228 - Realidade

[...] 2 Meses Depois

Nossas vidas desde que Nicole veio ao mundo era uma tremenda loucura. Nada comparado ao que foi com Arthur. Nicole chegou mudando tudo, principalmente nossa rotina. Costumávamos brincar que ela era como o pai: trocava o dia pela noite, o que realmente era fato. Hoje, depois de poucos meses de planejamento, finalmente estávamos nos mudando para o nosso apartamento no Rio. Era um duplex luxuoso, e de bom tamanho para nós quatro, tudo estava dentro do planejado caso Nicole e Luan não tivessem adoecido. Luan pegou um resfriado forte e estava de cama a quase uma semana, já Nicole não parava uma hora sem chorar por conta das dores de ouvido. Bruna veio para nos auxiliar, mas na verdade quase fazia tudo sozinha já que Nicole não queria ninguém além de mim e Luan, que por sinal estava debaixo de coberta no nosso quarto.

Bruna: - Aqui é grande, mas nada comparado o antiga casa de vocês. Será que irão se acostumar rápido? - perguntou enquanto tirava alguns quadros de fotos de uma caixa. Havíamos contratado uma equipe para organizar nossos closet's dentre outras coisas, mas todos chegariam apenas no dia seguinte, e nem eu nem Bruna aguentamos de ansiedade para arrumarmos tudo.

Duda: - Provavelmente. Muito da antiga casa ficava desaproveitado. - fiz careta

Arthur: - Eu gostava de lá. - reclamou bicudo - A gente tinha a piscina só pra gente!

Bruna: - Aqui também tem Arthur. - sorriu carinhosa pra ele

Arthur: - Já fui lá em cima e não vi nada!

Bruna: - A tia vai te levar. Vem.

Bruna estendeu a mão para Arthur e seguiu as escadas acima com ele. Escolhemos morar na cobertura para termos mais privacidade, e a vantagem disso era uma área de lazer bem mais ampla e reservada apenas para nós. Luan não era muito fã de dividir essas coisas.

Olhei Nicole que dormia no carrinho. Com muito custo consegui essa proeza. Coloquei minha mão sobre seu rostinho constatando sua febre. Suspirei e procurei dentre as bolsas a que continha seu remédio e de Luan. Antes de medicá-la fui até meu marido que estava debaixo das cobertas.

Ao me aproximar para medir sua temperatura ele acordou e sorriu de lado pra mim.

Luan: - Como a ta a Nic? - perguntou rouco

Duda: - Com febre ainda. Abaixou um pouco eu acho. - falei colocando o termômetro nele

Luan: - Quer levar ela no médico?

Duda: - Não. A pediatra dela medicou tudo certinho, é só seguir. - sorri e tirei o termômetro dele quando apitou - Já o senhor continua na mesma temperatura!

Luan: - Tenho show depois de amanhã. - grunhiu

Duda: - Faz o repouso certinho e tudo dará certo. - mexi em seu cabelo - Vou fazer uma sopa pra você.

Luan grunhiu irritado e se virou ficando de bruços com a cara toda no travesseiro. Ri do seu modo e dei um tapa em sua bunda.

Luan: - Que dia é hoje?

Duda: - 17.

Luan: - Que merda!

Duda: - Por quê?

Luan: - Já acabou seu negócio né?

Duda: - Que negócio?

Luan: - Meu castigo.

Duda: - Que castigo amor? - ri passando a mão em seu cabelo, que ele cismou em não cortar mais

Luan: - Os dias sem a gente fazer amor. Pelas minhas contas a mais de uma semana. - virou-se me encarando

Duda: - Acabou. - ri - Mas o senhor não tá em condições de fazer nada. Repouso, lembra?

Luan: - Tô subindo pelas paredes.

Duda: - Arthur é fã do homem-aranha. - ri

Luan: - Para de graça. Eu aqui cheio de amor pra dar e você cortando meu barato. Sabe quão difícil foi pra mim ver você tirando o peito pra fora toda hora e não ser pra mim?

Gargalhei de sua fala e Luan me olhou sério. Não conseguia parar de rir quando ele me puxou me fazendo deitar na cama enquanto eu aina ria.

Luan: - Quero você, loira! - sussurrou sério no meu ouvido, segurando minhas mãos acima da minha cabeça

Duda: - Você é muito pervertido!

Luan: - Se você fala isso sem nem saber o que passa na minha mente toda vez que te vejo, imagina se soubesse. - disse irônico beijando meu ombro

Duda: - Para com isso - ri - A Nic ta sozinha na sala e...

Luan: - E a Bruna e o Arthur tão lá na piscina. Ou ouvi. - beijou meu pescoço

Duda: - Para menino. Vim te medicar e você ai... - ri

Luan: - Seja minha enfermeira então. - disse sugestivo beijando minha mandíbula

Luan ergueu um pouco o rosto e me olhou nos olhos. Sorri negando e abri minhas pernas para que ele se acomodasse melhor entre elas. Vi meu marido morder o lábio inferior satisfeito e quando seus lábios se aproximavam dos meus, o choro alto de Nicole ecoou pela casa. Luan grunhiu frustrado e saiu de cima de mim enquanto eu ria e ia té nossa filha.

[...]

Pela noite fiz uma sopa para Luan e eu e Bruna pedimos pizza para nós. Quando íamos todos comermos, Nicole iniciou seu choro sem fim. Luan até quis ficar com a filha, mas pedi que ele comesse antes do jantar esfriar. Sem querer ensurdecer meu filho, esposo e cunhada, fui com a minha pequena máquina de choro até a sala, onde comecei a amamentá-la. Arthur surgiu instantes depois com um copo de refrigerante e um pedaço de pizza. Eu andava exausta, e Arthur estava me tirando do sério com seu ciúme bobo nos últimos tempos. Resultado? As coisas estavam meio estranhas entre nós dois.

Arthur: - Trouxe pra você. - olhou-me tímido ao colocar os mantimentos na mesinha de centro e se sentar ao meu lado

Duda: - Obrigado. - sorri de lado pra ele

Arthur: - Sei que não anda tomando refrigerante, mas a gente ainda não fez compras e não tem suco. 

Duda: - Tudo bem. - sorri de lado - Amanhã vamos fazer as compras, pode ser? - perguntei sabendo que ele adorava ir ao mercado

Arthur: - Só nós dois? - pediu quase suplicante. Sorri de lado pra ele

Duda: - Se sua tia topar ficar com a Nic, sim. 

Arthur tentou esconder sua felicidade com a notícia de que faríamos algo só entre nós dois. Entedia o lado dele, só estava cansada demais com tudo.

Nicole mamava com ganância em meu peito, e Arthur olhava curioso com uma cara não muito boa.

Arthur: - Ela parece um monstrinho.

Duda: - Arthur! - olhei atônita pra ele

Arthur: - Vai sugar sua vida desse jeito. - reclamou e acabei rindo

Duda: - Você não pode pensar assim da sua irmã. 

Arthur: - Ela só mama, dorme e caga! Quer que eu pense o que? Achei que seria mais legal ter uma irmã.

Revirei os olhos e suspirei, me estiquei um pouco e peguei um pedaço de pizza com a mão.

Duda: - Se uma das suas avós ligar, não diz que tô comendo isso. - pedi de boca cheia

Arthur: - Você não vai mais pentear o cabelo? - olhou-me curioso e eu parei de mastigar. 

Ultimamente não sabia mais o que era ter tempo pra mim. Com Luan gripado, não era muito bom ele ficar com Nic. Sua imunidade ainda era baixa. Ou seja: mudança de casa, filha e marido doente e outro garotinho ciumento tomavam todo o meu tempo, e quando eu o tinha, fugia para a academia ou tentava ao máximo dormir.

Duda: - Tô muito feia?

Vi que meu filho assentiu lentamente me analisando.

Arthur: - Você ta acabada! - olhei assustada pela sua sinceridade - Pense pelo lado bom, não tá tão gorda mais. - sorriu amarelo

Soltei meu cabelo na esperança de melhorar um pouco, mas pela careta que Arthur fez a ideia não foi muito boa. Meu filho ficou de joelhos no sofá, e com cuidado para não atrapalhar a amamentação da irmã, ia passando as mãos em meu cabelo até ajeitá-los conforme ele achou melhor. 

Depois de ajeitar meu cabelo, Arthur beijou minha bochecha feliz e voltou para cozinha. Ri negando e olhei minha bolinha de fazer barulho. Nicole era extremamente escandalosa, e Luan vivia se surpreendendo com a altura de seu choro. Com os olhos fixos em mim ela me fazia arrepiar. Era linda, e ao contrário de Arthur, dessa vez tinha mais eu do que o pai. Luan seria um poço de ciúmes com ela,  e eu já tinha até pena.

"Descobri que no meu coração já tão cheio de amor, ainda tinha espaço para o amor maior do mundo. Bem que dizem que coração de mãe não tem fim! Minha vidinha!"

*Luan Narrando

Terminei de comer a sopa que Duda me preparou e fui até a sala onde ela tentava fazer nossa monstrinha (como secretamente eu e Arthur a apelidamos) arrotar. Apesar de cansada e sem qualquer indícios da mulher vaidosa que Duda sempre foi, ainda sim ela era a mais linda que já vi. A pizza que nosso filhou levou para ela estava pela metade, se segundo Bruna ela mal comeu hoje.

Luan: - Me dá ela. - pedi me aproximando

Duda: - Não amor, você ainda vai passar gripe pra ela e ai todo mundo vai virar zumbi nessa casa. - reclamou e eu ri

Luan: - Tô melhor, sério. Vai jantar, deixa que cuido dela.

Duda: - Ta tão melhor que tá de roupa de frio enquanto tô quase derretendo. Você ligou pro pessoal do ar condicionado?

Luan: - Liguei. - menti. - Vou beber água. - dei as costas rápido indo pra cozinha

Duda: - Você não ligou né? - desconfiou me olhando

Sorri fechado e corri até meu celular. Era tarde, mas ser quem sou tinha suas vantagens.

Bruna ficou com a Nicole pra Duda jantar, eu fui fazer algo que nunca me imaginei fazer: etiquetar materiais escolares. Arthur ria de mim. Era simples. só pregar um adesivo, mas aquilo parecia uma prova pra mim.

Arthur: - Viu. Eu queria os personalizados, vocês não quiseram me dar e agora fica ai sofrendo pra colocar isso. - riu

Luan: - Não fala comigo que eu desconcentro! E quem não quis te dar foi sua mãe. Eu não disse nada.

Arthur: -Você tinha que me ajudar. Ir comprar os materiais estando de castigo não é bom. Não dá pra pedir nada estando nessa situação.

Luan: - Não mandei você tentar dar antialérgico escondido pra sua irmã!

Arthur: - Eu só queria que ela dormisse uma noite inteira! -revirei os olhos

Luan: - Eu também queria, mas nem por isso tento dopar ela.

Arthur: - Não é dopar. Vocês me dão, por que ela não pode?

Luan: - Não te damos pra você dormir! Te damos quando sua alergia ataca. 

Arthur: - O que me faz dormir.

Luan: - Bom saber. - sorri perverso

Arthur: - Nem pense nisso pai. É injusto!

Luan: - Ué, com a sua irmã não podia? - ri o olhando

Arthur: - Era por uma boa causa. E ela nunca iria lembrar.

Luan: - Já falamos sobre isso cara, não prolonga. 

Arthur: - Você ta colocando isso torto!

Luan: - Faz você então.

Arthur: - Não. Minha mãe mandou você fazer, não eu.

Luan: - Então não reclama.

Arthur: - Além de chegar no último mês de aula, ainda vou chegar com as coisas tudo torta. Bem que dizem que você é vesgo. - riu

Luan: - Bem que dizem que você é igualzinho a mim.

Arthur parou de rir naquele momento e eu que entrei na risada. Era engraçado vê-lo bravo.

Minha irmã entrou na cozinha ninando Nicole e eu sorri com a cena. Bruna vinha sendo um anjo pra gente. Minha mãe quase surtou quando contamos que viríamos para o Rio, e se não fosse com a ajuda da minha irmã, com certeza minha velha estaria chorando até agora.

Luan: - Deixa eu pegar ela. Termina de arrumar essas coisas do Arthur pra mim. - pedi já pegando Nic em meus braços

Bruna: - Não sei por que insistem em colocar ele na escola ainda esse ano. É o último mês.

Luan: - Ele não fez as provas finais.

Bruna: - Ah, qual é, você é o Luan Santana, suborna alguém.

Arthur: - É pai, suborna alguém.

Luan: - Olha o exemplo Piroca. Sai daqui. - pedi rindo

Fui atrás da minha mulher, que segundo Bruna estava no banho. Nosso quarto ainda estava meio bagunçado, a equipe que contratamos para ajeitar tudo só viria amanhã, mas Duda era chata com essas coisas de bagunça, e juntamente com a minha irmã já colocaram metade da casa em ordem.

Luan: - Bebê? - a chamei ao ver a porta do banheiro entreaberta

Duda não me respondeu, e sim saiu do banheiro tentando tirar o excesso de água do cabelo com uma toalha enquanto estava enrolada em outra.

Luan: - Nossa, vai vestir roupa. - fechei os olhos e me virei de costas pra ela, podendo ouvir sua risada.

Duda: - To tão mal assim? O Arthur disse que tô acabada. - riu dele e pude sentir seu cheiro atrás de mim

Luan: - Acabada? Acabada você vai ficar depois que as crianças dormirem! - fiz graça e á ouvi rir outra vez. Nicole se remexeu toda e comecei a balançá-la

Duda: - Que horror. - riu - Chega aqui.

Me aproximei dela que estava apenas de short e sutiã e Duda colocou a mão em minha testa.

Duda: - E essa sua febre que não abaixa ein? Tô ficando preocupada.

Luan: - Não fica. - lhe dei um selinho - Eu tô bem. Agora tampa esses peitos ou eu vou tomar o lugar da Nicole.

Duda riu novamente e terminou de se vestir, indo pentear o cabelo em seguida. Ela estava visivelmente cansa. Olhos fundos. e depois de bons dias é que teve tempo de lavar seu cabelo. Me aproximei e cheirei seu pescoço.

Duda: - Fica com a Nicole pra mim? Tenho que falar com meu e a Laís e resolver umas coisas do escritório. Não dá pra adiar mais.

Luan: - Fico. Vai resolver suas coisas.

Beijei a testa de Duda que deu um cheirinho em nossa filha antes de sair do quarto. Duda estava se virando em três. Como se não bastasse a parte esposa e mãe, a nossa mudança ainda a fez gastar boa parte do seu tempo com algumas alterações necessárias em seu escritório em São Paulo. Duda e o pai decidiram por fim se tornarem apenas uma associação, e todos seus arquitetos, assim como eles, trabalhariam a distância, cortando custos e aumentando o lucro. Era algo inteligente, mas que exigia muita burocracia e tempo para ser realizado. Tentei a convencer de deixar isso de lado e viver sem preocupações, mas Duda era teimosa, e não desistiria da arquitetura como fez com a carreira de modelo. No fundo eu admirava sua capacidade de ser tantas em uma só.

Luan: - Caramba filha, o que foi que você comeu?! - espantei-me com o cheiro que surgiu no ambiente

Havia aprendido a trocar fraldas, obviamente Duda fazia isso bem mais rápido do que eu, mas no momento era somente eu, e a bomba da minha monstrinha, que quase me fez vomitar quando abri suas fraldas... é, ser pai desde o início não té tão fácil como foi ser pai de repente com Arthur já sabendo limpar a própria bunda!


A madrugada foi como sempre conturbada. Nicolle trocando o dia pela noite, Arthur reclamando que não conseguia dormir com o choro da irmã, e Bruna brigando no celular com o namorado. Minha febre aumentou, e minha cabeça parecia que iria explodir a qualquer momento. Acabei deixando toda a bomba para a minha mulher e fui obrigado a tentar dormir. Por volta das quatro da manhã, uma Duda exausta entrou no quarto. Olhei pra ela que ao me ver de touca e blusa de frio logo se preocupou.

Luan: - Acho que minha garganta ta inflamando. - reclamei começando a sentir dores

Duda: - A gente tem que ir no médico. - bocejou - Quer ir agora?

Luan: - Espera amanhecer. Vem descansar.

Duda: - Logo você tem show, não pode esperar. - olhou-me cansada

Luan: - Antes do show eu tenho uma mulher cansada pra cuidar. Vem. Deita. Eu te dou carinho, você me dá carinho e quando amanhecer nós dois estamos bem, pode ser?

Duda: - Minha cabeça ta até doendo. - reclamou se deitando com a mesma roupa que estava

Luan: - Eu te disse sobre a babá e vou continuar insistindo. Pode ajudar e...

Duda me calou com o dedo indicador em meus lábios.

Duda: - Eu não quero. Sério. Mulheres fazem isso todos os dias. Também sou capaz.

Luan: - Eu sei que é. Só quero te ver tranquila.

Duda: - Os primeiros meses são os mais difíceis. Logo tudo se ajeita. - sorriu de canto. 

Conversei mais poucos minutos com Duda que me obrigou a tomar outro remédio e prometer que iria ao médico amanhã, mesmo já tendo feito isso em São Paulo. Minha loira de tão cansada dormiu primeiro do que eu, e não resisti a tirar uma foto nossa.

"Mãe, esposa, arquiteta e cunhada... só hoje ela foi quatro. E eu amo cada faceta dela. Sou abençoado por ter você amor! 04:24, hora de descansar."



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