Ana tentou me acalmar,mas no fundo ficou tão enfurecida quanto eu por Luan estar sem aliança. Tudo bem, eu estava sem também... mas não por vontade própria!

Luan e Arthur chegaram conversando animados. Recebi um beijo e abraço do meu filho, que logo foi atrás da avó que só sabia o mimar desde sua chegada.

Luan: - Sua mãe cuida dele pra gente conversar?

Apenas assenti. Minha mãe nos olhava e entendeu o que acontecia. Assentiu sorrindo e eu suspirei indo atrás de Luan que já subia as escadas. Subir as escadas... Isso já não era tarefa tão fácil pra mim como antes. Minhas costas pediam arrego quando eu chegava lá em cima.

Abri a porta do quarto um pouco ofegante. Luan me observou, mas nada fez. Revirei os olhos batendo a porta.

Luan: - Odeio quando você faz isso.

Duda: - E eu odeio quando você faz isso! -peguei a toalha molhada de cima da cama e levei até o banheiro

Ao voltar para o quarto, Luan já havia colado a cadeira da escrivaninha frente a ponta da cama onde fez sinal para que eu me sentasse. Assim o fiz engolindo em seco. Luan tinha os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos unidas enquanto pensava em um modo de começar a conversa. De forma retraída segurei suas mãos. Luan me encarou e eu separei-as virando suas palmas para baixo.

Duda: - Cadê sua aliança? - perguntei baixo

Luan não me respondeu. Pegou a minha mão e fez o mesmo

Luan: - Cadê a sua?

Duda: - Eu fui roubada!

Luan: - E o que fez nos últimos quatro dias que não providenciou outra? Se você não vai usar, não faz sentido eu usar uma também!

 Irritada soltei suas mãos. Fechei os olhos controlando minha raiva. Queria argumentar e xingá-lo de vários nomes, mas de nada adiantaria.

Luan: - Eu recebi uma proposta esses dias.

Abri os olhos um pouco intrigada. Luan costumava me contar tudo e sempre pedir minha opinião, então me calei na espera de mais detalhes.

Luan: - Com a minha volta aos palcos, o planejamento do novo DVD... preciso de estar na mídia cada vez mais. - assenti pensativa - Multishow me fez a proposta de apresentar um programa.

Duda: - Um programa?

Luan: - Sim. Semanal e meu. Eu aceitei.

Duda: - Um programa semanal seu Luan? - perguntei surpresa e preocupada -  E pra quando é isso?

Luan: - Daqui dois meses. - disse natural

Duda: - Dois meses? E vai ser gravado onde? - questionei apreensiva

Luan: - No Rio. Por isso eu andei vendo uns apartamentos por lá. Vai ser melhor e mais seguro. Hotel as fãs vão me achar, a segurança não é tão legal, sem falar no custo. Comprar um apartamento vai me dar mais conforto. Posso ficar por lá quando estiver cansado. Não precisa de correria, é mais prático. Preciso que você vá para o Rio semana que vem ver isso pra mim. Antes meu pai fazia essa parte mas agora... você é minha esposa, pensei que...

Duda: - Pensou que eu vou sair do conforto da minha casa, prestes a parir pra compactuar com essa palhaçada? - interrompi-o irada, com os olhos já ameaçando marejar em lágrimas

Luan: - Palhaçada? É a minha carreira Duda!

Duda: - Daqui dois meses você terá uma filha recém nascida em casa e uma esposa em resguardo. Não é hora pra decidir quase morar no Rio de Janeiro!

Luan: - Não é quase morar! Vou gravar os programas as quartas, segunda e terça eu vou ficar em casa! Já te avisei que pedi esses dias em casa nos primeiros três meses! Fico de quarta a domingo revezando entre os shows e o Rio. Segunda e terça eu volto! - disse passando a mão no cabelo, parecia controlar sua raiva

Duda: - Muito fácil ser pai só na segunda e na terça Luan. Não vou precisar de você só nesses dois dias da semana! - falei amarga

Luan: - Você tem que entender! É cansativo caramba. Rio e São Paulo não é tão simples quanto parece. Sem falar nas outras cidades de shows. - bufou - Você sabe Duda, tenho que pensar no meu descanso também, e esse apê no Rio é uma mão na roda! Posso...

Duda: - Tudo bem Luan! - assenti engolindo meu choro - Claro, não vai ser nada cansativo pra mim duas crianças pequenas em casa enquanto tô toda cortada de uma cesária. Vai ser ótimo, afinal, minha mãe vai estar aqui né? Ela cumpre com o seu papel pra quando você chegar na segunda, passar dois dias com seus filhos e ir para o sossego do seu apartamento do Rio de novo. Você é um gênio Luan! - sorri magoada me levantando

Luan: - Não leva as coisas pra esse lado! Eu tô tentando conversar com você, mas você não deixa isso dar certo!

Duda: - Você não tá tentando conversar comigo Luan! Esta simplesmente me informando que já decidiu tudo. De quarta á domingo você será o cantor famoso cobiçado apresentador de TV, e talvez, nas segundas e terças, durante três míseros meses você assume seu posto de pai e marido!

Luan: - Não faz drama Duda! Você falando assim até parece...

Duda: - Não se preocupa Luan, se você quer assim, quem sou eu pra dizer algo? Você já decidiu tudo não é? Fica tranquilo! Eu termino de resolver as coisas  do apartamento pra você. Só é uma pena você optar por não ficar com sua filha. Quem perde é você. Com o Arthur, não te dei opção de acompanhar o crescimento dele. Com a Nicole, quem tá decidindo não fazer isso é você! Uma criança não precisa do pai só na segunda e terça Luan!

Luan: -Você sempre soube que seria complicado Duda. - disse cuidadoso ao tentar se aproximar

Duda: - Sim. Mas eu esperava que você no minimo fosse ficar louco pra ver sua filha. Esperava que ao invés de comprar um apartamento para descansar em outro estado, longe da tua filha, fosse optar por um pouco mais de cansaço só pra chegar de madrugada em casa e vê-la um pouco. É isso que os pais cantores fazem sabia? Saem de um show louco para verem a família. Mesmo que por uma madrugada.

Luan: - Isso não é novela Duda.  É a vida real! - suspirou - Não dá pra ficar...

Duda: - Tudo bem Luan, tudo bem! Era só isso que queria conversar?

Luan engoliu calado. Sabia que tinha mais. Mas não era o momento. Sem mais nada dizer sai do quarto indo para o banheiro do corredor onde chorei sozinha. Dizem que o primeiro ano do casamento era o mais difícil, mas esqueceram de dizerem também que tudo começaria nos primeiros meses.


Comentários

Postar um comentário