234 - Sinceridade

[...]

Consegui fazer meu show, mas toda minha consciência pesava em torno do que fiz. Rober sumiu, e provavelmente estava se lamentando em algum lugar do hotel. Minha equipe toda ainda estava curiosa pelo motivo que levou aquela mulher a invadir o camarim e me xingar. E eu, além de arrependido, estava puto por ter pago uma boa quantia á ela quando na verdade ela já havia abrido o bico.

Duda: - Você tá tão calado. – murmurou deitada com a cabeça em meu ombro

Luan: - Não é nada. – sorri fechado e suspirei. Sabia que uma hora ou outra Duda saberia que tinha dedo meu ali. Pensei em negar até a morte, mas a minha parte correta clamava pela sinceridade.

Nicole e Arthur dormiram todo o trajeto do local do show até o hotel, no dia seguinte voltaríamos para casa cedo, e achamos melhor deixá-los descansar. Desci com Arthur e a bolsa de Nic no colo enquanto Duda levava a nossa pequena, e em silêncio adentramos nosso quarto. Deixei Arthur na cama de solteiro que havia ali e tirei seu tênis antes de cobri-lo e ir para o banheiro. Precisava de um banho frio para aliviar minha mente.

Ouvi o chorinho fino de Nicole enquanto me despia, sorri de lado e suspirei. Coloquei a banheira para encher e me encarei no espelho, ainda sem saber por que diabos fui induzir Rober á pegar aquela mulher. Podia ouvir Duda cantar baixinho enquanto eu entrava na banheira, e fechando os olhos tentei relaxar e aliviar todo meu stress naquele momento. Eu tinha que contar a verdade pra Duda, e faria isso logo após me banhar. Era melhor ela saber por mim do que por qualquer outra pessoa. Ela já estava abalada com isso, e saber pelas costas o que o marido fez não ajudaria em nada.

*Duda Narrando

Luan estava tão calado e na dele, que eu começava a me preocupar. Enquanto amamentava Nic e tentava faze-la pegar no sono de novo, a sacanagem que Roberval fizera com a minha amiga não parava de passar na minha cabeça. A hipótese do meu marido ter coragem de me fazer o mesmo me assustava, e naquele momento eu faria tudo para agradá-lo, na tentativa dele não buscar fora o que poderia ter em casa.

Mesmo com a cabeça e o coração na situação da minha amiga, que por sinal estava completamente abalada, ainda sim me desliguei um pouco dos acontecimentos e tentei me concentrar na minha relação.

Em tempo recorde consegui fazer Nic dormir novamente. Parece que tudo conspirava ao meu favor. Sem fazer barulho abri a porta do banheiro e adentrei o ambiente, vendo Luan deitado de olhos fechados na banheira. Ele pareceu não notar minha presença. Tranquei a porta e da forma mais silenciosa possível me coloquei nua, e com cuidado fui até ele, que só notou que eu estava ali quando comecei a entrar na banheira.

Amarrei meu cabelo em um coque e Luan se ajeitou para que eu me acomodasse, tudo em completo silêncio enquanto me olhava atento. Me coloquei sentada entre suas pernas e firmei meu tronco em seu peito, passando minhas mãos de forma leve por suas coxas na água.

Duda: - Que saudade de um momento assim com você!

Luan me respondeu com um beijo na bochecha, e aproveitei a deixa para me virar um pouco e beijar seus lábios. Ele correspondeu, calmo e lento, e aos poucos eu me virei na banheira até estar de frente pra ele, beijando-o com volúpia. Suas mãos me seguravam sem muita empolgação, e curiosa me apertei contra ele, não sentindo nenhum sinal de ereção.

Tirei então a minha boca da dele e fui até seu pescoço. Sabia que ali era uma das suas áreas erógenas, e com toda calma do mundo passei a lamber, chupar e morder sua pele do pescoço.

Luan: - Duda... – chamou-me baixinho, as mãos na base das minhas costas

Duda: - Hum?

Luan: - Hoje não amor.

Assustada com a sua primeira negação eu me soltei dele e o olhei confusa. Ele estava sério, porém tentava suavizar o semblante ao me dizer aquilo. Constatei que Luan realmente não estava a fim quando por um descuido o encostei. Ele realmente não tinha nenhum sinal de excitação. Me senti um pouco mal com aquilo. Será que era eu?

Sem graça pela situação, voltei a sentar de costas pra ele, entre suas pernas, agora sem coragem nenhuma para o encarar.

Luan: - Não pensa bobagem.... Eu só... não tô no clima. – murmurou enquanto massageava meu ombro. Suspirei e assenti – Eu tenho que te contar uma coisa. – senti a tensão em todo seu corpo atrás de mim, e naquele momento milhares de bobagens se passaram na minha cabeça. Fiquei imóvel, e quando vi as palavras já haviam saído da minha boca

Duda: - Você tem outra não é? Anda, me conta, pode falar! Você tem uma amante como o Rober. Por isso ta me negando e....

Luan: - Amante? Ficou louca? Eu não tenho amante! – disse de forma indignada

Duda: - Então o que é? – me virei pra ele com certa raiva

Luan engoliu em seco e suspirou visivelmente cansado.

Luan: - Olha, ta tarde, logo temos que pegar estrada... quando estivermos em casa nós dois conversamos, certo?

Duda: - Qual o nome? – perguntei já sentindo minha garganta fechar. Em poucos minutos meus olhos se encheriam de lágrimas, mas eu segurava ao máximo essa situação humilhante

Luan: - Que nome?

Duda: - Da puta que você tá pegando! Anda Rafael, me diz, qual o maldito nome? – pedi cheia de raiva

Luan me olhou assustado, mas antes que ele me respondesse eu me levantei da banheira de forma brusca. Liguei o chuveiro apenas para tirar o excesso de espuma do meu corpo e deixei algumas lágrimas de pura raiva se misturarem com a água.

Luan: - Duda, não tem amante! Eu juro! Não pensa loucura! – disse da banheira, sem mover um músculo, apenas com os olhos vidrados em mim

Não o respondi, de forma rápida eu sai do banheiro. Vesti a primeira camisola que vi na frente, e engolindo todo meu orgulho me deitei na cama enorme de casal. Cobri-me até o nariz e me virei pro lado oposto ao que ele dormia. Luan não saiu mais do banheiro. Sua recusa em me encarar me fazia dar mais vez ainda a minha hipótese. Acabei dormindo enquanto pedia a Deus que aquele dia nunca tivesse existido.
[...]

Meu sono foi leve, e acabei sendo acordada com uma respiração quente em meu pescoço. Fingi continuar dormindo, e segundos depois o peso do braço dele rondou minha cintura. Suspirando tirei seu abraço de mim.

Luan: - Amor... – murmurou rouco

Duda: - Não encosta em mim. – pedi magoada

Luan: - Tira isso de amante da sua cabeça! Tudo que um homem precisa eu tenho em casa meu bem... não preciso buscar nada na rua!

Duda: - Será mesmo? – perguntei me virando na cama, encarei o teto com os olhos marejados, mesmo no escuro pude ver Luan se firmar no braço e ficar parcialmente em cima de mim.

Luan: - Eu vou te provar.

Olhei sem entender pra ele, e logo o senti começar sua seção de beijos por toda a minha clavícula.

Duda: - Para... eu não quero isso. – pedi baixinho

Luan não me deu ouvidos, e logo já beijava toda a extensão do meu pescoço, me arrepiando toda. Mexi inquieta na cama e logo senti-o, agora duro, roçar em mim.

Duda: - No que você está pensando?

Luan: - O que? – me encarou confuso

Duda: - Á pouco eu tava nua, em cima de você e você não queria nada. Agora vem cheio de coisa pro meu lado. Em quem você tá pensando?

Luan suspirou derrotado, e de forma cansada saiu de cima de mim, se jogando do seu lado na cama. Parecia irritado.

Luan: - Eu só tô pensando em você Duda, na gente. Só queria te satisfazer.

Eu não disse mais uma palavra, ele muito menos. Me virei de costas outra vez e ele provavelmente fez o mesmo. Acabei dormindo de novo.
[...]
Acordei bem cedo com o choro de Nicole. Antes que ela acordasse o irmão com seu escândalo, me levantei da cama e á peguei, ainda sonolenta. Tirei meu seio para fora e comecei a amamentá-la. 

Ergui meu olhar e levei o maior susto ao ver Luan acordado nos encarando. Abaixei minha cabeça sem jeito e comecei a dar alguns passinhos com Nic no meus braços.

Meu celular despertou na cama, Luan pegou-o e silenciou-o. Era hora de nos arrumarmos para voltarmos para casa. Meu marido tinha a cara péssima com algumas olheiras. Começava a achar que ele se quer dormiu. Terminei de amamentar minha filha e peguei suas coisinhas para o banho.

Arrumei minha pequena enquanto Luan e Arthur se aprontavam. Fui a última a me vestir, e ainda sim tínhamos um tempo de sobra.

Luan: - Quer tomar café em algum lugar? – perguntou enquanto ajeitava nossas malas.

Duda: - Não. Só se o Arthur quiser. – dei de ombros ajeitando a roupinha de Nic

Arthur era esperto, e sabia que as coisas entre eu e o pai não estavam tão bem, e por esse motivo também negou o convite do pai.

Não vi Rober naquela manhã. Aliás, desde a noite passada que eu não o via. Pudera. Se o visse minha raiva era tanta que eu poderia chutar suas bolas com todas as forças do meu ser. Luan ainda estava estranho, mas por vezes tentava se aproximar, recebendo nitidamente minha recusa, o que deixou-o um pouco irritado.

O silêncio predominou por todo o caminho. Não foi diferente quando chegamos a nossa casa. Luan foi ficar com os filhos e eu fui desfazer nossas malas.

Luan: - Quer almoçar fora? – perguntou da porta do quarto, com Nic em seus braços

Duda: - Vocês quem sabem.

Luan: - O Arthur tá querendo comer naquela churrascaria que fomos quando nos mudamos.

Apenas assenti em concordância e Luan entrou de vez no quarto. Com um suspiro colocou nossa filha no meio da nossa cama e veio até mim que estava sentada no chão, separando suas meias.

Luan: - Não faz assim... – pediu baixo. Apenas ergui meu olhar pra ele por segundos e voltei a minha tarefa – Eu te disse que tinha algo pra te contar, mas não tem nada a ver com isso. Vacilei sim, mas nunca nesse sentido! Não com você!

Duda: - O que você aprontou então? – perguntei com um suspiro

Luan: - Pisei na bola feio. Mas não foi contigo. Quero te contar por que sei que foi errado. Não quero ter segredos contigo. Mas quero que me prometa que isso não vai interferir na nossa relação. – pediu sério

Duda: - Se você ta até me pedindo isso, boa coisa não é Luan! – respirei fundo me levantando e indo até Nic que tinha o pezinho na boca

Luan: - Não, não é boa coisa. Mas não tem a ver com nós dois.

Olhei pra ele meio desconfiada, porém assenti me dando por vencida enquanto conferia as fraldas da minha pequena.

Luan: - Mais tarde, quando tivermos um tempo pra nós dois, conversamos sobre isso, beleza?

Assenti sem nada dizer e ele veio até mim beijando o topo da minha cabeça.

Luan: - Não pense nunca que eu trocaria nossa vida, nossa família, depois de tudo o que superamos juntos por uma noite qualquer.

Suspirei sentindo seu abraço, e retribui segundos depois. Suas palavras me trouxeram conforto e segurança, e naquele momento metade da minha dúvida esvaiu-se do meu peito.


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