252 - Tentando Outra Vez

Peguei as duas malas com todo o meu pesar e segui para a casa dos meus pais. Assim que adentrei a primeira pessoa que vi foi a Bruna. Seus olhos se arregalaram e ela paralisou levando a mão a boca para conter seu gritinho histérico.

Bruna: - O que houve com você? - franzi o cenho confuso e ela se aproximou mais - Tá com a blusa todo arregaçada, cheio de vergões no rosto e pescoço... ai meu Deus... você e a Duda...?

Minha irmã não terminou de falar, deixei as malas caírem no chão e meus pais chegaram com a Nic nos braços. O choque de ambos foi visível.

Marizete: - O que aconteceu com você? - perguntou preocupada, a voz baixa e o olhar caído. Nic dormia em seu ombro e ver minha pequena só quebrou ainda mais meu coração.

Luan: - Eu não quero conversar sobre isso agora. - engoli em seco - Vou tomar um banho e me arrumar. Tenho show ainda. Você me leva até o aeroporto? - perguntei ao meu pai que ainda me olha estático.

Amarildo: - Você não vai fazer show hoje! Tá todo cheio de arranhão, machucado e dá pra qualquer um perceber que estava em uma briga! Não vamos piorar as coisas pra sua reputação.

Luan: - Tanto faz! - dei de ombros engolindo minha dor. - Eu vou subir.

Ninguém disse nada. Me conheciam o suficiente para saberem que quando eu me decidia calar, nada me arrancava nada. Passei por minha mãe que tinha os olhos marejados e beijei a cabecinha da minha filha antes de subir para o meu antigo quarto. Abri a porta e me surpreendi ao ver meu filho deitado em minha cama enquanto mexia em seu tablet. Arthur não esboçou nenhuma reação ao me ver. Simplesmente desviou o olhar e voltou a mexer no seu aparelho. Suspirei sentindo minha cabeça latejar. Arthur já era um rapaz e entendia tudo o que estava havendo. Sem mais pensar apenas entrei em meu banheiro e me olhei no espelho. Duda fez um estrago feio em mim com suas unhas e tapas. Eu ainda não os sentia doer, por mais que cada vez mais vergões começassem a aparecer, a dor em meu peito era superior, fazendo a física inexistir. Engoli a vontade de gritar e todo o meu orgulho ferido. Tirei minha blusa toda desfeita por seus puxões e á joguei no cesto de lixo. De calça jeans mesmo adentrei meu box e deixei a água cair. Senti arder meus ombros onde descobri também ter seus arranhões. Fechei os olhos e deixei as lágrimas caírem. Meu casamento estava indo por entre meus dedos e eu não fazia idéia de como impedir isso. Comecei a soluçar sem me dar conta e me sentei no chão do banheiro, deixando a água cair em mim. Levei um susto ao sentir algo macio tocando meus ombros. Abri meus olhos rápido e vi meu filho todo molhado ensaboando meus machucados. Ele não me olhou de volta e apenas continuou á me ensaboar.

Luan: - Eu não fiz nada do que estão dizendo Arthur. - murmurei com a dor em minha voz. Ele não me respondeu

Arthur: - Acho que a vovó deve ter alguma pomada pra passar nisso. - disse depois de uns minutos em silêncio.

Meu filho também não acreditava em mim, e isso só me fez desabar mais ainda.

*Duda Narrando

Ainda estava no chão da sala, chorando abraçada aos meus joelhos enquanto sentia toda  a dor se apossar de mim. Olhei ao meu redor e me vi sozinha. Meu casamento foi desfeito em pedaços, e com ele, boa parte da minha vida também.

Não vi como Bruna chegou, só senti seu abraço apertado em mim.

Bruna: - Vem... você precisa de um banho. - disse cuidadosa me ajudando a me levantar

Bruna não dizia uma palavra, apenas me ajudou em meu banho e me colocou em um roupão me deixando na cama.

Bruna: - Ele chegou em casa e...

Duda: - Não fala dele, por favor... - pedi em um sussurro

Bruna: - Só quero que saiba que ele tá tão destruído com isso tudo quanto você...

Não dissemos mais nenhuma palavra. Bruna me deixou só alguns segundos e me trouxe dois comprimidos. Os tomei mesmo sem saber o que era e voltei e me deitar. Eu parecia estar anestesiada agora, e nada se passava em minha mente além da decepção que havia sofrido.

*Luan Narrando

Meu pai veio até o meu quarto. Tentou me deixar a par das medidas que a central estava tomando para tentar reverter toda essa história. Ele falava, falava e falava e nada ficava fixo em minha mente, exceto a minha preocupação com Duda e nossa relação.

Amarildo: - Sei que não está ouvindo nada do que estou dizendo. Mas Bruna esta com ela, ela não está só.

Assenti sem nada dizer e continuei encarando a parede a minha frente. Meu pai colocou a mão em meu ombro e suspirou antes de me perguntar.

Amarildo: - Há algo mais que eu deva me preocupar? Ou somente esse vídeo? Eu vou o fazer sumir filho, eu prometo!

Olhei sem nenhuma reação para o meu pai e neguei com a cabeça.

Luan: - Você também acha que existe esse vídeo? - perguntei rouco de tanto chorar no banho..

Amarildo: - Eu não...

Luan: - Eu não trai ela pai! - falei enfático

Amarildo: - Sou seu pai e seu amigo Luan. Seja sincero comigo, eu não vou te julgar. Tenho que saber o que realmente houve pra poder te ajudar.

Luan:- Não aconteceu nada pai! Nada! Quem realmente ficou com elas foi o Welligton, e se existe algum vídeo delas, esse vídeo é delas com o Well, não comigo! - suspirei me jogando na cama

Meu pai assentiu constrangido e me encarou sem jeito enquanto eu olhava pro teto.

Amarildo: - Sabe que por mais que ela deva acreditar e confiar em você, ela não está tão errada em decidir isso não é? Poxa, eu que sou seu pai fiquei um pouco... confuso!

Passei a mão em meu rosto sem responder e respirei fundo. Não queria mais tocar nesse assunto. Só queria dormir e acordar em uma realidade completamente oposta.

Luan: - O que disseram para adiar o show?

Amarildo: - Problemas aéreos. - deu de ombros e eu assenti. - Uma dermatologista virá aqui amanhã pra vermos como resolver logo esses hematomas em você.

Instantaneamente me lembrei das marcas das minhas mãos nos braços de Duda e suspirei fechando os olhos. Pedi pro meu pai me deixar sozinho e assim ele o fez.

Luan: - Que merda o senhor está fazendo com a minha vida meu Deus? - sussurrei baixinho

[....]

Tentei dormir de todas as formas possíveis. O sono não aparecia e eu rolava de um lado para o outro. Olhei no relógio da minha escrivaninha e já se passava das duas da madrugada quando ouvi minha irmã voltar para casa. Não mais me segurei. Eu precisava falar com Duda. Consegui ser o mais silencioso possível e sai de casa sem que ninguém notasse. Usei o carro do meu pai e logo estava frente a "nossa" casa.

Tirei a chave do meu bolso receoso, e sendo o mais silencioso possível eu adentrei ali. Não havia mais nenhum resquício do meu celular no chão, e tudo parecia na mais perfeita ordem. Só podia ser coisa da Bruna. Segui para o andar de cima e encontrei a porta do quarto que tantas vezes dividimos aberta. Somente o abajur estava aceso e eu podia ver sua silhueta adormecida na cama. Ela estava coberta só por um roupão e aparentava uma serenidade invejável. Suspirei me dando conto do quanto mesmo sem ter culpa alguma eu machuquei essa mulher.

Sentei na beirada da cama e tentei pensar em uma forma de fazê-la acreditar em mim. Meu coração já estava em completa agonia em pensar na hipótese dela não me ouvir.

Tomei coragem e toquei sua perna desnuda. Duda apenas se mexeu de leve.

Luan: - Amor... - a chamei baixinho, continuando a acariciá-la. Finalmente ela despertou e não pareceu muito surpresa em me ver ali. Apesar da meia luz não nos permitir muito, era visível seu rosto inchado do choro, não muito diferente do meu. - A gente precisa conversar. - pedi baixinho.

*Duda Narrando

Acordei do meu sono leve com mãos macias em mim e um chamar suave. Sabia que era ele. Abri meus olhos sentindo minha cabeça latejar e vi sua silhueta sentada na beira da cama no escuro. Não foi possível ver seus olhos, mas toda sua postura estava caída.

Eu não disse nada, apenas me endireitei o suficiente para negar o seu toque e esperei o que ele tinha a me dizer.

Luan: - Você tem que acreditar em mim. Eu não tenho nada a ver com isso. Quem realmente ficou com essas mulheres foi o Wellington. Não tive nenhum contato com elas além de uma foto no camarim e a maldita carona que eu também nem sabia que iria acontecer. Eu juro que não sei como agora Duda, já quebrei minha cabeça tentando encontrar uma maneira, mas eu vou te provar que tô falando a verdade! 

Duda: - Não perca seu  tempo Luan. - respondi tão baixo quanto ele, abaixei minha cabeça e comecei a brincar com a fronha do travesseiro em meu colo - Olha, sabemos o que realmente aconteceu, não tenta me enganar mais, por favor..! - pedi em uma súplica - Assume isso logo e vamos cada um viver a sua vida. - pedi sentindo o choro embargar a minha voz. Luan sentou-se mais próximo a mim, agora acostumada a escuridão eu podia ver seus olhos brilhantes. Era visível sua angústia

Luan: - Eu juro por tudo o que é mais sagrado nessa terra que eu tô te falando a verdade Duda. Acredita em  mim! Me mostra esse maldito vídeo que te enviaram que eu vou te provar que é algum tipo profissional e idiota de montagem! A gente vai no especialista que você quiser!

Duda: - Eu não cheguei a ver o vídeo. - murmurei sem o encarar.

Luan: - O que? E ta acreditando com base em que Duda? Caramba amor, você sabe como a mídia e as pessoas são. Eles fazem de tudo por fama e dinheiro! Você é mais esperta que isso amor, não deixa isso entrar na sua mente, por favor. - suplicou segurando minhas mãos entre as suas. De forma rápida as tirei. Luan me olhou parecendo sentir dor. Ele enxergou meu celular no criado mudo e o pegou o desbloqueado. O vi abrir conversa por conversa e baixar todos os vídeos os quais eu evitei. A cada um que se iniciava eu fechava meus olhos com medo do que iria ver. - Duda, não tem vídeo nenhum aqui. - sussurrou angustiado. - Olha pra mim, por favor.

Abri meus olhos sentindo minhas lágrimas descerem.

Duda: - Não importa Luan. Com ou sem vídeo minha confiança acabou de ir ralo a baixo. Eu não confio mais em você, e um casamento sem confiança é impossível.

Minhas palavras foram como tapas na cara de Luan, e ele se quer disfarçou isso. Ele parecia verdadeiramente arrependido do que fez, mas nada apagaria toda a minha dor e decepção. O vi engolir em seco e encarar o meu celular.

Luan: - Você tem certeza que quer acabar com o nosso casamento com base em um vídeo que você se quer sabe que existe? Eu estou tentando te provar que não existe, mas se você quer acreditar no contrário, tudo bem.... Mas você tem certeza do que está fazendo?

Duda: - Você não entende? Não é só sobre o vídeo caramba! É sobre tudo! Você... você me machucou de uma forma que eu jamais imaginei ser machucada. Pegou o meu coração e fez de brinquedo. Você me magoou da forma mais dura que um homem é capaz e juro que eu esperava isso até do meu pai, mas menos de você! Eu te entreguei todo o meu amor e confiança. Te entreguei a minha vida e vivi pra você... e olha o que recebi em troca Luan? Uma vida cheia de turbulências, de gente tentando nos atrapalhar, de mentiras, enganações, traições...! - solucei

Luan: -  Você não vê? Não vê que essa é só mais uma tentativa de alguém em afastar a gente? Acredita em mim pelo amor dos nossos filhos, pela nossa família Duda!

Vi Luan derramar algumas lágrimas desesperadas, e por mais que eu quisesse eu não conseguia acreditar nele.

Duda: - Você acha que está sendo fácil pra mim? Você realmente acha que saí da nossa casa no Rio sem pensar em tudo? Eu pensei em cada maldito dia das nossas vidas. Pensei em cada momento, cada detalhe. Pensei tanto em nossos filhos que quase desisti de vir. Mas ai me dei conta Luan, que desde que você ressurgiu em minha vida eu não faço nada mais pensando em mim. Não dou um passo só por mim. Pela primeira vez depois de anos me coloquei em primeiro lugar. Eu não seria digna de respeito se continuasse dividindo a cama por mais um dia com você.

Luan: -Não fala assim...

Duda: - Você sabe que é verdade! Você sabe o que fez e sabe que...

Luan: -  Eu não fiz nada! Quantas vezes vou ter que repetir isso Duda? - perguntou agoniado

Duda: - Enquanto toda a nossa vida era exposta ao ridículo, enquanto eu era taxada de chifruda do ano e sendo humilhada nacionalmente, você se quer teve a decência de me procurar! Eu coloco tudo atrás das suas vontades e você se quer uma vez me colocou a frente dos seus sonhos. Você me fez ficar o dia todo sendo humilhada e se quer me pediu perdão Luan. Se quer teve a decência de me ligar. Cadê o seu respeito por mim?

Luan: - Eu juro que não fazia idéia do que estava havendo. O Rober quem...

Duda; - Não coloca o nome desse cara aqui! Eu já estou certa o suficiente da merda que fez, não me faz ter ainda mais convicção.

Luan: - O que eu tenho que fazer pra você acreditar em mim ein? Pelo amor de Deus amor, me dá uma luz. Confia em mim, na gente, em tudo o que a gente viveu juntos! Me deixa te provar que eu não tenho nada com essa história! - pediu tentando segurar minhas mãos novamente

Duda: - Negar até a morte não te faz mais santo. Muito pelo contrário.

Luan: - Eu não vou assumir algo que não fiz.

Duda: - Não torna as coisas ainda mais difíceis. - enxuguei minhas lágrimas com calma - Vamos fazer essa separação ser amigável, por nossos filhos. - pedi sentindo meu peito arder

Luan: - Não fala em separação, pelo amor de Deus Duda, não faz isso com a gente.

Duda: - Eu vou ficar aqui em São Paulo, você pode visitar as crianças nas sua folga. Eu até as levo pra você quando não puder vir... só... não dificulta as coisas, por favor!...

Luan: - Para! Para de dizer essas coisas sem sentido - me interrompeu em desespero

Duda: - Eu não quero nada de você, não quero nenhum bem e você pode ficar tranquilo quanto á isso. Vou me desligar do escritório e...

Luan: - Para Duda, por favor, para!

Sua voz era de choro e essa foi uma das únicas vezes que o vi assim, chorando feito uma criança com a cabeça em mãos. Não disse mais nada, apenas permaneci em silêncio, sentindo minhas lágrimas caírem enquanto ouvia ele repetir baixinho em meio ao choro que não havia feito nada... mas eu estava tão quebrada que naquele momento eu não me importava. Toda a confiança que tinha nele havia evaporado. Todo o brilho que irradiava em meu ser por ele se apagou. O encanto, a magia, a paixão... ficou somente a decepção e a dor, e eu não sei se seria capaz de sobreviver á isso. Luan havia literalmente arrebentado com uma parte de mim.