242 - Conversa

Estava decidida á ir atrás de Luan. Apenas adiaria em um dia a minha viagem para acompanha-lo. Liguei para Heman. Em outros tempos eu ligaria para Rober, mas ainda não havia o perdoado. Heman me adiantou que Luan estava impossível de lidar naquele dia, e até tentou me fazer esperar até a poeira abaixar, o que foi em vão. Combinei tudo com ele. Chegaria a cidade de seu show – interior de São Paulo – quando ele não estivesse mais no hotel. Liguei também para a minha cunhada. Ela me chamou de louca por tudo o que estava rolando, mas se ofereceu em me ajudar quando se dispôs a ir também para o show do irmão. Por mais que Luan de mal humor fosse quase irreconhecível, se tinha alguém – além de Nicole – que conseguia adoçar ele, essa pessoa era sua irmã.


Liguei para sua equipe do escritório também. Levei um baita sermão. Queria ajudar a consertar as coisas na internet. Fui aconselhada a uma desabafo, e após arrumar minhas coisas e dos meus filhos, me permiti cinco minutos para o fazer. Escolhi uma das minhas fotos mais recentes com Luan para publicar como fui instruída á fazer.


“Em primeiro lugar gostaria de deixar mais do que claro, que a minha relação com o meu marido sempre foi feita na base da confiança e do respeito. O que rola nas nossas vidas pessoais, deveria então ser de cunho somente nosso, mas diante de tantas notícias falsas e palavras sem conhecimento, vim aqui para deixar claro que não, Não estamos nos separando. É meu direito – assim como dele também – nos divertimos sem necessariamente estar na companhia do outro. Luan estava em outra cidade ontem, cumprindo sua agenda que vai além de shows. Estive presente em toda a preparação para a festa ocorrida ontem, e como qualquer outra pessoa á aproveitei ao máximo. Me excedi na bebida sim, (coisa que deveria ser problema apenas meu e do meu marido), porém não fiz nada além de me divertir me lembrando sempre a mulher comprometida e mãe de família que sou. Não cabe a ninguém além dele (Luan) se chatear/enfurecer ou ter qualquer outra reação quanto aos acontecimentos da noite passada. Resta-me dizer que nos amamos, nos respeitamos e confiamos um no outro. Sou uma mulher casada, porém livre e conhecedora de todas os meus atos. O machismo existe porque ainda há mulheres que o praticam. O que fiz ontem, acontece todos os dias com milhares de homens casados. Se divertir não é traição ou falta de respeito. Grata desde já coma preocupação de todos com a minha vida e o meu casamento.”

Laís: - Não acha que foi grossa? – perguntou em dúvida enquanto vestia Nic pra mim

Duda: - Você acha?

Laís: - Um pouco. Luan não vai curtir muito isso. Ele é mais do tipo “abstrair e fingir demência”.

Duda: - Foi a equipe dele quem...

Laís: - Ele quase nunca faz o que eles pedem. – riu

Duda: - Bom, mandei pra central. Se ele acharem que devem, eles postam. – dei de ombros – Agora me dá minha gorducha aqui.


[...]

Estava quase enlouquecendo enquanto esperava por meu avião. A central publicou a foto com meu “desabafo” em minha conta e aquilo era o assunto do momento. Meu celular chovia notificações e até Luan havia curtido a postagem. Com toda certeza ele estava perdido com tudo isso, afinal, eu se quer liguei pra ele ainda.

Foi autorizada a nossa entrada no avião e após me despedir de todos, fui com meus pequenos para nossas poltronas. Nicole dormia serena, e Arthur vigiava cada ato meu... isso nos primeiros dez minutos de voo, logo ele também dormia profundo.

Chegamos já era noite. Um carro nos esperava e fomos direto para o hotel onde Bruna já se encontrava.

Duda: - O que tá fazendo aqui? Não ia pro show? – perguntei confusa enquanto á abraçava

Bruna: - Eu vou. Só queria dar um cheiro neles primeiro. – disse tirando Nic do meu colo. Á pequena choramingou, mas logo aceitou o colo da tia

Arthur: - Você ainda vai? Eu posso ir?

Bruna: - É melhor ficar por aqui gatinho. Tenho que acalmar seu pai antes de mais nada. – sorriu pra ele – Olha, aqui o cartão do quarto dele. – entregou-me – Vou vir antes dele. Nas últimas músicas eu já estou de saída. Vou ficar com os dois para que conversem. Então, deixa as coisinhas deles no meu quarto.

Assenti e Bruna tirou seu cartão de acesso da bolsa me entregando. Trocou mais algumas palavras com Arthur, encheu ele e Nic de beijos e logo partiu antes que o segurança que a acompanhava á matasse com o olhar.

Estávamos todos com fome. Alimentei Nicole primeiro e logo eu e Arthur pedimos uma pizza. Preferimos ficar no quarto de Bruna por enquanto. O tempo passou rápido, Arthur me fez esquecer um pouco a tensão que eu estava, logo Bruna chegou.

Bruna: - Ele deve estar saindo de lá. O trânsito esta ao seu favor, então, tchau e boa sorte. – disse se deitando ao lado de Arthur.

Duda: - Ele, como esta?

Bruna: - Com uma cara péssima e de mal com o mundo. – fez certa

Suspirei e assenti. Peguei minhas coisas e fui para o quarto de Luan que ficava no mesmo andar.

Não tinha ideia do que fazer. Eu ainda estava de jeans e blusa de frio, o cabelo amarrado e sem nenhum maquiagem. Num lampejo de loucura decidi me arrumar para ele. Quem sabe isso contava ao meu favor. Corri para o banheiro e me perfumei. Dentre as coisas que trouxe, procurei por uma camisola nova. Apesar de curta, era comportada e tinha lá seu toque de sedução, mas nada muito explícito. Era branca, e talvez seja pelo fato de que eu estava louca pela paz entre nós.
Sabia como ele chegava cansado, deixei preparada então sua roupa de dormir e pedi algo leve para ele comer. Meu pedido foi atendido antes dele chegar. Estava o organizando sob a mesa quando a porta do seu quarto abriu. Luan visivelmente levou um susto. Me encarou sem expressão e voltou a falar ao celular.

Luan: - Tudo bem... certo... cheguei no hotel agora... ta bom... pra você também... beijo. – Luan encerrou a ligação com uma risadinha, mas assim que me olhou voltou a sua expressão impassível.

Duda: - Eu pedi pra você. – murmurei olhando a comida, apesar de me roer em curiosidade sobre com quem ele estava falando

Luan: - Eu já comi. – disse seco, antes de observar o quarto – Cadê as crianças?

Duda: - Com a Bruna.

Luan se sentou ao pé da cama para tirar o sapato, sem graça me aproximei, e ele enfim me observou. Detalhadamente por sinal. Da cabeça aos pés. Soltou um suspiro e levantou-se.

Luan: - Vou tomar um banho.

Assenti sem nada dizer. Não sabia como começar aquela conversa. Eu estava errada, e essa situação invertida me deixava sem jeito.

Ele saiu do banheiro e vestiu a roupa a qual eu já havia separado. Sentou-se em silêncio e começou a comer enquanto mexia em seu celular. Suspirei sentada da cama, com ele de costas pra mim e enfim tomei coragem.

Duda: - Me desculpa! Eu abusei da sua paciência e boa vontade. Fui imatura e agi errado.

Luan continuou intacto. Comecei a ficar impaciente quando ele finalmente se virou pra mim. Da sua cadeira me olhou seriamente.

Luan: - Eu tô muito puto com você!

Duda: - Eu sei. E você tem toda razão. Mas quero que saiba que eu não fiz nada que desrespeitasse nosso casamento...

Luan: - Tem certeza? – interrompeu-me irônico

Duda: - Eu bebi demais. Não vou mais fazer isso.

Luan passou a mão pelo rosto impaciente e respirou fundo olhando pra cima. Quando voltou a me encarar era visível sua raiva.

Luan: - Não tive um minuto de paz hoje. O dia inteiro a central no meu ouvido pelas merdas daquelas fotos. Você não é criança Duda. E eu não sou seu pai pra te repreender por algo. Você deveria saber os nosso limites. E esfregar a bunda naquele filho da puta com certeza ultrapassa todos os meus!

Duda: - Eu não esfreguei a bunda no Renan! Não me esfreguei nele e em ninguém! – me defendi ofendida

Luan: - Não é o que mostra nas fotos. Sem contar naquele vestido... Onde você tava com a cabeça Eduarda? Que porra acha que tava fazendo naquela festa?

Ele me chamar de “Eduarda” não era um bom sinal, e eu sabia que ele já estava em seu limite para não explodir de vez comigo. Eu tinha de ser ainda mais cuidadosa.

Duda: - Amor...

Luan: - Não vem com essa de amor! – pediu irritado

Duda: - Me desculpa. Por favor. Eu bebi muito, dancei, fiz coisas que não deveria ter feito mas juro que não me esfreguei em ninguém. Juro que não fiz nada que te expusesse ao ridículo. Poxa, eu só extrapolei. Dançar e me divertir não é pecado!

Luan: - É muito fácil a situação invertida Duda, muito fácil. – riu negando e se levantou, mexendo em seu cabelo nervosamente – Vou colocar uma puta gostosa pra dançar pra mim e sair fazendo showzinho comigo te expondo ao ridículo. Ai quero ver você me dizer se é pecado ou não.

Respirei fundo e fui atrás dele que á essas alturas já estava na sacada do nosso quarto. Só de bermuda, sua pele estava toda arrepiada pelo vento frio. Abracei-o por trás e beijei suas costas.

Duda: - Eu sei. Você esta completamente certo. Eu não gostaria nada. Não tiro sua razão.

Luan nada disse, escorei minha cabeça em suas costas e assim ficamos por longos quinze minutos, até ele tirar meus braços dele e voltar carrancudo pro quarto. O vi colocar seu celular para carregar e ir para a cama em seguida, fui também e tentei puxar assunto.

Duda: - Eu mudei o cabelo... você gostou? – murmurei sem jeito. Luan se virou e me encarou por alguns segundos sem nenhuma expressão.

Quando achei que ele me responderia, apenas puxou mais sua coberta e se virou de costas murmurando um mais que seco “boa noite”.

Não consegui pegar no sono, ao contrário dele que meia hora depois estava em um sono profundo. Eu estava errada, e queria concertar aquela situação. A madrugada já estava em seu fim quando um choro alto me assustou. O reconheceria de qualquer lugar. Era Nicole. Levantei da cama num pulo e quando abri a porta para ir até o quarto de Bruna, dei de cara com a minha cunhada segurando uma Nicole vermelha e quase sem fôlego de tanto chorar.

Duda: - O que houve? – á peguei preocupada

Bruna: - Me desculpa, por favor! Eu acordei com o choro dela. Ela caiu da cama á uns três minutos já e não para de chorar. Eu tô com medo! Ela bateu a cabecinha. 

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