227 - Primeiros Dias

Sem querer que Duda percebesse o que estava havendo eu fui logo atrás de Arthur. O chamei no corredor e ele me ignorou, apertei o passo e o fiz parar segurando em seu braço.

Arthur: - O que você quer? Vai babar pela Nicole como todo mundo tá fazendo! - olhou-me com raiva, os olhos cheios de lágrimas

Luan: - Arthur, já conversamos sobre isso! - falei firme

Arthur: - Mas não quer dizer que eu tenha aceitado! - cruzou os braços

Luan: - Filho, olha pra mim. - me ajoelhei ficando em sua altura - A Nicole não é algo que você tem a opção de aceitar ou não. Ela é a sua irmã! Um pedacinho de você. Todos nós ficamos meses a espera dela, tá todo mundo curioso para vê-la. Isso não significa que amamos menos você agora. Não significa que você deixará de ser o meu garoto.

Arthur: - Mas significa que agora a vida de vocês vai ser fralda e Nicole. Sem tempo pra mim.

Luan: - Não é assim Arthur! Nunca vai ser! Você é esperto, sabe que as coisas não funcionam dessa maneira. Se revoltar só vai deixar sua mãe magoada. Você não me prometeu que seria o homem da casa quando eu estivesse fora? Agora você tem sua mãe e sua irmãzinha. Elas amam tanto você, pra quê ciúmes?

Arthur não me respondeu, e visivelmente magoado se sentou em uma das cadeiras do corredor de cabeça baixa. Sentei-me ao seu lado.

Arthur: - Por que comigo não foi assim?

Luan: - Assim como?

Arthur: - Aposto que quando nasci não foi toda essa alegria. Nem que eu existia você sabia.

Meu peito se partiu em pedaços ao finalmente reconhecer sobre o que meu filho estava pensando. Com carinho passei a mão no seu cabelo.

Luan: - Quando você nasceu, foi uma alegria maior ainda sabia? Aqui e lá no céu. Os anjinhos ficaram felizes em ter um deles aqui na terra, e te deram para a sua mãe justamente por que sabiam que por um tempo seria só vocês dois. Eles sabiam que você era esperto o suficiente para viver com isso. E como se já não tivesse alegria no céu com os anjos, aqui também foi festa! Sua mãe, seus avós, sua madrinha Laís.... Todo mundo também ficou te bajulando como estão fazendo agora com a Nicole.

Arthur: - Você nem tava lá pra saber. - disse baixinho

Luan: - Mas sua mãe e sua avó me contaram. E depois, quando descobri que você era meu filho, mais alegria ainda. Foi como se você tivesse nascido novamente, mas agora, na minha vida! Você foi privilegiado, três festas pra quando nasceu!

Arthur: - Queria ter te conhecido antes. - olhou-me com pesar

Luan: - Eu também cara. Mas nada acontece sem a permissão de Deus. E a gente ta junto agora não é? Isso que importa!

Arthur: - Você viu a Nic nascer, vai ver ela dando os primeiros passo,primeiras palavras, os dentinhos.... vai ter com ela uma ligação que a gente nunca teve. - olhou-me triste - eu queria ser o mais importante pra você pai. Eu queria ter esses momentos e essa ligação com você. Queria eu ter sido o motivo dessa empolgação toda que o senhor tá. - abaixou a cabeça

Naquele momento finalmente entendi toda a raiz do problema. Não era ciúmes da Nic, da Duda ou do resto do mundo querer conhecê-la. Arthur tinha medo do meu amor por Nicole ser superior ao que eu tinha por ele. Tinha medo dela se tornar mais especial por eu viver momentos com ela que nunca tive a oportunidade com ele. Tive vontade de chorar. Sabia que Arthur me amava, mas só agora fui compreender a dimensão desse amor.

Luan: - Arthur, ninguém no mundo vai ter uma ligação tao forte como a nossa. - fiz ele me olhar - Você lembra quando sua mãe descobriu estar grávida? - ele assentiu - Lembra que não acreditei que o bebê era meu? - assentiu outra vez - Com você eu nunca tive isso! Nunca duvidei de que eu era seu pai. Eu sempre soube Arthur, sempre sentia antes mesmo de tudo. Desde a primeira vez que te vi entrando correndo no seu avô, desde aquele momento eu sabia que nós dois tínhamos uma ligação muito forte. Minha vida só ficou completa depois que você entrou nela. Quer ligação maior que essa? Ninguém no mundo é capaz de tirar um pouco de mim de você. Mesmo quando a Nic crescer, será você meu parceiro de bola, de violão, de xbox, de pescar aranha com chiclete.... vai ser você o cara que eu vou confiar pra tudo. Você é meu filho, meu amigo, meu orgulho cara. E mesmo que eu e sua mãe tenhamos mais um milhão de bebês, ninguém substitui sua importância na nossa vida!

Arthur: - Promete que não vai amar ela mais do que me ama?

Luan: - Eu prometo cara, eu prometo!

[...] Horas Depois

Minha conversa com Arthur foi de ótimo proveito. Foi emocionante ver Nic e ele juntos pela primeira vez. Duda e minha sogra me convenceram a dormir essa noite em casa,e só o fiz por que estava extremamente cansado. Minha sogra seria de mais utilidade de Duda ali. Eu se quer sabia o que fazer quando a anestesia acabasse. Queria ficar ali com ela, mas seria egoísmo meu trocar a experiência últil de Ana por meu despreparo.

Eu e Arthur fomos para casa, eu tentava o manter mais próximo de mim após nossa conversa. Eu e Duda decidimos morarmos realmente no Rio. Ainda era uma decisão privada, mas nós dois já tínhamos tudo em ordem. Nicole completando um mês e meio partiríamos para nosso duplex em um prédio bem localizado.

Sem sono e ainda anestesiado com tudo, fui ver as fotos que havia tirado da minha branquinha. Queria dar a notícia ao mundo. Meus amigos e toda família já sabiam, mas faltavam meus fãs. Não sabia se Duda queria mostrar o rostinho de nossa filha, então optei por uma foto dela ainda grávida.

"Sabem essa casinha linda que papai e mamãe apelidaram de melancia? O contrato de aluguel acabou. Nasci hoje cheia de amor e já dormi no colinho do papai. Da bebê mais linda desse mundo, o nosso obrigado por todas as orações. Nicole veio ao mundo cheia de saúde e boas vibrações. Minha princesinha finalmente nasceu!!"

Postei a foto com  uma legenda mais do que simples. Estava cansado, exausto na verdade, mas ainda elétrico por todos os acontecimentos do dia. Bem cedo eu estaria no hospital amanhã, e já não via a hora de ver Duda e Nicole novamente.

Suspirei em minha cama e olhei pro lado rindo de como Arthur dormia exatamente como a mim. Ajeitei meu travesseiro para tentar fazer o mesmo quando senti um papel abaixo dele. Curioso o peguei. Tinha cheirinho de neném, na verdade, cheirinho da colônia que compramos pra Nicole. Abri o envelope todo enfeitadinho com cuidado, e de lá tirei uma cartinha com a caligrafia de Duda.

De: Nicole
Para: Papai

Papai, em pouco tempo não estarei mais na nossa melancia e sim em nossa casinha, e no início precisarei muito de você, pois pra mim tudo será novo e estranho.
Sei que você ficará muito feliz com a minha chegada.
Quero aprender muito com o grande homem que você é papai.
Desde que fui semeada aqui, minha vida não é nada ruim. No começo eu fui tomando forma, depois fui crescendo, crescendo e agora a mamãe acha que já pareço uma cópia (meio achatadinha) de você.
Papai, como tem água aqui! Antes de sair, quero lhe dizer que não estou com medo. Quero avisá-lo que na hora em que eu sair, vou abrir um berreiro daqueles, afinal, já sei que vai ter muita gente estranha em volta de mim. Mas fique tranquilo, logo irei me acalmar, por que sei que irei reconhecer a sua voz e a da mamãe pertinho de mim. Depois você vai me aconchegar no seu colinho, todo orgulhoso, e então eu vou me sentir segura de novo. 
No começo eu vou dar um pouquinho de trabalho até me habituar , muitas vezes vou lhe acordar com meu chorinho por causa da fome, dorzinhas de barriga, de ouvido e aquelas coisas próprias de gente muito pequena.
Ah! E não fique com ciúme da mamãe viu? Por algum tempo ela deixará você meio em segundo plano, pois estará ocupada com a grande novidade chamada eu. Isso não quer dizer que o amor dela por você terá diminuido. Vocês poderão namorar quando eu conseguir dormir por mais tempo.
Mais a diante, darei um pouquinho mais de trabalho.Vou querer escalar em tudo que ver e ainda vou fazer manha de saudade sua... mas não perca a paciência papai, esse vai ser só o meu jeitinho de conquistar o seu amor...
Vou crescer muito ainda, e sei que vou ter sempre sua mão para segurar... Estou ansiosa para te ver novamente papai... espero que leia isso quando eu já estiver fora da barriguinha da mamãe. Já não aguento mais um dia sem teu colinho.
Te amo de mais.
Com amor, Nic.

Terminei de ler a cartinha escrita com tanta cuidado por Duda com os olhos cheios de lágrimas. Era a coisa mais linda do mundo. Encantado com a sua atitude eu guardei aquela cartinha em um lugar seguro. Dormi sorrindo ainda imaginando que realmente fosse Nic falando comigo.

[...] 2 Dias Depois

Essa era  a segunda noite de Nic em casa. As coisas estavam uma loucura. Eu ainda estava me acostumando a tudo. Arthur tinha ciúmes de mim, mas eu fazia questão de o dar atenção mesmo com Nic em meu colo. Tentava ajudar ao máximo Duda que reclamava o dia inteiro de dor em seus pontos. Minha sogra era a nossa salvação, não sei como Duda conseguiu cuidar tão bem de Arthur quando ele nasceu sendo somente ela e seu pai.

Nicole só sabia dormir, chorar e mamar, e agora a tarde, aproveitamos seu pequeno cochilo para descansarmos da noite mal dormida por seu choro.

Duda: - Meu bem.

Luan: - Hum? - respondi sem tirar a cara do travesseiro

Duda: - Temos que falar com a sua família sobre a gente mudar. Não podemos fazer tudo as escondidas.

Luan: - Uhum. - murmurei

Duda: - E temos que começar a arrumar as coisas.

Luan: - Uhum.

Duda: - Não podemos esquecer de enviar a papelada assinada pra imobiliária.

Luan: - Uhum.

Duda: - E temos também que escolher os móveis que o pessoal enviou. É pra amanhã.

Luan: - Uhun.

Duda: - Eu gostei mais da cozinha preta e você?

Luan: - É.

Duda: - Da pra você parar de ser tão monossilabo? 

Luan: - Ta.

Estava com tanto sono e tão cansado, que até mesmo formular palavras era difícil, nunca imaginei qu uma bebezinha tão inocente trouxesse tanto cansaço!

Duda: - A Nicole tem a mesma mancha sua, da Bru e do Arthur. Você viu?

Luan: - Uhum.

Duda: - Acha que os olhinhos dela vão continuar claros? O do Arthur escureceu depois de um tempo.

Luan: - É.

Duda: - Poxa Luan, conversa comigo!

Luan: - Tô conversando meu bem. - murmurei lutando para manter meus olhos abertos.

Duda: - Será que demoro a voltar pro meu corpo normal?

Luan: - Não sei meu bem. O que você acha da gente descansar agora? - perguntei me virando para olhá-la. Duda encarava o teto e parecia sem sono

Duda: - Você quer dormir né? Vou ficar quieta. - sorriu de canto pra mim

Agradeci em pensamento á ela e voltei a ficar de bruços virando meu rosto pro outro lado. Mal fechei meus olhos e já peguei no sono. Acordei com o chorinho fino porém extremamente escandaloso da minha filha. Olhei pro lado e eu estava sozinho na cama. O dia já havia escurecido, prova do quanto dormi. O choro continuava alto, e preocupado sai do meu quarto mesmo estando só de bermuda e fui até o quartinho de Nic. Minha sogra, esposa e filhos estavam ali enquanto Duda tentava a ninar.

Luan: - O que houve? - perguntei ainda sonolento

Arthur: - Ela é muito escandalosa! - reclamou - Eu estava indo dormir. Achei que ela estava morrendo.

Ana: - Não fala isso menino! Ela está febril. 

Cocei os olhos espantando o sono e fui até Duda que parecia angustiada. Fiz sinal para que ela me entregasse Nic e assim ela fez á ajeitando no meu colo.

Luan: - Quer levar ela ao médico? - perguntei sentindo seu rostinho quente

Duda: - Não. Ta baixa ainda. Acho que é normal.

Minha loira tinha a aparência cansada. Olheiras e seu cabelo só ficava preso em um coque bagunçado nos últimos dias. Sorri de canto pra ela e balancei nossa pequena. Nicole diminuiu o volume do seu choro e me olhava. Peguei seu mãozinha que segurou meu dedo e baixinho comecei a cantar pra ela. Foi como um remédio instantâneo. Nic em segundos parou de chorar e foi sumindo a vermelhidão de seu corpinho. Quietinha em meu colo, agora ela não tirava seus olhinhos de mim. Foi uma conexão tão intensa que me arrepiei todo. 

Arthur: - Da próxima vez eu coloco um CD seu a noite toda aqui. Não durmo mais desde que ela chegou! - reclamou

Duda: - Para de reclamar. Você tava arrumando pra dormir agora!

Arthur: - Mas e ontem? E quando ela chegou? Ela chora parecendo que tá acabando o mundo!

Duda: - Você era como ela, não sei pra que essa falação! Se ta achando tão ruim ela chorando,vê se faz alguma coisa pra ela parar ao invés de reclamar feito um velho de oitenta anos!

Arthur: - Já vi que agora tudo a Nicole vai ter razão!

Duda: - Da pra parar com isso?

Arthur bufou e nem eu, nem minha sogra interferimos na "discussão" dos dois. Arthur olhou-me de rabo de olho como quem esperava que eu fizesse algo e saiu do quarto, provavelmente chateado.

Luan: - Ele tá com ciúmes Duda. - defendi-o ainda ninando Nic, que começava a fechar os olhinhos

Duda: - Ele ta é me tirando do sério! 

Ana: - Tem que ter mais paciência filha. 

Luan: - Se continuar assim só vai afastar ele.

Duda: - Mimar ele também não melhora as coisas. Arthur tem que entender e aceitar que agora tem um irmã, e isso significa dividir tudo, até o tempo dos pais! O mundo não gira em torno dele!

Não falei mais nada, sabia que sobraria pra mim. Ainda com Nic em meu colo fui á ninando até chegar ao quarto do meu filho enquanto dona Ana aconselhava Duda.

Luan: - Você tem que ver o lado da sua mãe também cara. Ela ta se desdobrando ao máximo pra atender a gente.

Arthur: - Tudo pra ela é a Nic agora!

Luan: - Você sabe que não!

Arthur: - Então por que ela não vem atrás de mim como você faz?

Luan: - Por que ela tá estressada, cansada e com um corte na barriga que ta doendo pra cacete! Poxa Arthur, colabora também! Esses dias não estão sendo fáceis pra ninguém!

Conversei mais alguns minutos com meu filho, e acho que ele entendeu o lado da mãe. Nicole dormiu em meus braços e eu á levei para o seu quartinho, agora vazio. Liguei a babá eletrônica e desci as escadas onde encontrei Duda e dona Ana rindo ao assistirem TV. Pareciam estarem vendo o início de um filme, Duda percebendo a minha presença me chamou e me fez dividir o sofá com ela deitada entre minhas pernas. 

Era uma comédia romântica, e mesmo eu não gostando muito desse gênero de filme, aproveitei aquele tempo abraçado, curtindo minha mulher.

Dona Ana era uma boa sogra, bem na dela e parecia ficar tímida com a minha presença, mesmo eu tentando deixá-la mais a vontade possível.

O filme já estava pela metade quando Duda dormiu em meus braços. Acordei-á de forma carinhosa e a á chamei para dormir na cama. Com Duda sonolenta nos despedimos de dona Ana e fomos para o nosso quarto.

Luan: - Você não dormiu a tarde? - perguntei ao vê-la se encolher na cama

Duda: - Não consegui.

Luan: - Tem que aproveitar quando ela dorme meu bem. - beijei seu rosto deitando-me ao seu lado

Duda: - Eu sei. - bocejou - Mas sou do contra - riu de lado

Luan: - E os pontos?

Duda: - Estão ardendo.

Luan: - Tenta dormir. - aconcheguei ela mais em mim, beijando o topo de sua cabeça

Duda: - Ando parecendo um espantalho, e nem uma semana tem! - riu

Luan: - Pra mim você ainda continua a mulher mais linda!

Duda sorriu meiga para mim e me abraçou com carinho. Beijei o rosto da minha mulher e esperei que ela dormisse em meus braços. Era assim que deveria ser. Sempre. Duda e eu construindo nossa família. Unidos, apoiando um ao outro, e se dependesse de mim, assim seria para sempre.


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Carta com pequena adaptação do texto retirado do tumblr http://da-barriga-ao-nascimento.tumblr.com/

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