253 - Planos Extraviados

Havia se passado exatos cinco dias desde que Duda me chutou da sua vida. Desde então eu usava de todos os meus recursos para conseguir a gravação do hotel ao qual provava que eu nunca estive em um quarto acompanhado. Mas essas coisas eram mais burocráticas do que pareciam, e á cada dia mais meu casamento ia se perdendo.

Rober: - Você já tentou falar com ela de novo?

Luan: - Ela não me dá brechas. Se toco no assunto ela desliga ou me corta. Só me deixa falar a respeito das crianças. - suspirei cansado

Rober: - O Arthur voltou a falar normal contigo?

Luan: - Não. Ele até tenta, mas não consegue agir naturalmente. - suspirei - Minha vida tá um inferno Rober, e o pior é que eu não faço idéia de como concertar!

Rober não disse mais nada. Não havia o que dizer. Fiquei encarando o teto enquanto sentia minha cabeça latejar. Ela não parava de doer desde os últimos acontecimentos. Peguei meu celular e vi uma mensagem do meu pai. Ele me dizia ter boas notícias e pela primeira vez nos últimos dias me permiti dar uma animada.

*Duda Narrando

Estava reorganizando minha vida em São Paulo. Arthur estava de férias e isso era extremamente vantajoso para a nossa situação. Por mais nenhum minuto meu filho me deixou só, e se mostrava preocupado a todo instante. Eu tinha de disfarçar, e por ele por várias vezes chorei escondida no banheiro. Desde a última noite que implorei para que Luan me deixasse, eu mais parecia um caco! Luan antes de sair me jurou me mostrar a verdade, mas depois de quase uma semana eu já não tinha nenhuma esperança de que tudo não passasse de armação. Dessa vez os papéis se inverteram e era eu quem não acreditava em Luan. Quando fiquei grávida de Nicole, passamos pela mesma situação, mas tudo agora parecia mais intenso dado em conta o nível do nosso relacionamento.

Arthur: - A tia Bruna não vem hoje? - perguntou estranhando a ausência da tia que vinha todos os dias nos ver

Duda: - É aniversário de namoro. Ele foi encontrar o Breno na cidade do show de hoje. - dei de ombros me sentando com ele e Nic no gramado da nosso jardim

Tentei me distrair brincando com meus filhos. Nicole estava cada vez mais sapeca em seus passinhos, e me arrancava inúmeros sorrisos com o seu jeitinho de menina. Fomos interrompidos de nossas brincadeiras com o meu celular tocando. O peguei do bolso do meu short  e atendi sem olhar á quem.

- Boa tarde. Eu falo com Maria Eduarda?

Estranhei a formalidade e antes de respondeu tirei o celular da orelha para olhar o identificador de chamadas. Droga! Era da agência de viagens que estavam planejando meu mochilão e de Luan.

Duda: - É ela sim, o que deseja?

Fui informada que estava tudo pronto para a nossa viagem a dois, e me surpreendi quando ela me lembrou o quão próxima estava: dentro de dois dias!

- O seu esposo já deixou tudo pago á algumas semanas, então creio que estão de prontidão para a viagem. O nosso representante que os aguarda já trocou toda a quantia em dinheiro enviada e está tudo da forma como planejaram. A senhora não terá nenhuma preocupação com nada, é só fornecer a documentação da senhora ou do seu esposo.

Duda: - Não precisa ser dos dois?

- Não necessariamente. Ele deixou tudo acordado da senhora ter livre decisão e meios á tudo.

Assenti em silêncio sentimento minha cabeça fervilhar. Esclareci mais algumas dúvidas e fiquei pensativa. De forma alguma eu realizaria essa viagem com Luan. Mas também não poderia deixar ir por água toda a grana que ele investiu nessa viagem já toda paga.

Duda: - Arthur? - o chamei e ele tirou a atenção da irmã para me encarar.

Arthur: - Oi?

Duda: - Você ficaria chateado se a mamãe fosse realmente viajar?

Arthur: - Aquela viagem com meu pai?

Duda: - Sim... mas sem ele. - mordi o lábio receosa. Arthur me olhou sério e pareceu me analisar

Arthur: - E você iria sozinha?

Duda: - Não! Pensei em chamar outra pessoa. Você ficaria magoado com a mamãe? - perguntei tirando a grama da mão de Nicole que tentava á colocar na boca

Arthur: - Eu queria muito viajar, mas ouvi minha vó dizer sobre você precisar de um tempo pra você. Eu sei que você chora escondido no banheiro todos os dias, e se essa viajem for te fazer feliz, eu não me importo! Desde que você prometa voltar logo!

Senti meus olhos marejarem ao ver o tamanho do coração e da maturidade do meu filho. Ele realmente está virando um rapaz! O abracei apertado e beijei o topo da sua cabeça.

Duda: - Você quer ficar em Campo Grande com seu avô ou aqui com a Mari?

Arthur: -  O meu pai vai estar de folga esses dias né? E como ele não vai viajar... - respirou fundo - Eu quero ir para o meu vô Pedro! - disse decidido e eu o soltei para o analisar

Duda: - Você não pode ficar assim com o seu pai! - o repreendi com jeito

Arthur: - Ele só te magoa mãe. Eu achei que agora ia ser diferente. Não gosto de ver triste pelos cantos. Meu avô sempre me disse pra cuidar de você desde que fomos embora da casa dele... meu pai não facilita minha missão!

Duda: - Arthur, olha pra mim! - pedi segurando seu rosto - Eu e seu pai somos adultos! Somos nós quem temos que cuidar de você e nunca ao contrário. Você não pode ficar com raiva do seu pai por uma coisa...

Arthur: - Eu não estou com raiva! - interrompeu-me carrancudo - Eu estou desapontado!

Duda: - O que é a mesma coisa!

Arthur: - Não é não...

Parei de discutir com Arthur quando vi que Nicole dava seus passinhos tortos rumo á piscina, voltei a minha atenção a minha mini terrorista e decidi por hora esquecer aquele assunto.

*Luan Narrando

Mais dois dias angustiantes se passaram, e por fim recebi a notícia que deu paz ao meu coração: havíamos conseguido a gravação das câmeras do hotel que provavam a minha inocência em meio á toda aquela merda. Por mais que boa parte do meu coração estivesse extremamente decepcionado por Duda não confiar em mim, eu devia isso á ela, eu fiz exatamente a mesma coisa quando ela estava grávida de Arthur, e agora era eu quem implorava para que ela vesse a verdade á tua frente.

Estava no Rio, terminando de gravar meu programa quando Arleyde puxou assunto em uma das minhas pausas.

Arleyde: - Como você renegociou a sua viagem?

Luan: - Que viagem? - perguntei confuso. A única viagem que estava em minha cabeça era á que eu faria assim que saísse daqui para ir direto á São Paulo mostrar o vídeo á Duda.

Arleyde: - Oras, que viagem? Você não ia fazer o seu mochilão nessas suas folgas? Creio que a Duda desistiu e...

Puta que pariu! A nossa viagem! Com tantos problemas, tanta mídia e tanta gente querendo dar palpite em minha vida, me esqueci por completo dessa viagem! Meu coração se apertou ao me lembrar de planejarmos ela com tanto carinho e expectativa. Passei a mão em meu rosto e suspirei. Com toda certeza Duda não se encarregaria de cancelá-la, ela deixou claro que não queria seu nome envolvido em mais nada vinculado á mim.

Luan: - Droga! Pede meu pai pra renegociar isso se ainda houver tempo! Eu quero mais que tudo essa viagem, mas tenho que me acertar com a Duda primeiro!

Arleyde atendeu ao meu pedido. Desde a nossa discussão extremamente séria onde quase á demiti depois dela me esconder tudo o que estava havendo, ela andava quase beijando o chão onde eu pisava.

[...]

Havia comprado um celular novo depois de Duda destruir o meu, e tentava lhe ligar através dele para lhe dizer que eu estava voltando pra casa com a prova que ela tanto queria quando recebi outra ligação. Meu pai.

Luan: - Fala depressa, tô quase decolando. Conseguiu renegociar a viagem? Eles já tinham até trocado meu dinheiro!

Amarildo: - Não sei se vai gostar muito do que vou te falar, mas não deu pra cancelar não.

Luan: - E por quê?

Amarildo: - A Duda embarcou nessa manhã. Fez a viagem com um acompanhante e não pediu pra mudar nada. Nem mesmo a programação dos passeios românticos.