230 - Sombras do Passado

[...] 2 Meses Depois

Os dias pareciam passar voando. Nicole estava cada dia mais esperta. Arthur finalmente entendeu seu papel de irmão, e desde que o pai voltou aos shows, faltava trocar as fraldas da irmã. Tudo caminhava da melhor maneira possível. O ano estava chegando ao fim, e junto dele, o aniversário de Laís, que queria preparar uma super festa. Concordei em ajudá-la, e para isso, passaria três rápidos dias em Campo Grande. Luan teria show na região, e assim eu o encontraria para que pudêssemos voltar para casa e curtirmos seus dois dias de folga.

Chegamos á cidade morena logo pela manhã. Nicole dormia tranquila, e Arthur estava eufórico querendo rever o avô. Meu pai nos buscou no aeroporto, e na companhai dele e da minha madrasta almoçamos em um bom restaurante. A tarde me encontrei com Laís, e passamos todo esse período resolvendo alguns detalhes do seu dia.

Pedro: - Como estão as coisas no Rio? - perguntou meu pai enquanto eu e Laís invadiamos sua cozinha para prepararmos um lanche

Duda: - Maravilhosas.

Pedro: - E o casamento?

Duda: - Bem. - disse de boca cheia

Pedro: - Luan ta sendo um bom marido? Você sabe, posso ser um bom álibi!

Olhei arregalada para o meu pai e cai na risada indo até ele e o abraçando de lado.

Duda: - Luan tá sendo o marido dos sonhos. - beijei sua bochecha

Pedro: - E pai?

Duda: - Só não consegue ser melhor que você. - sorri o deixando empolgado

Laís decidiu que faria seu aniversário em uma chácara. Ela estava realmente disposta a dar uma super festa. Finalmente ela havia aceitado a proposta de Rober e se mudaria para São Paulo. Além do seu aniversário, aquilo também seria sua despedida.

Laís: - Tava revendo a lista de convidados.

Duda: - E?

Laís: - Não sei se Rober ou Luan vão gostar muito. - fez careta

Duda: - Ué, por que?

Laís: - Muita amizade da época da faculdade. Muita gente antiga. Muitos contatinhos.

Ri negando e peguei a folha com os nomes. Realmente Luan não ficaria satisfeito com alguns ali listados.

Duda: - Não é possível que todos estejam solteiros ainda. Manda dois convites pra cada. Vai que tragam alguém. Bom que não nos dá dor de cabeça.

Laís concordou comigo e eu voltei a comer. Ouvi o choro da minha filha e antes de pegá-la meu pai já estava com ela nos braços, conversando com a voz mais estranha do mundo, me arrancando uma risada.

Duda: - Não me lembro de te ver falando assim com o Arthur! - peguei-o de surpresa o fazendo se assustar

Pedro: - Essa princesa é linda demais. - disse com voz de criança - E muito risonha!

Duda: - A baba vai escorrer. - ri

Pedro: - Se eu não soubesse como as crianças são feitas, juro que te pediria mais netos!

Gargalhei de sua fala e passei a mão nos cabelinhos ralos de minha filha. Nicole tinha o semblante tão calmo que nem parecia quase colocar a casa para baixo quando chorava.

Pedro: -Você tem que diminuir o leite dessa menina. Tá um leitãozinho!

Duda: - Credo pai! - ri - Parece o Luan falando assim! - revirei os olhos

Pedro: - Ele chama a filha de leitãozinho?

Duda: - Monstrinha também. Mas é por que quando ela abre a boca realmente toca o terror!

Pedro: - Não pode falar assim da princesa do vô.

Ri negando e deixei Nicole que era a todo sorriso para o meu pai e voltei para a cozinha, onde Laís agora conversava com o Arthur.

No fim da tarde, recebi a ligação de uma das primas de Luan. Jéssica me chamava para um churrasco na casa da sua mãe. Até pensei em negar, mas acabei cedendo ao saber quando Arthur amava a família do pai e o quanto todos queriam ver Nicole.

Como sempre a casa estava cheia. Parentes e amigos da família se reuniam para beberem e cantarem algumas músicas. Meu pai me levou a casa que não era muito longe da sua, e assim que cheguei com a caçula do Luan, Nicole foi logo passando de colo em colo enquanto todas a admiravam com carinho. Lembrei-me na hora de Luan. Ele amaria estar ali. Arthur, um pouco tímido ainda não saia do meu lado. Pedia benção e falava com todos, mas estava todo retraído ao meu lado. Era  a primeira vez que eu estava na casa da família de Luan sem ele, e Arthur estranhou um pouco não ter a companhia do pai o desinibindo de tudo.

Dani: - Nossa, você voltou o corpo muito rápido! - comentou me analisando, á essas alturas eu já estava sentada conversando com uma das tias de Luan

Duda: - Rápido nada. Demorei dessa vez. Com o Arthur foi mais rápido. - ri

Kelly: - Segunda gravidez é sempre assim. Com a Mariana e o Matheus cada um foi diferente a recuperação. Mas você só mudou a alimentação?

Duda: - Não. Academia também.

Dani: - Não sabia que vocês iam morar no Rio. Fiquei sabendo pela internet.

Kelly: - Todos nós na verdade. Luan não disse nada pra ninguém. - riu de lado

Duda: - Foi meio que de última hora a decisão. Até nossos pai só souberam quando tínhamos tudo acertado. - ri

Kelly: - E esse negócio de programa, ta dando certo?

Duda: - Ele ta gravando. Logo entra no ar.

Fiquei papeando com as duas até Nicole voltar para o meu colo para mamar. Arthur finalmente se enturmou com algumas crianças e logo estava brincando. Enquanto amamentava, recebi a ligação do meu marido que já estava sabendo onde eu estava.

Duda: - Quem te contou? - perguntei rindo

Luan: - Tenho meus contatos. - riu - E de shortinho curto ainda, dona Duda? - fez graça

Duda: - Não é curto!

Luan: - Eu sei. - riu - Como nossos amores estão?

Duda: - Bem. E você?

Luan: - Morrendo de saudades!

Duda: - Nós também.

Luan: - Laís já decidiu o que quer fazer? Ela ta colocando o testa doido aqui! - riu

Duda: - Ta decidindo. - ri - Sua mãe tava querendo saber a respeito do fim de ano. Se vamos fazer na chácara ou como vai ser...

Luan: - Virada eu tenho show. Vão vocês todos. Agora no Natal é vocês quem mandam. Só quero tá junto de todo mundo.

Conversei mais alguns minutos com Luan no celular, e logo encerrei a ligação para que ele subisse ao palco, prometendo que assim que eu chegasse a casa do meu pai eu o avisaria.

O churrasco estava animado, e todos me tratavam super bem, principalmente Camila que a todo tempo queria me agradar. Não sabia se era falsidade ou se era sincero da sua parte, mas eu retribuía todo o seu cuidado comigo.

Um dos amigos dos primos de Luan, ao me ver "desacompanhada" chegou em mim me cantando, mas assim que viu a gafe que cometeu quando eu disse ser casada com o Luan, ficou tão sem graça que mal falou mais. A zoação foi grande, e logo até Luan que com toda certeza tinha um "informante" ali ficou sabendo, já que me mandou um whatsapp brincando com o episódio.

Nicole lutava contra o sono, queria estar atenta a tudo. Arthur estava elétrico e não queria saber de ir embora, e o papo meu com os primos de Luan também fluía muito bem. O ambiente era leve e agradável, como toda a família de Luan. Gravamos alguns Snaps e tiramos algumas fotos, fazendo as fãs de Luan não saírem mais de nossas redes sociais, todas achavam que após o show Luan iria para Campo Grande, e toda aquela rapidez e curiosidade nos fazia rir.

Jéssica: - Nossa, valeu Camila.

Camila: - O que foi?

Jéssica: - Ficava mais bonito me cortar da foto do que me desfocar daquele jeito! Eu tava tão gatinha. - fez graça

Camila: - Tava nada. Eu e a Duda custa achar um ângulo bom e você bêbada estraga.

Jéssica: - Não tô bêbada.

Amanda: - Ta alegre!

Ri das três que começaram uma mini discussão e fui ver a foto á qual se referiam.

"Churrasco entre família ♥"

Comentei alguns emojis carinhosos na foto, mas no fundo tive vontade de rir. Quando Camila apareceu na chácara na recuperação do acidente de Luan, podia jurar que ela estava ali para infernizar meu relacionamento. Talvez até fosse. Mas Camila sempre foi o tipo de pessoa incerta que você nunca sabe lidar. Me apresentou o Luan e depois fazia de tudo para ficar com o primo. Eu não entendia bem de que lado ela estava, mas se Luan mesmo, ainda na chácara me alertou sobre ela, era bom eu sempre ter um pé atrás, mesmo ela estando sendo um amor de pessoa comigo nos últimos tempos.

Era madrugada quando decidi ir embora. As meninas insistiram para eu ficar, mas Nicole estava toda enjoadinha por tentar vencer o sono. Arthur também estava cansado, e foi só tomar um banho para capotar em seu antigo quarto. Meu pai havia comprado um berço para Nic e colocado no quarto que eu ocupava. Lhe dei outro banho e vesti um pijaminha nela. Sentei na cama com as pernas esticadas e ela em meu colo enquanto coloquei a TV em um volume baixinho. Avisei Luan que havíamos chegado e assim que ele leu minha mensagem, logo me ligou perguntando pelos filhos.

Duda: - Arthur tá dormindo, Nic tá lutando pra não dormir. - ri dela que estava quietinha em meu colo

Luan: - Vou te ligar por vídeo. Quero ver ela.

Aceitei a chamada de vídeo do Luan o vendo sentado na cama, com o violão ao lado. O cabelo estava uma bagunça, e ele vestia apenas uma bermuda fina. Nicole, mesmo sonolenta, assim que viu o pai pela tela do celular, abriu um sorrisinho preguiçoso, fazendo Luan quase babar.

Luan: - Essa boneca ta linda demais de pijama!

Duda: - Viu? Achei que não ia servir tão cedo, mas ela tá toda grandinha!

Luan: - Tá uma leitoinha!

Duda: - Para de colocar esses apelidos feio nela Luan. - ri

Luan: - Cê molhou o cabelo? - perguntou quando deitei na cama, colocando Nic de lado frente a mim

Duda: - Eu até amarrei, mas sabe a festa que Nicole faz no banho... me molhou toda!

Luan: - Ficou molhadinha então?

Duda: - Mente poluída. - bocejei - Mandei um whats pra sua mãe, falando que você vai ter show na virada.

Luan: - E ela?

Duda: - Não viu ainda. - olhei Nic que agora não tinha nenhum vestígio de sono, e estava com os olhs vidrados no celular, mexendo os bracinhos e perninhas sem parar. - Viu? Eu te falo pra não ligar por vídeo perto da hora dela dormir. Ela sempre se agita quando te vê! - bocejei

Luan: - Ta com sono?

Duda: - Tô. Mas agora tenho que ficar a vida acordada até ela decidir dormir.

Nicole, despreocupada sorria banguela ao meu lado, tentando colocar o pézinho na boca enquanto olhava o pai que fazia mil e uma gracinha pra ela. Eu não disse mais nada, fiquei calada vendo Luan falar com voz de bebê pra ela enquanto nossa pequena chegava a fazer força para emitir algum som. Era lindo de se ver.

Eu já estava quase pegando no sono sem ver. Luan cantava uma canção de ninar para Nicole, que até então não parecia interessada em dormir. Ouvi passos no corredor e logo algumas batidas na porta. Imaginando ser meu pai, pedi que entrasse levando o maior susto ao ver a figura de João Pedro todo arrumado, certamente chegando de uma noitada.

João Pedro: - Oi! Vi a luz acesa e vim te ver. Posso entrar?

João pelo jeito não percebeu que Luan estava em uma chamada de vídeo, e não seria eu á impedi-lo de entrar, afinal, sempre tive uma relação de amizade legal com meu quase irmão.

Ele entrou olhando curioso pra Nicole, meu celular estava apoiado entre dois travesseiros de modo que eu e Luan vissemos bem, mas João nem notou e me abraçou quando sentei na cama para recebê-lo.

João: - Nossa, só tinha visto ela por foto, é tão linda! - sorriu mexendo no pézinho dela. Luan não fez um barulho se quer, com certeza proposital - Sua cara Du. Até os olhinhos. - olhou de Nic pra mim - Nossa, você ta com uma cara de sono! - riu de lado - E essa mocinha aqui parece que não está nem perto de dormir. - brincou com Nic que sorriu pra ele

Duda: - Ela puxou o pai. Não é muito de dormir a noite. - ri e olhei para onde estava o celular, torcendo para que Luan não estivesse mais lá, e para a minha surpresa a tela estava toda preta. Ele havia desligado?

João: - Ei, acabei de chegar da casa de uns amigos, Tô bem acordado ainda, se quiser posso ficar com ela.

Duda: - Que isso João, não precisa. - sorri amarelo

João: - Para com isso. Tá na sua cara que você ta cansada. Minha mãe disse que você passou a tarde ajudando a Laís. Dorme, descansa. Eu fico com ela e faço ela dormir. Depois coloco aqui no berçinho.

Duda: - É sério João, não precisa. - falei começando a ficar sem graça

João: - Para de dar uma de durona. Quantas vezes fiz isso com o Arthur? Quando a gente ficou mesmo eu fiz ele dormir! Ó, descansa. Daqui a pouco trago ela sã, salva e dormindo.

Não tive mais tempo de falar. Com todo cuidado do mundo João pegou Nic nos braços. Não fiquei preocupada sobre ele ficar com ela. João sempre foi apaixonado por crianças. Trocávamos beijos quando eu estava na reta final da minha gestação. Quando Arthur tinha uns quatro meses acabamos realmente ficando e consumando o fato. Foi a única vez que fomos para o finalmente. Ao voltar para casa, encontrei meu pai vencido pelo cansaço dormindo enquanto Arthur tinha os olhos maiores que duas jabuticabas. João o fez dormir para eu tomar um banho. Me ajudou com ele e logo foi embora. Não ficamos mais, mas nas vezes que nos encontravámos, ele sempre me ajudava com Arthur, até perdermos o contato de vez e só voltarmos a nos ver quando nossa família quase virou uma só.

Suspirei quando o vi sair do quarto falando com a voz fina  e carinhosa para minha filha. Sabia que agora ele praticamente morava aqui, mas meu pai dizia que era difícil ele dormir em casa com a vida badalada que ele tinha. Não esperava uma situação dessas. Cansada demais para pensar em algo, me ajeitei na cama me cobrindo e deixando o abajur aceso para quando João viesse trazer Nic. Me enrolei na coberta e estava prestes a fechar os olhos quando ouvi a voz de Luan.

Luan: - Não vai me dizer nada?

Sua voz séria me fez lembrar-me da ligação. Ao ver a tela preta, havia achado que Luan tinha desligado a chamada. Mas tudo não passou de uma artemanha dele. Suspirando encarei meu celular, agora tendo a visão dele e já prevendo pela sua cara que ele não gostou de nada do que viu e ouviu.